Não queremos Paz, queremos Guerra...
Não queremos PAZ, queremos GUERRA...
A violência nas grandes cidades, objeto de reportagens diárias, a corrupção instalada nos três poderes da Republica, a anarquia social em que vive o país obriga ao povo brasileiro a uma tomada de posição política conseqüente. Os manifestos, discursos e editoriais, há anos apresentados, não são mais suficientes para restaurar a dignidade publica, a ordem necessária para o funcionamento de uma sociedade democrática. Poucos cidadãos parecem entender que a possibilidade de recuperação, de bandidos crescidos e amadurecidos no crime, para a convivência civilizada em sociedade é uma hipótese de política publica com escassa chance de sucesso. Bandidos devem ser presos de acordo com a lei – se resistirem devem ser contidos com a força necessária. Esta posição política precisa ser entendida e apoiada pela sociedade, exigindo o fim da bandidagem que, praticamente, está condicionando o nosso dia a dia.
Fico preocupado quando percebo muitos cidadãos e cidadãs, numa verdadeira perda de tempo e de demonstração publica de enorme ingenuidade, participarem de caminhadas pela paz...
Que paz é essa que se apregoa quando se está assaltando na esquina e traficando drogas na porta da escola? Que ilusão tola é essa de que apelos, mãos dadas, orações, vão resolver o problema do crime organizado? Alguém, de sã consciência, pode, com honestidade, imaginar que apelos pela paz, pela fraternidade, sensibilizarão os corações e mentes da canalha que se espalhou de forma organizada pelo mundo inteiro? Tais atitudes, estéreis, só contribuem para enfraquecer e confundir a vontade de um povo na luta por um necessário e indispensável clima social e jurídico de ordem e segurança, que todo sistema democrático necessita para, inclusive, se aperfeiçoar. Os bandidos não vão mudar atendendo aos apelos: vão, sim, ter mais tempo para aperfeiçoar suas praticas nefandas.
Que a violência encontra condições propícias para prosperar no nosso mundo injusto, com péssima distribuição de renda, com educação de qualidade restrita às classes privilegiadas, todos sabem e ninguém discute. Esta é uma questão maior que alguns países resolveram ou estão resolvendo de forma satisfatória, mas o Brasil não.
O estado democrático de direito se desenvolveu apesar do mal que sempre existiu. Houve época que mulheres e homens de bem, com idéias, mas algumas vezes também com armas na mão, transformaram o mundo enfrentando a opressão e perversidades institucionalizadas, como foi o caso do nazismo e mais recentemente do comunismo. Não fizeram passeatas pedindo paz, que tem eficácia política em determinados momentos históricos muito especiais e raros. Lutaram pelos seus direitos. Não colocaram grades em suas casas para se protegerem nem deixaram de sair às ruas para se divertir. Enfrentaram os que lhes causavam mal impedindo o progresso do processo civilizatório. Liberdade, direito de defesa, discussão ampla das alternativas possíveis para a construção do futuro, eleições de representantes do povo honestos e competentes, leis justas, são componentes fundamentais de uma sociedade democrática. Acovardamento perante os bandidos é retrocesso. Desviar os olhos de atentados à lei é retrocesso. Sistema judiciário lento é retrocesso. Desculpar, sempre, o mal feito não é nem caridade nem sabedoria - é incapacidade de ser herdeiro das conquistas democráticas que nossos antepassados nos legaram.
Eurico de Andrade Neves Borba, 68 anos, escritor,economista, é aposentado e reside em Ana Rech-RS. Foi Presidente do IBGE; Diretor Geral da Escola de Administração Fazendária; Secretario Geral do MEC; Professor, Diretor do Departamento de Economia e Vice-reitor da PUC RIO, Conselheiro da Funarte e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Presidente do Conselho Nacional da União dos Escoteiros do Brasil, representante do Brasil na Comissão de Estatística da ONU.