O arcebispo de Recife e a lei de DEUS, segundo a igreja.
O triste e lamentável episódio envolvendo uma menina pernambucana de nove anos e seu padrasto, o ignóbil e confesso estuprador, além de hediondo, tornou-se também polêmico e inusitado. Por quê?
Ora! O diretor médico da maternidade da Universidade de Pernambuco, Dr. Sérgio Cabral se viu diante da obrigatoriedade de proceder, com a maior urgência possível, o que efetivamente se concretizou em 4 de março, ao aborto de dois fetos, pois a criança, com apenas nove anos de idade corria risco de vida, uma vez que seus órgãos ainda se encontravam em formação e já sentia fortes dores abdominais, quadro que se agravaria a cada dia vindouro. O cirurgião amparou-se também na autorização da mãe da menor e na legislação do Brasil que autoriza o aborto de vítimas de estupros até a 20ª semana de gravidez, sem a determinação judicial.
Então, consumado o ato cirúrgico com sucesso, o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho pronunciou-se afirmando que apresentará uma denúncia de homicídio contra a mãe da vítima por ter concordado com o aborto. Como justificativa de sua decisão, o eclesiástico enfatizou que os ministros da igreja Católica têm a obrigação de proclamarem a lei de DEUS contra a morte, o que é contrariado pela lei dos homens.
Na minha visão como cidadão brasileiro, observador, desde a infância, das ações da Igreja Católica Apostólica Romana, pois nela realizei a primeira comunhão aos dez anos e casei aos vinte e oito, a atitude do arcebispo Sobrinho ensejou-me espanto e discordância, pois a considero radical e incongruente, apesar de ter sido baseada nas diretrizes da lei eclesiástica, cujos conceitos por estarem defasados precisam ser revistos.
Confirmando o seu comportamento imutável e desprezando a lei humana, o referido representante do clero excomungou a família da vítima, bem como o médico Cabral, poupando, no entanto, o pedófilo estuprador com a alegação de que o bárbaro feito não é passível de excomunhão. Esta minha posição não tem o objetivo de macular os dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana, e sim demonstrar o meu repúdio a uma atitude isolada.