Para quem a Igreja Católica fala
Esta tragédia humana, ocorrida recentemente em Pernambuco - o estupro de uma criança de nove anos pelo padrasto - chocou o país. Observando as críticas contra a Igreja Católica, comecei a acreditar que as pessoas não são mais capazes de discutir assuntos complexos, que exijam alguma reflexão histórica e filosófica. Se não se conhece os pressupostos que fundamentam o raciocínio e o comportamento do interlocutor, o diálogo e o respeito pelas razões do outro se tornam impossíveis. A Igreja Católica quando se pronuncia, pela voz do Papa, dos Bispos, dos Concílios, pretende esclarecer, ensinar, orientar os seus fieis. Certamente fala para todos os “homens e mulheres de boa vontade”, mas, na organização laica das sociedades, suas diretivas e raras excomunhões não têm a força da lei civil: escuta quem quiser, pratica e obedece quem tem fé nesta Igreja. Porque tanta agressão aos ensinamentos da Igreja Católica? Todos podem divulgar o que pensam menos a Igreja que é logo taxada de conservadora medieval. Estranha esta atitude, não?
A lei moral não é algo passível de votação, passando a ser moral o que a maioria decide que é. A lei moral decorre dos ensinamentos do Salvador interpretada pela Hierarquia da Igreja, nos últimos dois mil anos, com notável coragem e coerência. Isto é uma questão de fé que os católicos aceitam com naturalidade. Não se busque desmerecer esta atitude apontando como "fundamentalismo" o respeito que possuem pelo Magistério Oficial da Igreja.
Afirmam os bons historiadores, Fernand Blodel à frente, que "a Civilização Ocidental tem sangue cristão". Quando a Igreja Católica, orientando seus fieis, condena tese que uma parcela da população gostaria de ver aplaudida, a reação é imediata contra o Papa e os Bispos. Estas críticas, geralmente, partem de pessoas que não são católicas. Parece que os valores morais e a herança cultural cristã incomoda muito, pois delas não podem se livrar, uma vez que tal realidade faz parte do inconsciente coletivo dos povos, da Lei Natural e, portanto, das suas vidas. Todos querem viver uma vida egoisticamente tranqüila contando, sempre, com a benção da Igreja da qual, na realidade, estão muito afastados, mas que reconhecem ser a mais autêntica responsável pela pureza da mensagem evangélica. Anseiam, inconscientemente, pela aprovação da "Mãe e Mestra" que admoesta com severidade amorosa quando seus filhos e discípulos erram flagrantemente.
Vivemos num Estado Democrático de Direito laico e assim deve ser. Mas os cidadãos de uma sociedade precisam e têm o direito de receber os ensinamentos dos pastores de suas religiões. Com a consciência esclarecida podem decidir as questões próprias do Estado laico, operado por cidadãos livres e responsáveis que, no entanto, professam uma religião que orienta eticamente suas vidas.
O Arcebispo de Olinda e Recife não poderia agir de outra forma. Com a excomunhão proferida os católicos foram alertados, uma vez mais, para a responsabilidade que a sua fé impõe: - a permanente defesa e promoção da sacralidade da vida humana.
A menina vitima inocente desta tragédia, não foi esquecida. Mas a principal questão em destaque era o aborto a que foi submetida. Os outros tópicos atinentes ao ocorrido devem ser debatidos separadamente do fato concreto e imediato - o aborto. Misturar vários aspectos da mesma questão, para esquecer o assassinato dos fetos, não serve à verdade, nem ao esclarecimento da população, muito menos à promoção e defesa da sacralidade da vida humana, desde o momento da concepção até sua morte natural.
Eurico de Andrade Neves Borba