DISTÚRBIOS DA INÉRCIA
Nuno Cobra é um dos melhores preparadores físicos do país. Por suas mãos, passaram os dois maiores pilotos da história da Fórmula 1: Ayrton Senna e Michael Schumacher. Por sinal, um dos fatos mais lamentáveis da história foi a morte de Senna, não só pela dor de não ter tido por maior tempo o talento inegável de nosso grande campeão, mas também porque os amantes do automobilismo não assistiram ao que seria a disputa mais linda da categoria. Técnica e arrojo pelas pistas do mundo. Seria fantástico!
Mas, além da capacidade de pilotar, Senna e Schumi tinham um grande diferencial: a força mental. Nenhum outro piloto possui, até hoje, a força que os dois detinham, o poder que os tornava absurdamente melhores que seus oponentes.
Frieza e auto- controle também sempre foram marcas registradas desses dois espetaculares seres do esporte.
E o que Nuno Cobra tem a ver com isso? Tudo. Além de treinar fisicamente seus atletas, Nuno sempre trabalhou a mente, o lado psicológico dos campeões. Certa feita, ele escreveu um artigo, entitulado "OS PERIGOS DO SEDENTARISMO", onde discorre brilhantemente a cronologia do homem, desde sua criação.
Uma das palavras que mais se repete no artigo é movimento.
Pouca gente para para pensar no assunto, mas o corpo humano nunca fica ocioso. Todos os nossos órgãos, movimentam- se mantendo- nos vivos. É a máquina mais perfeita que existe.
Raul Seixas, grande músico baiano, compôs "OURO DE TOLO". Para quem não esteja ligando o nome à canção, um pequeno trecho: "e eu que não me sento no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes esperando a morte chegar..."
Em brilhante abordagem, Raul descreve a trajetória de alguém que conquistou tudo o que a matéria pode oferecer e vive um dilema de quem sabe que, na verdade, conquistou muito pouco, diante da grandeza da vida.
De onde vem a depressão, a doença do século?
Nós sempre tendemos à acomodação quando conquistamos algo muito facilmente. Quando nos deparamos com a dificuldade, sabemos exatamente o tamanho do esforço demandado em busca de um objetivo. É a dificuldade que nos torna grandes. Se eu soubesse escrever poemas, sem dúvida, escreveria uma estrofe que rimasse acomodação e depressão.
Há quem pense que a vida não vale a pena. Há também quem julgue sofrer em demasia. Por essas e outras é melhor se tratar e levar a vida a passos de tartaruga, sofrendo a falta de dinheiro, a dor de não conseguir comprar tudo o que se quer. Vale mais isolar- se dentro de casa e sonhar com o imponderável mundo das beldades, frustrando- se por ser a criatura mais horrível da face da terra...
Nos distraímos demais com futilidades, enquanto a vida passa por nós.
Ninguém chega a lugar algum sem antes dar o primeiro passo.
É impossível vencer sem procurar a vitória. Assim venceram Senna e Shumacher, obstinados trabalhadores do corpo e da mente.
Qualquer um de nós pode conquistar tudo aquilo que almejarmos. Para isso, entretanto, é preciso movimentar- se, sem esquecer de trabalhar a mente, para que sua complexa engrenagem não enferruge.
Tudo está na mente, poderosa executora da vontade humana.
O grande equívoco do homem é desejar encontrar no corpo a enfermidade que se encontra em sua mente.
É preciso tomar o remédio certo para alcançar a cura. A cura para os distúrbios ultra modernos humanos está no trabalho, no movimento, no auto- conhecimento.
Há duas opções: o movimento ou a inércia. Senna e Shumacher fizeram um bom pé de meia, é verdade. Os dois, no entanto, ensinaram a todos nós, preciosas lições de persistência e vontade.
Até quando buscaremos a transitoriedade do ouro de tolo?
Antes que a morte chegue, feche a boca e mexa- se!