Aprendi nos livros*

Nos livros aprendi algumas coisas essenciais, por exemplo: que entre o angelical e o demoníaco há humanidade bastante para eu fincar minhas raízes; que essa vida aqui é minha e que por ela ninguém pode responder; que entre conformidade e inconseqüência a liberdade é que faz sentido. Para espanto dos fantoches, aprendi a ser autêntico, responsável e livre.

A vida concreta, paralelamente à dos livros, foi tratando de colocar as vírgulas faltantes no meio das palavras escritas, os pontos fora de lugar em cada texto lido e de calibrar as idéias em vir-a-ser dos discursos analisados. Desbancando os livros? Não, a vida sendo acompanhada por eles.

Então, hoje me pego inconcluso, virando-me com não-respostas existenciais e esperneando para conquistar um pouco de liberdade – para horror dos adeptos da servidão voluntária!

Por essas coisas, espanta-me saber, por meio de pesquisa noticiada na mídia, há poucas horas, que 20% dos universitários da Região Metropolitana de São Paulo não lêem. Isso mesmo: um em cada cinco universitários não tem o hábito da leitura. E no Brasil profundo, como estará o não-hábito de ler?

Ah... está explicada a reclamação (de universitários!) de que o professor fala difícil - às vezes aquelas palavras triviais da academia. Também é possível entender a razão pela qual esse mesmo público reclama de ter de ir ao dicionário para entender certas aulas – como se isso fosse um castigo.

Oh tempora, oh mores! (essa é proposital: Oh tempo, oh costumes!). E o possível refinamento do espírito por meio da inserção ativa no mundo da cultura simbólica, via livros? Nem fale disso! Ser fantoche é que é legal. Aliás, o modo exemplar para o indivíduo ser voluntariamente servil...

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*Artigo publicado no sítio Philoterapia, em 27/06/2007.