AGRICULTURA E VALOR AGREGADO
Uma tese de 30 anos atrás nos revela dados interessantíssimos. De um produto agrícola industrializado que compramos no supermercado, apenas 11% (onze por cento) é valor agregado pelo agricultor. Antes do plantio o produto custa 21% (vinte e um por cento, que são os valores das sementes, do maquinário, do preparo do solo etc. Os outros 68% ficam por conta do armazenamento, transporte, estocagem, industrialização, embalagem, comercialização, impostos etc. Os dados são do início dos anos 70, fornecidos pela Secretaria de Agricultura do estado americano de Oklahoma.
Interessante observar que esses dados apontam para o óbvio: O grande filão está na industrialização e não na produção em si. Enquanto no Brasil comemoramos o aumento na exportação de grãos, principalmente da soja, deveríamos estar preocupados em agregar valores aos produtos agrícolas. O agronegócio em si não é pequeno, mas o desenvolvimento maior é visível em regiões onde se transforma os grãos em carnes através da criação de aves e suínos. Já se chegou a afirmar que quanto mais se planta e se vende in natura, mais dependência se cria.
Grandes empresas já descobriram isso há muito tempo. A multinacional Nestlé, que produz e comercializa leite e muitos subprodutos do leite em mais de 200 países, apenas tem vacas em um campo experimental na Suíça. Vacas para pesquisas e não para a produção do leite em si. Eles deixam o trabalho pesado e mal remunerado para os produtores. Enfim, sabem que se pode ganhar dinheiro no agronegócio sem ser produtor.
De vez em quando ainda se ouve o lamento de algum amazônida falando sobre a borracha. Da seringueira que foi daqui pra Malásia e lá passou a ser plantada intensivamente, derrubando o preço da borracha. Se há 100 anos tivessem instalado indústria de pneus na Amazônia o impacto da queda nos preços da matéria prima teria sido amenizado. O preço baixo da matéria prima teria ajudado a indústria nesse jogo onde um perde e outro ganha individualmente, mas a região como um todo sofre menos.
Mas não foi apenas com a borracha que aconteceram essas “fugas”. A biopirataria talvez tenha começado no Peru, de onde saiu a batata e ganhou o mundo. Hoje cometemos a injustiça de chamá-la de Batata Inglesa, ou Batata Portuguesa. Também o cacau, oriundo da Amazônia, ganhou a Bahia e depois o mundo. A produção de cacau no Amazonas nos dias de hoje é pífia, a de chocolate, idem.
Assim como a Castanha do Brasil (que alguns ainda insistem em chamar de Castanha do Pará), o cacau também só é produzido em clima equatorial ou subequatorial e consumido em larga escala em regiões frias. Afinal, na linha do equador podemos dispensar certas calorias.
A preocupação com a biopirataria ainda é muito pouca. Esforços do Governo do Estado em estimular tecnologias que agreguem valor a produtos regionais podem dar resultado a médio e a longo prazo. A preocupação maior é com as indústrias do Pólo Industrial de Manaus ou o que elas possam trazer de benefícios. Embora sejam indústrias que nada tem a ver com a cultura amazonense, são elas que geram as riquezas do estado.
Ao analisarmos friamente a indústrias eletroeletrônica, de duas rodas e outras, chegaremos a conclusão que elas podem instalar-se em qualquer parte do mundo onde lhes seja mais vantajoso. Contudo, uma indústria que processa produtos da terra sempre fica mais bem instalada próxima ao centro produtor. O vai e vem de indústrias que vemos em Manaus, no Brasil e no mundo, nos faz concluir que elas estão sobre rodas. Mas as indústrias do agronegócio, mesmo trocando o controle acionário, dificilmente tem sua estrutura física movida do lugar.
Luiz Lauschner – Escritor e empresário
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