A Verdade é Falsa

Não faz muito tempo, estava eu reunido com alguns colegas quando começamos a divagar sobre um tema da mais metafísica Filosofia: a verdade. Melhor: A Verdade, com toda a letra maiúscula que a mesma merece. Pois bem, a discussão se alongou um pouco, até que nos demos conta de que a verdade implicava em algo não-relativo. Ora, absoluto. Não podia ser relativo, porque não pode haver nada que seja verdadeiro e falso ao mesmo tempo, conforme já enuncia a Lógica clássica desnudada por Aristóteles dois milênios atrás. Contudo, a própria Relatividade contraria este pressuposto, mas não se levarmos em consideração que tudo que é relativo, precisa ser relativo em relação a alguma coisa, faz-se imprescindível um referencial.

E se a Verdade não é relativa, é universal. Muito bem, até este ponto, nada nos assustou naquela bem-fadada altercação. No entanto, quando nos propusemos a enumerar algumas verdades, sempre esbarrávamos no maldito referencial. O cunho absoluto intrínseco da Verdade parecia insuperável. Só o que podíamos era afirmar fatos verdadeiros; e mesquinhos por sinal. A conversa chegou a um fim, mas fui embora com uma sensação de impotência. De que havia valido o estudo se não fui capaz de vislumbrar uma verdade? Até a Matemática, a qual, por vezes, recorrêramos, necessita de seus postulados para não desabar.

Depois, aconteceu que a resposta veio dos gregos outra vez, mais especificamente de um deles: Platão. O que nossa vã inteligência enxerga são apenas deformações da Verdade, pequenos raios de luz que dela dimanam e que aquecem uma pequena parcela da realidade, que fazem aparecer para nós a diferença entre o falso e o verdadeiro. Enfim, não nos é dado conhecer a Verdade universal, nossa verdade fragmentada somada àquilo que nossa míope ciência já conseguiu averiguar é mundana. A Verdade soberana imperaria sobre todas as outras e ao mesmo tempo seria composta por elas.

Todavia, se agora me perguntam: ora, devemos então nos contentar e aceitar este fato? Responderei: aceitar, precisamos como primeiro passo, porém contentar não, ainda estamos muito aquém do que nossa capacidade pode conseguir. Também esta constatação deve servir para nos ensinar humildade, salvo engano, Newton disse certa vez que “o que sabemos é uma gota e o que ignoramos um oceano”. Ora, se estamos tão longe da verdade, não nos devemos arrogar o direito de decidir por ninguém ou de aceitar ou não o que alguém diz sem nem ouvir. Grande parte dos mais dolorosos conflitos pelos quais passou e passa a humanidade advém do fato de alguém querer fazer com que sua verdade seja absoluta, enquanto que já sabemos que nenhuma o é.

E quando indagamos a uma criança para que nos diga a verdade, como podemos querer que ela saiba, se a mentira que ela contou para se esquivar de algo nem se compara com as que contamos socialmente? Este é outro ponto: como desanuviar nosso conhecimento sobre a verdade se vivemos inundados por mentiras? Bom, mas não comecei a escrever este artigo com intuito moralista algum, até porque a maior parte dos moralismos não se encontra perto do pólo verdade, e sim para chamar a atenção para um tema tão aparentemente banal, que passa batido, e depois, quando alguém á chamado a discuti-lo a sério, fica sem palavras.

Por fim, qual será a importância da verdade em nossas vidas? A verdade, e cito Platão novamente, pois tem muito mais autoridade do que eu, está entre os entes que residem no mundo das idéias, assim, como a Justiça, o Amor, e nossas vidas estão no mundo físico, material. A importância destes conceitos abstratos é sempre paradigmática, ou seja, usados como modelos e que nos colocam no limite entre o ideal e o praticável.

Aleixo Prístino
Enviado por Aleixo Prístino em 04/04/2009
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