Os filósofos estão clinicando
OS FILÓSOFOS ESTÃO CLINICANDO
Depois de muitos anos no ostracismo, a filosofia volta à primeira linha das ciências sociais, atuando como instrumento facilitador do pensamento humano.
A ditadura militar (que nada teve de "ditabranda") eliminou o ensino da sociologia e da filosofia no segundo grau. Foi um dos maiores crimes de lesa-cultura que já se cometeu em nosso país. Até hoje muita gente não sabe – e outros não querem saber – o porquê dessa castração que atuou como um elemento predador de nossa cultura e educação.
As ciências humanistas, e entre elas a filosofia eram atividades multidisciplinares que ensinavam as pessoas a pensar, e tudo que os ditadores fantasiados de gorilas não queriam é que o povo pensasse. Eles preferiam que os estudantes, em todos os níveis de ensino, recebessem “pratos feitos”, ao invés de estabelecer aquela práxis que é a característica da ciência: especular. Você podia falar em pobres, mas era proibido de perguntar por que existia pobreza, por exemplo.
Hoje desponta a “filosofia clínica”, onde o indivíduo vai ao consultório do filósofo, não para desnudar seu inconsciente, na busca de solução para problemas de comportamento, traumas, culpas, atração pela mãe, etc., mas para que o especialista o ajude a colocar as idéias em ordem, a definir alternativas e a escolher caminhos. Enfim, alguém que o ajude a pensar. Pensar por sua própria cabeça. Luxo que a vida moderna nem sempre nos permite.
Enquanto a psicologia procura harmonizar conflitos a partir de uma abordagem através do inconsciente, a FC procura resolver problemas a partir do consciente. Ajuda a tomar decisões eficazes e rápidas. A filosofia, e nisso se invoca sempre a maiêutica de Sócrates, procura arrancar da pessoa aquilo que ela sabe e não sabe que sabe.
As bases metodológicas da FC partem da historicidade do paciente, percorrendo-se desde o logicismo formal até a epistemologia das questões focadas no diagnóstico dos problemas. Diz-se que a filosofia ensinada em sala de aula visa ensinar o aluno a pensar. Pois a filosofia, transformada em “clínica” visa ensinar a pessoa a organizar suas idéias, formular raciocínios através da lógica dos silogismos, e assim pensar de forma mais determinada.
A pessoa com dificuldade de estabelecer raciocínios lógicos (e isto se faz necessário em todos os quadrantes da vida) se angustia, se fecha e pode cair em depressão.A base dessa corrente é o trabalho dos chamados epicuristas da Grécia, seguidores de Epicuro. Para este último, filosofia era, por fim, “a terapia da alma”, daí sua utilização para aliviar as angústias humanas.
A Filosofia Clínica trabalha em cima da lógica (aristotélica, cartesiana e hegeliana). Muitas pessoas sofrem porque não sabem organizar suas idéias, e por isso não conseguem expor seus argumentos de forma clara e, sobretudo convincente.
Hoje as coisas mudaram, mesmo assim muito devagar, embora o Brasil tenha tido um Presidente sociólogo e uma Primeira-Dama antropóloga. Os resquícios de medo dos fantasmas do passado e dos esqueletos dentro do armário ainda assombram muita gente, levando-as a adotar o "pensamento oficial", reproduzido pelo ensino formal e pelos clichês da Rede Globo.
Escritor e filósofo