SAUDADE
Lembro-me quando criança ficava ansioso por tê-lo de volta do trabalho. Ao ouvir os seus passos firmes, retinindo na calçada, meu coração palpitava de júbilo. Anunciava-me a singeleza da sua segurança renovada, em minha mente infantil, possuidora de um pai presente que transmitia confiança incondicional.
Tempos maravilhosos aqueles! Perceber os seus casos e causos de bravezas e bravuras, sentados, à porta de casa, num banquinho de madeira sob a luz do luar, entre passos, risos e gritos de brincadeiras da criançada feliz, num compasso de tranqüilidade da cidade interiorana, era para mim um bálsamo porque guardava no peito o orgulho de ser filho de um homem corajoso, valente, destemido, sábio...
Quanto júbilo ser filho do “seu” Genésio, fiscal geral do município! Personagem importante em sua terra! Homem simples nas letras, mas provido de grande sabedoria de vida, capaz de entender e executar empiricamente delicadas situações da vida cotidiana.
Sua honestidade era comemorada por todos. Sempre nos ensinava dizendo, num plágio bíblico, aos outros: devamos, apenas, o amor.
Como aprendi com você! Hoje me pego praticando algo muito parecido com aquilo que observava em você em minha criancice. É a herança do sangue que corre forte na veia.
Ah, a saudade doi! Doi, demais! Inúmeras vezes assistia você descansando num sofá, em madeira sucupira, que ficava na sala junto à janela pela qual entrava uma brisa sulista. Você ressonava e meio vagaroso falava: “bita” (apelido carinhoso que me dera) que horas são?
Hoje já não ouço a sua voz, porém a sua imagem firme e decidida continua viva em mim.
A saudade dói...
Tunin
Ilhéus/mar/2009