O JUDAS DE LEONARDO DA VINCI

Uma lenda de tempos idos, conta como Leonardo da Vinci teria pintado o quadro da Última Ceia. A narrativa diz que o mestre renascentista percorria as ruas de Florença, em busca de rostos anônimos na multidão, para inspirá-lo na composição dos personagens do famoso quadro. Um dia, conheceu, na feira da cidade, um jovem, cujo olhar tinha um ar de bondade e mistério, tão grandes, que o pintor decidiu imortalizá-lo como Jesus.

Noutra ocasião, encontrou, num porto do Rio Arno que corta a cidade de Florença, um pescador cujo rosto tinha os traços que sonhara para compor o apóstolo Pedro. Assim, o tempo foi passando, e o quadro tomando forma. Finalmente, estava quase pronto. Faltava apenas encontrar um rosto que servisse para compor o último personagem: aquele que entregou o Mestre por trinta moedas de prata. Entretanto, o que a princípio parecia ser tarefa fácil, acabou se mostrando morosa e complicada. Os anos passavam, sem que o famoso pintor encontrasse um rosto ideal para compor Judas. Um dia, porém, caminhando pelo cais, da Vinci, notou um homem que olhava em sua direção. Tinha uma aparência horrível! Cabelos desalinhados, barbudo, mal vestido e, um olhar assustador. Naquele momento, o Gênio da pintura renascentista percebeu que a busca chegara ao fim. Ali estava um Judas perfeito! Algum tempo depois, o homem posava em seu ateliê. Lá pela metade do trabalho, da Vinci notou lágrimas em seus olhos. Preocupado, quis saber o porquê de sua tristeza. Então, chorando copiosamente, explicou que seu sofrimento tinha a ver com as transformações que sua vida sofrera nos últimos anos. E, finalizando, disse: o senhor não está me reconhecendo, mas um dia eu estive sentado aqui, neste mesmo lugar, servindo como modelo para que o senhor pudesse pintar o rosto de Cristo.

Lázaro Alves

A criação deste texto foi baseada numa conversa com um ex-seminarista.