A contagem dos anos ao longo da história sempre gerou controvérsias, debates e até conflitos entre povos. Diferentes civilizações, como chineses, babilônios, romanos, muçulmanos e cristãos, adotavam sistemas próprios para datar o tempo, baseados em eventos culturais ou religiosos significativos, como a fundação de Roma ou a Hégira islâmica. Essa diversidade dificultava a sincronização de datas históricas, especialmente entre povos distantes, criando desafios para registrar eventos com precisão. Embora as diferenças entre calendários fossem significativas, não chegavam ao ponto de, numa mesma época, o ano 100 em um sistema corresponder ao ano 1000 em outro, como já se sugeriu de forma exagerada.

A unificação parcial dos calendários só ocorreu séculos depois, com a disseminação do calendário cristão, baseado no sistema Anno Domini (AD), proposto por Dionísio, o Exíguo, no século VI. Esse sistema, que toma o nascimento de Jesus Cristo como referência, foi amplamente adotado na Europa durante a Idade Média e, com o calendário gregoriano no século XVI, tornou-se o padrão global para fins civis, embora alguns países, como o Irã e a Tailândia, ainda usem calendários próprios em contextos específicos. A influência de Jesus de Nazaré, mesmo para povos que não o reconhecem como Messias, foi fundamental nesse processo, especialmente por meio da expansão da Igreja Cristã.

As datas exatas do nascimento e da morte de Jesus permanecem incertas. Estudos históricos sugerem que ele nasceu entre 6 e 4 a.C., com base em referências como o reinado de Herodes, o Grande, que morreu em 4 a.C. A escolha de 25 de dezembro como data de nascimento, estabelecida no século IV, tem raízes em festividades pagãs, como o Sol Invictus, e não em evidências históricas. Quanto à sua morte, a crucificação é geralmente datada entre 30 e 33 d.C., com base em registros sobre Pôncio Pilatos e eventos descritos nos evangelhos. Assim, em 2025, aproximadamente 2029 anos terão se passado desde o nascimento de Jesus, e cerca de 1992 anos desde sua morte. É importante notar que, no calendário cristão, não houve "Ano Zero", passando-se diretamente de 1 a.C. para 1 d.C.

A vida de Jesus é conhecida principalmente pelos evangelhos canônicos (Mateus, Marcos, Lucas e João), escritos entre 70 e 100 d.C., e por poucas fontes não cristãs, como os escritos de Flávio Josefo (Antiguidades Judaicas, c. 93 d.C.) e Tácito (Anais, c. 116 d.C.), que confirmam sua existência histórica. No entanto, a ausência de registros contemporâneos detalhados, como provas arqueológicas de sua casa ou túmulo, reflete a prática comum da época, em que a tradição oral predominava e apenas figuras de elite tinham suas vidas documentadas. A profissão de Jesus também é objeto de debate: os evangelhos o descrevem como tekton, termo grego que pode significar "carpinteiro" ou "construtor", sugerindo que ele e José, seu pai adotivo, poderiam ser pedreiros, uma ocupação valorizada na região.

A figura de Jesus, tanto histórica quanto religiosa, continua sendo um dos maiores enigmas da humanidade. Cientistas, arqueólogos, antropólogos e teólogos debatem intensamente sua vida, milagres e divindade. Para alguns, ele inspira esperança; para outros, dúvida ou até rejeição. Apesar de sua associação à paz, diferentes interpretações de sua mensagem geraram conflitos ao longo da história. Quando vivo, Jesus era um judeu comum, vivendo numa região dominada pelo Império Romano, onde costumes judaicos e romanos moldavam a sociedade. Ele pregava um Deus diferente, desafiando tanto as tradições judaicas quanto a autoridade romana, o que o tornou uma figura controversa: para os romanos, um agitador; para os judeus, uma ameaça; para o povo, uma esperança.

Um episódio arqueológico notável ocorreu em 1980, quando ossuários foram encontrados em Talpiot, Jerusalém, com inscrições como "Jesus, filho de José" e "Maria". Alguns sugeriram que pertenciam à família de Jesus, mas a maioria dos especialistas considera essa hipótese especulativa, já que os nomes eram comuns na época. Essa descoberta, amplamente divulgada, gerou debates, mas não abalou significativamente as crenças cristãs, que sustentam a ressurreição de Jesus sem deixar um corpo físico.

A imagem moderna de Jesus, com traços caucasianos, cabelos longos e olhos claros, é uma construção renascentista, moldada pela arte europeia a serviço do clero. Essa representação não reflete a provável aparência de um judeu do século I, que teria pele morena e traços semitas. O Sudário de Turim, apontado como possível relíquia, é contestado, com estudos de datação por carbono-14 sugerindo origem medieval, embora alguns defensores questionem esses resultados.

Negar a existência histórica de Jesus é uma posição minoritária entre estudiosos, dado o consenso baseado em fontes como os evangelhos e textos não cristãos. No entanto, debates sobre sua divindade, milagres e legado permanecem abertos e legítimos. Respeito todas as crenças – católica, protestante, judaica, islâmica, budista, espírita, umbandista – e vejo valor em qualquer fé que promova a ética e o bem comum. Acredito numa força maior, uma energia que sustenta a vida e inspira figuras iluminadas, como Jesus, que dedicaram suas existências ao bem.

O grande desafio atual não é discutir a santidade de Jesus, Maomé, Buda ou outros, mas combater falsos líderes que manipulam a fé para promover preconceito, exclusão ou medo. A verdadeira lição de figuras como Jesus está na prática do amor e da bondade. Se cada um de nós adotasse ao menos dois dos dez mandamentos – como "não matar" e "não roubar" – de forma genuína, já teríamos um mundo mais harmonioso.

No dia em que se lembra a morte de Jesus, proponho vê-lo como um exemplo de bondade e inspiração. Cada um de nós carrega um potencial divino, capaz de transformar vidas por meio de ações positivas. Que possamos focar no bem e na paz, honrando o legado de figuras que, independentemente de crenças, nos ensinam a sermos melhores.

Com votos de paz profunda,

 

CARLOS HENRIQUE MASCARENHAS PIRES


 
Fotos: Carlos Henrique Mascarenhas Pires – Serra da Piedade – Caeté – Minas Gerais.

 

Carlos Henrique Mascarenhas Pires
Enviado por Carlos Henrique Mascarenhas Pires em 10/04/2009
Reeditado em 25/05/2025
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