UMA CRIANÇA É ESTUPRADA. UM ABORTO LEGAL.

Uma menina de nove anos foi estuprada pelo padrasto. Essa menina engravidou de gêmeos. Ela tem apenas nove anos! Ela é franzina, pequena, o seu corpo ainda está em formação.

Essa criança de nove anos, grávida de gêmeos, corria o risco de morrer por causa dessa gravidez. Uma gravidez indesejada, forçada, por culpa de um estuprador.

Pois bem. Conforme prevê a Constituição, nesse caso o aborto é permitido. Então os pais autorizaram que se praticasse o aborto, a interrupção da gravidez. E os médicos assim procederam.

Mas aí entrou a igreja: o aborto é pecado, vai contra a lei de Deus. E um arcebispo, representante da igreja, resolveu excomungar os pais da menina, os médicos, todos os que direta ou indiretamente autorizaram ou praticaram o procedimento médico.

A imprensa divulgou o fato, o Presidente da República, diante da circunstância do fato, manifestou o seu apoio ao aborto e afirmou que a justiça e os médicos estão certos e a igreja está errada. Por fim, veio a notícia de que o vaticano concorda com o arcebispo que decretou a excomunhão dos pais da menina e também dos médicos. E esse mesmo arcebispo ainda teve a coragem de dizer: o aborto é pior que o estupro. É lamentável!

Aí eu me pergunto: que mundo é este em que vivemos? Até que ponto a igreja tem esse poder para se manifestar contra a justiça e contra a medicina? Que poder divino tem esse arcebispo para excomungar as pessoas? Um ser humano como todos nós, feito de carne e osso, pecador também, mortal, e que defende idéias e comportamentos radicais e conservadores; um representante de uma instituição que já cometeu tantos crimes, tais como pedofilia, venda de indulgências (uma chave para o céu ... ah, ah, ah), omissão ou indiferença nos tempos da ditadura no Brasil, o reconhecimento tardio do massacre de milhões de judeus pelos nazistas, e por aí vai. Ah, por favor, presta atenção, né!

Mas, e os fiéis? Os fiéis da igreja católica de todo o Brasil, de que lado eles estão?

Eu faço aqui um convite para a reflexão: se esse caso ocorresse na nossa família, com uma filha nossa, de apenas nove anos de vida, como iríamos proceder? Acataríamos a decisão da igreja, expondo a criança ao risco de morrer, ou optaríamos pelo aborto, respaldados pela justiça e pela medicina?

Eu, Washington, com certeza me decidiria pela segunda opção e autorizaria o aborto. E se o arcebispo me excomungasse, para as favas ele! Eu também o excomungaria! Porque Deus é justo, Deus é fiel, Deus é misericordioso, e Deus não deseja o sofrimento ou a dor para nenhum de nós.

Eu acho que as pessoas, os cidadãos brasileiros, principalmente os fiéis da igreja católica, deveriam se manifestar a respeito desse fato. Porque ficar calado ou não tomar partido é que não pode ser! Pior: isso é uma hipocrisia tremenda! Jesus disse, "Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e iniquidade" (Mateus 23:28).

Então é isso, caro leitor ou cara leitora: e se fosse com a sua própria filha? Porque desta vez aconteceu com os outros, mas poderia ter sido na nossa família também. ..

Washington Berto

Araxá-MG

8/3/2009