CAUSAS DA DELINQUÊNCIA

Nem sempre os bancos escolares são enfadonhos. Digo isso porque hoje, numa aula de direito penal, a professora nos trouxe duas questões para que debatêssemos. As questões eram estas:

1.Qual será o fator determinante para se levar um jovem à delinquência?

2.O que fazer para mudar este quadro?

Então, dentre vários fatores elencados, chegou-se a termo com apenas dois que foram considerados os mais importantes, são eles:

A falta de estrutura familiar;

A desigualdade social;

Dadas as questões, a classe dividiu-se em grupos que defendiam algum desses dois ítens. Aqueles que argumentavam que o fator determinante da delinquência era a desigualdade social, defendiam a tese de que numa sociedade capitalista, o ter é mais importante do que o ser. Assim, bombardeado por uma mídia que quer vender todo o tipo de mercadoria e ao mesmo tempo não tendo como satisfazer os desejos que possui, o jovem partiria para a criminalidade para conseguir as coisas que anseia.

Já o grupo que defendia a tese de que o fator determinante da delinquência era a falta de estrutura familiar, argumentou que é necessário que uma criança tenha carinho, afeto, presença dos pais e educação de qualidade, para que assim aprendesse, por meio de uma forma ideal, como portar-se em sociedade e não apelar para o mundo do crime.

Em suma, as duas posições não excluem uma a outra. Na verdade, os dois fatores estão intimamente ligados, pois é sabido que onde há elevada desigualdade social, também há um grande número de famílias desestruturadas. E, no lugar onde estas mais proliferam, a tendência é haver muito mais desigualdade social.

Desta forma, os dois grupos sugeriram o contrário de tudo aquilo que há de negativo nas teses que defenderam. Resumidamente, maior atenção no que diz respeito à distribuição de renda, e mais educação para os jovens e seus pais.

Dado isso, em outra matéria, a ciência política, estudamos Maquiavel. Lemos a obra “O Príncipe” e a uma comentadora chamada Maria Tereza Sadek. Para mim tal leitura foi um divisor de águas. Já tinha tentado ler “O Príncipe”, contudo na época em que o li, não consegui retirar-lhe a essência.

Pensando com Maquiavel, cheguei à resposta das perguntas. Apesar de os grupos terem respondido de forma aceitável, não deram uma resposta com profundidade filosófica. Alguma coisa incomodava-me com aquelas respostas, pois pareciam superficiais. Comecei então a ruminar, lembrando da leitura do fundador da ciência política da modernidade.

Ora, segundo Maquiavel, o homem é naturalmente mau, egoísta, inescrupuloso e mentiroso. O pensador florentino chegou a esta conclusão após observar os desdobramentos da história, através dos clássicos da Antiguidade greco-romana e da sua experiência como homem público. Maquiavel, sem fazer uma avaliação moral dos Estados do passado e dos governos de sua época, constatou que a história sempre se repetia. Pois a natureza humana permanecia invariavelmente a mesma.

Não servirá, para os nossos dias, a avaliação que Maquiavel fez dos homens e das paixões destes? Por acaso a natureza humana modificou-se? Não, o homem da Antiguidade, em suas paixões, é o mesmo que somos hoje. Então o fator da delinquência, de maneira mais profunda, é a própria tendência do homem para o mal, para o egoísmo, para inveja e para mentira.

Quanto à segunda questão, se há o que fazer; Maquiavel também responde. Para o pensador renascentista, um período de ordem é seguido por um tempo de anarquia e assim sucessivamente caminha a história, ou como queiram, a humanidade.

Há uma parte da sociedade que quer dominar e outra que não quer se submeter ao domínio da primeira. Se houve algum período da história em que reinou uma certa estabilidade, este foi passageiro, pois logo os que estavam no poder foram derrubados e uma nova ordem de coisas foi estabelecida.

Assim, a sociedade que sonhamos, longe de delinquentes, egoístas, políticos corruptos, tiranos e todo tipo de gente que desprezamos, é para sempre uma utopia. Não é possível mudar a natureza do homem de forma definitiva, portanto também não é possível que transformemos a sociedade exatamente na forma como idealizamos.

Este é Maquiavel. Resolvendo as questões de hoje, as de ontem e as do porvir. Ler os clássicos da filosofia é como estabelecer um diálogo com as pessoas mais interessantes de todos os tempos, expressando apenas seus melhores pensamentos, já dissera Descartes.

Neste ponto digo, amém Descartes, amém Maquiavel.

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 04/03/2009
Reeditado em 04/03/2009
Código do texto: T1468184
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