Sem marketing não há apoio políticos
Sem marketing não há apoio políticos
IVAN LOPES*
Na semana passada os poetas Helomar Gama e Gilmar Queiroz foram entrevistados pelo repórter Nato Lima, da TV Marco Zero de Laranjal do Jari. Na longa entrevista os membros fundadores da Academia Laranjalense de Letras (ALL) fizeram importantes destaques sobre o funcionamento da instituição e principalmente da biblioteca criada pelos confrades para atendimento aos moradores das Malvinas, bairro em que a mesma está instalada. Vanda Cabête é a única biblioteca a que o público de Laranjal do Jari, composto de mais de 40 mil habitantes, tem acesso na cidade e o seu nome é uma justa homenagem à saudosa professora e ex-diretora da Escola Mineko Hayashida.
Desde a sua implantação, a Biblioteca Vanda Cabête já atendeu mais de 5 mil moradores e estudantes em geral de Laranjal do Jari os quais tiveram acesso ao acervo de mais de três mil livros. A BVC é anexada a residência de Helomar e os atendimentos são prestados pelo próprio poeta ou por sua esposa, que também acabou contraindo a missão voluntária.
Dentre as declarações dos membros entrevistados, uma delas me chamou bastante atenção. De acordo com Helomar Gama, os políticos só aparecem na Biblioteca em períodos eleitorais. Pior ainda, há outros que usam do escárnio contra as condições modestas da instituição, num total desrespeito e desprezo pelo trabalho dos voluntários e pela população local, que pela ineficiência de seus governantes, não dispõe de uma biblioteca pública.
O próprio poeta justificou a ojeriza e o desinteresse dos políticos em contribuir para o melhor funcionamento da instituição. Segundo Helomar, o estatuto da Academia Laranjalense de Letras, entidade à qual está vinculada a BVC, não permite que os seus membros façam acordos partidários nem aceitem apoio em troca de publicidade de candidatos. O poeta e artista plástico lembrou ainda que muitos estudantes carentes que procuram a BVC para fazer pesquisas escolares não possuem cadernos, lápis e canetas para fazer as anotações necessárias. O voluntário não conta às vezes em que se comoveu com a situação das crianças e fez a doação com recursos próprios desses objetos escolares.
A falta de responsabilidade social e consciência pedagógica dos governantes os tornam insensíveis à importância dos serviços prestados pela BVC. Eles não conseguem compreender que aquela entidade fora implantada em face à incompetência daqueles que são os verdadeiros responsáveis pelos investimentos na educação pública e que a formação de cada cidadão depende muito mais dos professores e dos livros aos quais tem acesso do que da construção de prédios.
Aliás, gostaria que alguém se pronunciasse com respeito ao prédio de uma biblioteca que foi construída na área da Escola Estadual Nazaré Rodrigues, em Laranjal do Jari, e que fora destruída pelos vândalos antes de ser inaugurada. Na época, a obra teria custado mais de 100 mil reais, entretanto, teve a sua estrutura completamente destruída. As paredes estão pichadas, as vidraças foram quebradas, as instalações elétricas foram roubadas e pelo visto, ninguém foi responsabilizado. Especialmente aqueles que hostilizam o trabalho dos membros da ALL deveriam, por uma obrigação moral, nos prestar esclarecimentos sobre essa situação. Enquanto isso, a BVC continua funcionando de forma rústica, mas continua cumprindo rigorosamente a missão.
*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br - Acesse o site: www.recantodasletras.com.br/autores/ivanlopes).