Nossa reciclagem, as crises.
No mundo inteiro não se fala em outra coisa, os editoriais das emissoras de tevês, rádios, jornais, revistas e sites tratam diariamente da crise econômica que se alastra mundo afora. As crises externas e coletivas, originam-se internamente em cada indivíduo, num mundo onde prevalece o TER sobre o Ser, é natural que as crises ocorram vez por outra, elas funcionam como ajustadores por serem essencialmente pedagógicas.
A cada crise o homem vai aprendendo que tudo que amealha de material além do necessário, as vezes até em detrimento da escassez para o seu semelhante, pode ir tudo literalmente pelo ralo num simples piscar de olhos, e que sua frágil paz, sustentada por um cordão umbilical com gráficos, índices, extratos, percentagens e outras mazelas da ganância, o deixa insone, angustiado, estressado e até mesmo depressivo a qualquer momento da vida.
Mas todas as crises proporcionam um momento de transformação profunda, sejam elas individual ou coletivamente, são como forte colírio nos olhos, revelando um mundo mais real, menos delirante, que não perdoa a soberba, o orgulho, o egoísmo, bem como a inércia e a nossa indiferença com o sofrimento dos menos favorecidos, é nas crises que nos descobrimos em outras possibilidades e sentimentos, nos fazendo perceber em situações de dificuldades, grandes oportunidades, sobretudo as que nos fazem crescer moralmente, proporcionando-nos uma visão humana com mais acuidade, como em situações como essa em que nos encontramos, atingindo à todos, evidenciando nossas fragilidades, procuramos logo encontrar saídas, criando pactos e ações compartilhadas.
Enquanto houver uns poucos com tanto e outros tantos com tão pouco, não haveremos de receber o Reino Prometido, que não é feito certamente de glebas, coroas e tronos, mas sim de uma luz balsâmica e radiante no peito, a contagiar a tudo e a todos. A crise coletiva promove a solidariedade e a individual nos mostra os caminhos para evitarmos justamente as coletivas. E assim caminha a humanidade, mesmo que em lentos passos, segue aprendendo, se aperfeiçoando, se reciclando, repensando paradigmas e valores.
Se olharmos pelos retrovisores da alma, veremos pelo da esquerda uma progressão na história de nossas vidas e pelo da direita alguma história que ajudamos a construir para que algo se tornasse melhor em nosso meio. Benditas portando, sejam as crises que nos induz a olhar para frente e pensar sobre o que temos para oferecer a vida e não sobre o que vida nos oferece.
Jairo Lima