A CONVOCADA ANATOMIA DO LIVRO (Palavras proferidas no salão do Conselho de Educação do Estado de Sergipe, durante homenagem prestada a Epifânio Dória, no dia do Livro, em 07/04/2009)
Fala-se muito sobre a “anatomia” do livro, o manusear o livro. A “anatomia” do computador é o mouse e o clicar. E o que seria psicologicamente mais promovedor de prazer, o papel ou o mouse?
Frise-se antes a existência de uma política de marketing, de um projeto pesado preparado para salvar a indústria livreira, apavorada pelo avanço tecnológico.
O prazer e a emoção promovidos pelo manuseio do livro na criança pós-moderna costumam ser passageiros, efêmeros, e atrelados a campanhas e projetos também fugazes. Os mesmos prazer e emoção proporcionados pelo computador são continuados. Compare-se, então, a diferença da alegria pelo livro nos anos 60 e a de hoje. Nos anos 60 o livro era uma maneira de o jovem, e o adulto também, viajarem, conhecerem e imergirem em mundos que lhes foram negados. Agora o computador, e a Internet, melhor dizendo, mostram o mundo colorido, em movimento e em tempo real.
Ninguém abandonou a leitura e nem a escrita, talvez hoje se leia e escreva até mais do que antes, na tela do monitor. Sem orientação, mas se lê e se escreve. Veja os exemplos do orkut e do MSN, pesquise a quantidade de e-mails e a de textos publicados nos blogs e sites.
A questão da utilização didática para a utilização das ferramentas da máquina e das possibilidades da Internet é que precisa ser trabalhada. Apesar dos cursos de novas tecnologias que teorizam e praticam mais o mecanismo, confundindo, em geral, o potencial com a máquina.
Só para exemplificar, universitários passam tempo considerável no Orkut, nos chats de relacionamentos, no MSN, mas desconhecem, por exemplo, o Googlebooks, um dos maiores empreendimentos desse site de pesquisa para colocar as melhores obras dos mais importantes pesquisadores e autores renomados à disposição dos internautas. É possível ler Geoffrey Chaucer, no original, François Villon, poeta da França medieval, e até as obras de filósofos doporte de Webber e Kant, textos relevantes que nunca estiveram ao nosso alcance em décadas anteriores.
Eu mesma me culpo da ignorância com que tratei a novidade tecnológica. E motivada justamente por aquele projeto intensivo de subvalorização da máquina e da web, no início do processo de expansão tecnológica. Entretanto, neste momento, o mundo feito de papel faz um approach impactante, ajustando-se ao virtual, pois, imagine o leitor, essa realidade, além de avançar celeremente, promove livros e jornais em formato virtual. A Literatura virtual, por sua vez, é um fato da maior importância e os mais poderosos jornais do mundo têm a sua edição eletrônica, e.g. El País, The New York Times, Herald Tribune, Corriere de la Sera e outros, e tantos e quantos e todos.
A Internet é palavra que deveria entrar para o dicionário como sinônimo de democracia. A democracia contém o Bem e o Mal. Cabe aos cidadãos a escolha, a eleição, o voto, a duplicação de mandatos e até o impeachment.
Cumpre, no caso da Educação, entrar com a contribuição da sistematização didático-pedagógica voltada para o uso proveitoso da maior e mais importante fonte de pesquisa e divulgação do conhecimento de todos os tempos. E até para que sites do tipo Domínio Público não tenham que ser desativados por falta de acesso. Pura ingenuidade e falta de conhecimento de causa e de pesquisa alguém afirmar que não dá credibilidade às fontes eletrônicas.
Eu acuso o passado de haver, inclusive, subtraído de nós o conhecimento dos saberes da cultura sergipana. Eu acuso o presente de nos manter analfabetos virtuais, excluídos e portadores da deficiência digital. Eu agradeço a WEB ter encontrado Sílvio Romero, Abelardo Romero, Tobias Barreto de Meneses, e tantos outros que não nos foram devidamente apresentados numa época em que os livros eram só para os ricos.
O livro ainda é caro e por isto o Ensino Superior e cursos de especialização sobrevivem da ilegalidade convertidas em apostilas. Nada contra o livro, mas aqui vai uma repreensão a quem não no-los deu a “mãos cheias”. Vivemos a era da informação, do conhecimento e dos livros e bibliotecas, tanto de papel quanto virtuais.