Pensamentos Próprios – (jogo rápido na pequena área).
Pensamentos Próprios – (jogo rápido na pequena área).
Devido às minhas pesquisas de campo, descobri o óbvio e, sendo o óbvio, não carece de grandes preocupações.
Vamos aos exemplos.
Você tem uma bereba. Por motivos pessoais, não conta para ninguém, e vai vivendo, aquilo vai te incomodando, e assim por diante. Até que, inesperadamente, chega numa reunião social, os salgadinhos lhe apetecem, em dado instante exclama para os amigos/conhecidos:
- Tenho uma bereba!
Suponhamos que existam cinco pessoas na sala. Ao lado de cada número virá o comentário respectivo de cada pessoa:
1. Cruzes! Você precisa se tratar.
2. Bem que eu te avisei.
3. Você não vai sair dessa.
4, (Esse não fala. Fica te olhando com desprezo e depois cochicha para o 5: “pobre infeliz”)
5. Não sei o que dizer – diz o 5, depois do cochicho, e com idêntico olhar do 4, mas sorrindo.
Isso posto, vamos para outro modelo. Desta feita, você está num grupo de auto ajuda.
- Tenho uma bereba!
1. Jura? Eu também. Que cor é a sua?
2. Quando começou isso? Estou perguntando, porque consegui me livrar das minhas quando parei de comer salsichas.
3. É duro. Você vai sair dessa. Faça a sua parte e tenha fé.
4. Veja a minha! Agora está desse tamanhozinho...
5. Fala sério?! Que cor é a sua?
Quando o indivíduo está num grupo de auto ajuda, significa que já se rendeu. Ao se render, a necessidade de defesa de outrem, em virtude do que podemos chamar de “etapa evolutiva”, é no mínimo abaixo da média. A média vive se defendendo, e por conseguinte atacando, porque seus pares só sabem se relacionar com o dedo apontado. São os acusadores de plantão. Qualquer que seja a circunstância, não dão trégua. Para eles, isso é uma forma de comunicação inter-pessoal.
Voltemos ao primeiro exemplo, o da reunião social. Você diz:
- Comprei um Mustang GTA azul cobalto, 68, todo original.
1. Se não for o de transmissão automática, não presta.
2. Meu pai teve um.
3. Meu tio teve dois.
4. Pensei nisso a semana inteira, e, hoje de manhã, estive no banco conversando com o gerente. Até o final da semana comprarei um.
5. Dei um para minha mulher, mês passado.
Não estamos dizendo que ninguém é melhor ou pior. Antes de mais nada, estamos conversando. A diferença da turma da auto ajuda, é que eles se renderam face à alguma bereba. A do Mustang, não. Dependendo da idade, a rendição pode ser um caminho formidável, pois haja saúde para continuar dando murro em ponta de faca. O foco da nossa conversa converge para o que é pertinente aos dois grupos: ambos estão programados. Funcionam de acordo com o treinamento que tiveram. Este não é um artigo para definir alguma coisa, mas antes, para refletir em conjunto.
Qualquer um de nós está habilitado a discorrer sobre comportamentos e pensamentos.
Basta estar vivo, ter uma cabeça e se comportar. Sei de um sujeito que uiva para a lua. Esse é o comportamento dele. Não sei se ele freqüenta alguma reunião, onde as pessoas conversam sobre seus incômodos e, através da fala e da compreensão mútua, tentam amenizar seus uivos.
Para falar abertamente, não é necessário ser uma autoridade no assunto, ou melhor, Todos Somos Autoridades, e o nome do diploma chama-se sinceridade.
Outro exemplo. Vamos falar do filme “O Suspeito” (2008), onde um sujeito é torturado e a CIABOAZINHA manda um observador, que conclui: os torturadores não querem a verdade. Querem é dar porrada.
(Estamos programados? O ser humano parece binário?)
O torturado dá o que os sujeitos querem: nomes. E consegue escapar. Mais tarde, a turma da porrada percebe que os nomes nada mais eram do que a escalação do Emirados Árabes de 85.
Entre os programados, há que se falar a língua da programação. Mesmo isto sendo mais velho que roda quadrada, tem dias que a casa cai, figurativamente dizendo, e mentir se torna insuportável.
Na Índia de 1849, William Sleeman, juiz inglês, afirmou: “Tive diante de mim centenas de casos em que as propriedades de um homem, sua liberdade e sua vida dependiam de uma mentira que dissesse, e ele recusou dizê-la”.
Na programação dos hindus, existe a seguinte linha de pensamento: “Aqueles que habitualmente falam a verdade desenvolvem o poder de materializar suas palavras. O que ordenam com todo o coração vem a materializar-se” (Yoga Sutras II).
Vejamos uma lenda moderna. Durante um vôo no meio oeste americano, um dos passageiros de um Boeing 737 começa a provocar tumultos. Senta e levanta inúmeras vezes, se tranca no banheiro, grita com comissários e outros passageiros, o avião passa por uma turbulência e, alguns, com medo, atribuem a ele o motivo da nave se desestruturar. A coisa não cessa. Em dado momento, com a conivência da tripulação, o inquieto e não menos incômodo passageiro sofre uma punição física dos demais, e morre.
Durante a autópsia, dois fatores foram constatados. Primeiro, o “arruaceiro” sofria de uma doença que consiste na inflação da massa encefálica, deixando-a tremendamente desconfortável dentro da caixa craniana. O dono que o diga. Naquele vôo, os sintomas atingiram o zênite. Inconsciente da enfermidade, ele pedia analgésicos, bebida alcoólica, água, qualquer coisa que pudesse sanar aquele mal estar súbito e aterrador. Segundo, que integra a lenda, a conclusão de um dos analistas do caso: haviam 11 pessoas naquela parte do avião, todas dispostas a puni-lo, embora bastasse uma para salvá-lo.
Uma rosa é uma rosa, uma lenda é uma lenda. Definições e lendas são produtos do nosso mundo mental, assim como a rosa é produto do mundo mental de quem a concebeu. No emaranhado de mitos e verdades que vivemos, subsiste o conceito de que somos essencialmente bons. Partindo desse pressuposto, pode-se concluir que o individuo, em algum momento, se desliga da essência. Seja ele quem for, de tão compactado que está na sua própria arquitetura de pensamento, não consegue ver um palmo adiante.
Talvez seja o caso de sublinhar indagando: essa arquitetura é inerente, ou é o rebotalho de emanações mil, oriundas de todos os cantos, atuando sobre o individuo, ao invés de ser dominada por ele?
Não é de hoje e não foi um único cientista/pensador/filósofo/etc., que trouxe à baila a característica do ser humano de funcionar como uma antena de rádio, captando tudo, de tudo que é lado. O resultado dessa captação encontra-se à disposição de qualquer um que assista o noticiário. Quanto ao germe, a primeva manifestação, de construir um pensamento próprio, que tenha como pedra fundamental o agir ao invés do re-agir, e o compreender aos invés do ser compreendido, deve com certeza ter sido inoculado em cada um, e com mais certeza ainda terminou por se dissolver ao longo do tempo e pela força de sucessivos bombardeios vindos do externo.
A essência dando lugar ao que não lhe é pertinente, por falta de treino. O treino consiste em se conectar com o que pode ser denominado de um Poder Superior.
“Primeiro exemplo da perversão que sofrem fatalmente os mais nobres instintos da natureza humana, quando não são comandados por uma autoridade sábia, dirigidos pelo bem por uma consciência superior. Deixada ao acaso da ambição e da paixão pessoal, a inspiração degenera em superstição, a coragem em ferocidade, a idéia sublime do sacrifício em instrumento de tirania, em exploração pérfida e cruel” (As Raças Humanas e a Origem da Religião).