SESSENTA ANOS DE DIREITOS HUMANOS
SESSENTA ANOS DE DIREITOS HUMANOS
escrito por Victor Jerónimo
Preâmbulo:
Desde a Grécia antiga que alguns homens tentam proteger o homem. Foi através de Sócrates que o homem tentou a explicação racional para o mundo através do homem e sem bases em religiões ou deuses.
Para ele o homem só agia mal por ignorância e acreditava que a busca incessante pelo conhecimento era primordial.
Quinhentos anos depois os Romanos (200 dc) adoptaram a doutrina dos estoicistas, doutrina esta firmada na procura da moral na observação da natureza.
Foi Cícero, um estóico, que pronunciou a célebre frase humanista "para a humanidade, a humanidade é sagrada".
Os estóicos preocupavam-se com o bem comum e foram os primeiros no mundo ocidental a criar instituições de caridade para os pobres e doentes.
O obscurantismo introduzido na Europa pelo cristianismo e a Igreja católica origina no Sec. XIV uma oposição a esta representada pelo Renascentismo.
Em busca de uma nova moral que fosse oposta à moral cristã da época os renascentistas estudaram profundamente a Antiguidade Grega e Romana, tornando-se esta uma obsessão no regresso ao passado influenciando fortemente a educação. Foi no Renascentismo que se criou uma nova maneira de se encarar a humanidade e a importância de apreciar a vida ao máximo.
No Sec. XVIII nasce o Iluminismo onde se passa a acreditar na razão do homem, motivo porque passa a ser conhecida como a Idade da Razão.
Com os objectivos de estabelecer uma base moral, religiosa e política que acompanhe a razão intemporal do homem revoltaram-se contra as velhas autoridades e a Igreja.
Lutaram pelos direitos do individuo em si e do cidadão, asseguraram a liberdade de opinião quer esta fosse política, religiosa ou moral e ensinaram que se a ignorância fosse banida esta terminaria com a miséria e a opressão.
Com bases que ainda hoje influenciam as nossas vidas inspiraram muitas constituições que há actualmente e criaram os fundamentos para o que dois séculos depois, viria a ser a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas.
60 anos de direitos humanos:
Em 7 de Maio de 1945 terminou a II Guerra Mundial, deixando atrás de si a maior hecatombe da História Mundial.
A Sociedade das Nações criada em 1919 depois da I Guerra Mundial não foi capaz de assegurar a estabilidade e falhou redondamente quando Hitler em 1939 declarou a II Guerra Mundial pelo que em 18 de Abril de 1946, esta passou para a alçada da ONU.
A Organização das Nações Unidas (ONU) foi fundada oficialmente em São Francisco, Califórnia (EUA) em 24 de Outubro de 1945.
O mundo estava abalado pela carnificina da II Guerra, numa barbárie sem procedentes na história da humanidade e havia que criar uma carta que fosse fundamental na preservação dos Direitos Humanos.
Assim John Peters Humphrey do Canadá, ajudado por outras pessoas em vários países do mundo, esboçou a Declaração Universal dos Direitos Humanos e que veio a ser adoptada pelas Nações Unidas em em 10 de Dezembro de 1948.
Embora e infelizmente, não seja um documento de obrigatoriedade legal tem sido usado para a assinatura de outros tratados legais.
Será a paz possível um dia?
Em 11 de Setembro de 2001 a Al Qaeda destrói as duas torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, mas se compararmos este acto de terrorismo com o que aconteceu 56 anos antes em Hiroshima e Nagasaki chegaremos à conclusão que a Al Qaeda é um aprendiz comparado com o Presidente Truman.
As bombas foram lançadas precisamente quando o Japão não tinha mais condições para lutar e toda a gente sabia isso muito bem.
Hiroshima e Nagasaki foi o maior acto terrorista da História, foi terrorismo puro e uma demonstração do que as armas de destruição maciça podem fazer.
Em nome da Paz quantas violações e mortes têm acontecido? Será este o caminho para encontrarmos a Paz? Se o é, e os poderosos do Mundo dizem que sim, o mundo nunca irá encontrar a Paz.
No Dia Mundial da Paz em 01 de Janeiro de 1999 o Papa João Paulo II fez o seguinte comentário:
“quando a promoção da dignidade da pessoa é o princípio orientador que nos inspira, quando a busca do bem comum constitui o empenho predominante, estão a ser colocados alicerces sólidos e duradouros para a edificação da paz. Ao contrário, quando os direitos humanos são ignorados ou desprezados, quando a procura de interesses particulares prevalece injustamente sobre o bem comum, então inevitavelmente está-se a semear os germes da instabilidade, da revolta e da violência”.
Desde que aprendemos a ser erectos (andar em duas patas) a evolução mental do homem começou a evoluir na disputa de outros bens e de outras terras como forma de afirmação pessoal, do poder.
Primeiro foi a busca de melhores habitats para se reproduzir, alimentar em suma sobreviver, mais tarde foi o definir-se como rei ou senhor das suas terras e onde a procura de outras terras se transformavam em verdadeiras carnificinas.
Nem a vinda de Jesus ao mundo num país dominado e subjugado por outros veio apaziguar os homens.
Jesus que apregoava a paz e o bem estar entre os homens é crucificado pela maldade humana, demonstrando perante a História que as barbáries não ficariam por aí.
Se os Cristãos foram devorados por leões no Coliseu Romano estes mesmos cristãos séculos mais tarde queimavam na fogueira tudo o que a eles se opusesse e não só.
A História está repleta de carnificinas em nome de Deus, de Cristo, de Maomé e outros tantos santificados que apregoavam o bem do homem pelo homem e aos quais os seus seguidores usaram na maldade principal a não liberdade de opinião.
O advento da era industrial e do desenvolvimento cientifico trouxe-nos as duas primeiras guerras mundiais e onde a segunda primou pela maior carnificina de civis de que há memória.
Depois da criação da Carta dos Direitos Humanos e em nome de valores duvidosos o homem continua a matar, desta vez e principalmente pelo petróleo.
Ouro, diamantes, pratas e toda uma ordem de preciosismos têm sido trocados pela vida humana ao longo dos tempos, criando o domínio do homem pelo homem, do mais forte pelo mais fraco e até em um “simples” assalto de rua a predominância é essa.
Se em séculos passados a ignorância do povo os levava às maiores barbáries, como é que actualmente sendo grande parte da humanidade instruído e informada pode continuar a ocorrer tantas carnificinas?
Se anteriormente a esperança dos filósofos era a de que a instrução diminuiria e até baniria da face da terra a maldade, como é que actualmente isso não é possível?
Será a paz possível um dia?
Declaração Universal dos Direitos do Homem:
A carta da DUDH (Declaração Universal dos Direitos do Homem ) é como a Bíblia para os pacifistas e amantes da paz, porém esta não tem sido adoptada no seu contexto pelos homens e principalmente pelos responsáveis maiores das nações, os governos.
Mesmo os governos mais democráticos do mundo têm violado constantemente a DUDH em nome de interesses capitalistas que torturas, violações e mortes têm provocado.
Os governos comunistas que se dizem defensores do povo e que seguem doutrinas de Marx e Engels têm torturado sistematicamente os seus próprios povos levando-os a viver em um submundo de miséria, torturas, mortes e destruição.
Os governos mais preocupados com o seu “capital” pessoal não criam infra-estruturas que dê trabalho ao seu povo criando verdadeiras fossas abissais entre a classe media e a classe pobre, levando a que esta roube, mata, destrua o que de mais importante o ser humano criou.
A cada dia a vida humana vale menos o que leva os grandes capitalistas a defenderem-se com sofisticados meios de defesa num mundo criado por eles próprios, o mundo dos infernos em vida.
O Patriotismo é hoje apenas realçado por parte de alguns homens que ainda vêm nas suas nações a sua Pátria mas nas quais os governantes usam esse patriotismo para matar e subjugar o seu povo.
Hoje vemos, cidades ultra-modernas a nasceram nos desertos e destinadas ao grande capital, enquanto o seu povo se desloca de camelo ou burro vivendo a miséria dos que nem sequer têm água ou pão. Noutros países investe-se em altas tecnologias de armamento para defenderem o indefensável pois sabemos muito bem que todo o armamento existente no mundo é suficiente para destruir o Planeta Terra várias vezes.
No meio de todo este caos surgem os pacifistas, alguns homens de bem que aqui e ali tentam que a DUDH seja cumprida pelo menos em algumas partes.
Nascem Organizações Humanitárias sem fins lucrativos para ajudarem em países onde a seca é constante e onde os seus governos vivem em constante luta por poderes dúbios e muitas vezes sem sentido.
Além de todas estas organizações há o anónimo, você, eu ou aqueloutro que se dedicam localmente a ajudar crianças desfavorecidas, pessoas sem meios de subsistência e nas mais variadas causas, mas que anonimamente dedicam o seu dia ou parte dele para que essas pessoas possam ter um dia menos infeliz, com menos fome ou muitas vezes com menos tortura.
Lemos a Declaração Universal dos Direitos do Homem e constatamos que nada mas mesmo nada do que lá está escrito tem valor para as nações e isto apesar de tratados firmados com base na DUDH.
Homens, muito poucos, que lutam pela paz e onde a maioria destrói em nome da Paz.
Paz podre,
Paz sem sentido,
Paz mentirosa,
Paz tão falada e tão vilipendiada através de sucessivas gerações. Onde o ser humano nasce e morre sem ter direito ao seu pão, à sua Paz.
Que futuro?
Actualmente o mundo caminha para uma era de fome. A alta de preço dos cereais o pagamento que os governos fazem aos agricultores para que a terra não seja cultivada como acontece na poderosa Europa, bens alimentares que estão a faltar um pouco por todo o lado, os especuladores dos mercados que trazem o mundo em agitação e em falência, tudo isto são casos para o caminhar para mais uma hecatombe a nível dos países mais pobres.
Esta crise alimentar está a atingir novecentas milhões de pessoas em todo o mundo e a cimeira dos oito países mais ricos do Mundo que aconteceu no Japão em Julho de 2008 não chegou a nenhuma conclusão para ultrapassar esta crise.
É a globalização da pobreza promovida pelos mais ricos.
Qual vai ser o futuro do homem?
Está nos governos verdadeiramente democráticos a solução para que a Paz possa ser uma constante nos seus países e está em nós mesmos a solução para que a Paz seja uma realidade.
Felizmente vemos certos países, muitos dos quais sem riquezas próprias, onde a vida do seu povo é altamente consciente e onde a Paz é quase uma constante, onde os roubos e assassinatos são quase inexistentes, se tomarmos em considerações o numero de habitantes e a percentagem dessas violações.
Se há países que conseguem isso porque tem que haver países extremamente ricos em que a corrupção, o terror e a morte é uma constante?
Uma solução (há muitas) para que a Paz fosse uma quase realidade, está em nós cidadãos anónimos que habitam os seus países.
Consciencialização, estudo e o começarmos com nós mesmos.
Cria a tua própria paz para que assim possas ter paz em tua casa e a possas transmitir aos teus familiares e que estes sejam sementes para a transmitirem ao povo e à nação.
Utópico? Talvez! Mas sabemos que ao homem nada é impossível desde que este o queira e o deseje.
Só na união se pode projectar e construir o futuro de uma nação, o futuro do mundo.
Victor Jerónimo
Recife/Brasil em 23 de Julho de 2008
Escrito especialmente para a comemoração dos 60 anos
da Declaração Universal dos Direitos do Homem
em 10 de Dezembro de 2008, organizada pelo
Ecos da Poesia ( http://ecosdapoesia.net )