MINHA SAGA

Quando seus ancestrais começaram povoar esta região, eu já tinha perdido na linha do tempo a noção de idade. E fui recebendo um a um com muito carinho.

Jamais fiz distinção de raça, cor, credo ou posição social.

Saciei a sede e a fome dos pioneiros que aqui chegavam cheios de esperança na sua luta pela conquista de uma vida melhor.

Quantos sonhos!...

Quando a ferrovia chegou foi uma festa só!

Havia gente capaz de cavalgar um dia inteiro, só p’ra ver de perto como era esse “tal de trem”.

E o progresso acontecia!

Chegavam famílias de tudo quanto é lugar. E, iam “fincando” suas raízes por aqui!

Eu gostava de ver o entusiasmo daquele povo. Eles me achavam bonito e me tratavam muito bem. Se bem que sempre havia os que não me davam a mínima. Muitas vezes até me maltratavam, mas eu mantinha-me firme e não reclamava.

Hoje, depois de tantos anos daquele tempo em que eu era formoso e forte, continuo dando o máximo de mim, sem nunca esmorecer ou demonstrar má vontade.

Contudo, a ignorância de certas pessoas tem me atingido de tal forma que já não é somente a minha beleza que está comprometida. Estou correndo risco de vida mesmo!

Muitos companheiros, que sempre viveram ao meu lado, estão desaparecendo e, não posso fazer nada!

Isso é muito triste! Fico estarrecido ao ver que existem pessoas, que mesmo sabendo que dependem de mim para sobreviver, agem como tolos e, não vêem que causando a minha morte, morrerão comigo!

Mas, ainda tenho esperança! E ela reside naqueles que formam o grupo dos que têm conscientização e, lutam para manter-me vivo.

Tenho esperança que consigam sensibilizar a comunidade e que esta por sua vez cobre das autoridades competentes, ações concretas e positivas para que as leis criadas para minha proteção deixem de ser letras mortas.

Quem sou eu? Ora, é fácil identificar-me! Meu registro de nascimento é de Siqueira Campos onde, de uma forma um tanto tímida, começo minhas atividades.

Atuo também nos municípios de Quatiguá, Joaquim Távora, Carlópolis, Santo Antônio da Platina, Jacarezinho, cujo nome me agrada, e só termino o meu trabalho quando entrego o serviço para meu irmão maior, o Rio das Cinzas, lá no município da Barra do Jacaré, cujo nome é uma homenagem.

Como já percebeu, eu sou o Rio Jacaré. Espero que você integre o grupo dos esclarecidos na luta pela recuperação e preservação da minha mata ciliar e das dos meus afluentes. Conto com você para evitar que continuem jogando lixo no meu leito! Conto com você para vencer o assoreamento que poderá matar-me de vez! Conto com você para proteger minha fauna! Conto com você, especialmente para que um dia seus netos possam desfrutar-me como seus ancestrais o fizeram no passado!

Conto com você!

Autor: Lázaro Alves

Artigo publicado em 2001.