Irreality show
As emoções arquitetadas em laboratório em cárcere privado sob a mira de muitas câmeras e nenhuma privacidade, laboriosamente fabricadas ao gosto do público e do ibope.
Heróis e vilões confeccionados sem delicadeza pela edição de imagens, de cenas e, sobretudo pelo dialeto exibido pelas entrevistas e desabafos.
E, o pior que além de aviltar a dignidade humana, manipula também a honra subjetiva e os sentimentos de seus participantes. Que mesmo excluídos do jogo ainda são questionados e monitorados por perguntas clichês e patrulhamentos ideológicos. Todos vivem a ilusória fama dos quinze minutos...
Então o grande show consiste em lágrimas deseperadas em perdas seqüenciais e fundamentalmente em explorar até ao fundo a fragilidade do homem.
E o monitor cardíaco exibe orgulhoso na tela o aumento dos batimentos para dar maior certeza de haver comoção em estar no paredão ou em ver familiares ou conhecidos mesmo à distância manipulando os participantes stal qual ratos em laboratórios.
Aliás, se tornou obrigatório reconhecer em alto e bom som, todos os familiares. Só pena de solapar a importância do feito.
A crueldade com os animais para experimentação científica é limitada e por vezes até proibida por lei. Também a manipulação e a comercilização com a espécie humana é considerada crime pela Lei de Biossegurança, o mesmo se dá com os chamados direitos personalíssimos que são de índole indisponível e, portanto não podem ser objeto de nenhum transação quer comercial quer graciosa.
Já exploraram patologias humanas( abulimia, distúrbios do sono, dependências químicas), falhas de caráter, de informação e de cultura e até mesmo ingenuidade( foi o caso do namorado da Pedrita) e, agora o que falta ainda para explorar?
Explorar e tornar mesquinho e aviltante a convivência humana ainda que forçada.
Explorar a prostituição de corpos, carícias e sentidos que carentes de afeto e de referência se oferecem imolados ao altar do sacrifício sob a vista dos deuses populares do Olimpo.
Quantas vezes a sanidade foi condundida com insanidade e quantas vezes interpretamos errado tudo aquilo que só conseguimos ver apenas parcialmente...
Vivemos a nossa própria humanidade apenas parcialmente assim como também não alcançamos a visão tridimensional de tudo que há na vida...
A todos, restam as recomendações mais banais:
A vida não é ficcção, as emoções que valem não são as de laboratório e nem são brinquedos e nem falas e sentidos fazem parte de um roteiro inacabado que nem sequer foi escrito por vocês...
Vivam sem esta droga chamada reality show, onde a inqüidade humana é o astro principal.
A propósito, só assiste-se mesmo por causa de Pedro Bial, um jornalista inteligente, articulado que tirando leite das pedras, dá algum tom a garatuja escatológica do programa.
De qualquer maneira, ficamos sempre com impressão que ele poderia ser melhor aproveitado. Mas, resta uma esperança no final do túnel, pois afinal o BBB9 não teve boa audiência.
Rezemos para que o bom-senso e o oportunismo salutar repense melhor e retire do ar tal entretenimento bizarro.