A Santa hipocrisia

A SANTA HIPOCRISIA

Durante o último carnaval o padre e deputado federal pelo PT-PB, Luiz Couto, foi suspenso pela Igreja Católica das funções de sacerdote por ser contra a discriminação de homossexuais e defender o uso de preservativos. O padre teria dado uma entrevista a um jornal local defendendo o uso da camisinha e dizendo ser contra o celibato dos padres e discriminação de homossexuais. As declarações do deputado desagradaram o arcebispo da Paraíba, dom Aldo Pagotto, que suspendeu as funções do sacerdote. Com a medida o padre está proibido de celebrar missas, batizados e casamentos. Em sua defesa, Couto alegou que havia se pronunciado como político e não como religioso, como se pudesse na prática separar um do outro.

O procedimento da Igreja Católica não me causa espanto algum, aliás, diante das inúmeras atrocidades que a instituição cometeu no passado, tal atitude poderia passar despercebida não fosse o fato de a igreja em pleno Século XXI continuar discriminando os homossexuais e ao mesmo tempo ser tão generosa com os inúmeros padres envolvidos em casos de pedofilia no mundo inteiro. Como pode uma igreja se posicionar de forma tão radical contra uma opção sexual se muitos dos que se tornaram homossexuais foram iniciados pelos seus próprios sacerdotes?

Sejamos sinceros e avaliemos: a Igreja Católica tem respaldo moral para se posicionar contra o homossexualismo ou contra o uso da camisinha? É muita hipocrisia de uma instituição que tem como tradição tratar com discrição as denúncias de abusos sexuais em suas igrejas para proteger a imagem da instituição, pois em geral, os casos são encerrados com reprimendas simbólicas, como a transferência para outra paróquia, ou tratamento psicológico em clínica especializada.

Os escândalos evolvendo abusos sexuais atingiram a Igreja Católica em vários países, como nos Estados Unidos, onde os casos de pedofilia causaram a renúncia de um bispo e o afastamento de mais de 50 padres de 17 dioceses. As denúncias obrigaram a Igreja a gastar mais de 350 milhões de dólares em indenizações, sendo que este valor poderá ultrapassar a cifra de 1 bilhão de dólares, segundo a revista VEJA. Na Alemanha, França, Irlanda, Inglaterra, Polônia, Austrália e Canadá a situação não tem sido diferente da norte americana, mesmo assim uma ala conservadora da igreja insiste em perder tempo com questões bem menos relevantes.

Na visão de Luiz Couto há como dissociar o padre do deputado. Dessa forma, hora ele pensaria como padre e hora como legislador, sendo que na condição de político defenderia atitudes que a Igreja Católica abomina com veemência. Tenho grande respeito pelos cristãos, especialmente pelos católicos apostólicos romanos, mas sinceramente tem situações protagonizadas pela igreja que não consigo compreender, pois há muitos problemas mais importantes que a instituição poderia se preocupar, especialmente aqueles que estão debaixo dos seus olhos.

*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br)