Como poderíamos classificar o significado de “miséria”? Adversidade, desdita, desventura, disgra, infelicidade, infortúnio, indigência; inópia, necessidade, desgraça, carência, enfim, inúmeros termos da língua portuguesa poderiam classificar como sinônimos de “miséria” e por mais que queiramos fechar os olhos ou não acreditar, existirá sempre um humano que fará jus a todos estes termos bem a nosso redor, pertinho de mim ou de você que está lendo este artigo agora.
 
É comum vermos famílias inteiras, crianças menores de 8 anos, jovens e idosos perambulando pelas ruas das médias e grandes cidades buscando suas sobrevivências, sejam com esmolas, sejam praticando pequenos furtos; isso é miséria plena. É comum vermos favelas que nascem sem nenhum ordenamento lógico e ao seu redor, um bolsão de pobreza e imundices que fariam o Satanás se arrepender dos pecados, onde o crime embora em pequena quantidade rotula toda a comunidade como miserável e insegura; isso pode ser chamado de infortúnio ou inópia.
 
Prédios públicos onde o dinheiro do mesmo público foi gasto em vão e estão abandonados servem de condomínio para indigentes; viadutos, pontes e marquises são pontos de drogas e moradia de desafortunados e excluídos; isso também poderia ser chamado de disgra, desventura. Fazendas que cultivam o nada ou florestas que servem apenas de índices governamentais servem de abrigo para povos que apesar de estarem em terras férteis e de terem fartura de água, ainda morrem de fome e muitas vezes de sede; isso também pode ser chamado de adversidade ou MISÉRIA!
 
Artistas globais, personalidades políticas de grandeza máxima, empresários e alguns cabos eleitorais de olho em vagas partidárias, ainda vão à televisão, às rádios e jornais avisarem desta ou daquela situação de calamidade, com este ou aquele povo em específico; eles todos, aliás, até alguns dos próprios desafortunados, buscam tocar cada brasileiro acerca de suas dores, acerca de seus problemas; uma gama forte de exímios oradores, inclusive a própria mídia, alertam o restante da nação para os problemas graves que um ou outro Estado enfrenta e eleva a grau máximo um índice imaginário de desgraças.
 
A situação é tão ou mais crítica do que todos os jornais, televisões ou rádios anunciam; o índice de miséria que se encontra incrustado na alma deste gigante chamado Brasil é alarmantemente superior a tudo que se possa medir ou que se imagine; pessoas e mais pessoas morrem todos os dias por causa desta miserabilidade abjeta que insiste em sobreviver mesmo em tempos de alta tecnologia e até pouco tempo atrás, com altos índices de desenvolvimento econômico. Enquanto eu compro filé mignon para comer no almoço de amanhã porque ele baixou de preço, milhares e milhares de famílias de todas as regiões do Brasil sequer sabem o que é isso e isso não é praticamente nada diante do absurdo maior.
 
Existe, porém, um Índice de Desenvolvimento Humano, que os burocratas chamam de IDH; esta referência criada pelas Nações Unidas (ONU) mede um pseudo letreiro social de uma nação, mostrando onde há maior concentração de riqueza e desenvolvimento e onde há o maior bolsão de miséria. Este tal IDH deveria, eu disse “deveria”, servir de parâmetro oficial para onde o governo deveria destinar “seus olhos”; o Governo deveria buscar as informações do IDH para salvar esta multidão de desgraçados infelizes com ações práticas que os permitissem terem acesso ao básico do básico, como água potável e comida.
 
Provavelmente hoje à noite a Rede Globo de Televisão, como sempre, apresentou uma reportagem na forma de documentário, onde foram mostradas as quatro cidades mais excluídas de todo território nacional. São Jordão e Tarauacá no Acre, Manari em Pernambuco e Traipu em Alagoas; as pessoas que vivem nestas cidades são consideradas pela ONU como sendo as mais infelizes e excluídas do Brasil, por razões e circunstâncias bem iguais e ao mesmo tempo bem diferentes.
 
Os moradores das cidades acreanas, que ficam numa das extremidades do severo mapa do Brasil, estão literalmente isolados do resto do mundo; não há estradas, facilidades, serviços públicos básicos ou qualquer outro tipo de dignidade para seus moradores. Ninguém sabe como, mas as poucas coisas que conseguem chegar ao lugar por meio aéreo clandestino, custam até 10 vezes mais do que o normal; gasolina custando mais de 4 Reais; um quilo de cenoura, feijão ou arroz custando mais de 7 Reais e segundo moradores, quase 10% de toda população jamais viu chuchu.
 
Alguns depoimentos afirmaram que destas duas cidades do Norte brasileiro, agora na época das chuvas, leva-se até 50 dias para se transitar entre elas e a capital Rio Branco, isso para um trajeto que dista apenas 446 km e que em estrada normal, por pior que fosse não se gastaria mais do que 8 horas.
 
O caso destas cidades excluídas é meramente político; existem terras férteis, água em abundância e gente para trabalhar; existe a possibilidade plausível e sustentável de fazê-las modelo para outros milhares de cidades brasileiras ou até do mundo, mas isso não ocorre porque a burocracia e a roubalheira impedem qualquer ato solidário. Ao redor de Jordão e Tarauacá existem milhares de fazenda de gado, fruto do desmatamento da Floresta Amazônica; nestas mega fazendas existem meios fáceis de comunicação e aviões são como carros para nós, os comuns, portanto, por mais que i IDH aponte o Acre como parte da escória brasileira, eu duvido que haja a miséria nua e crua como nas cidades excluídas pelos governos que estão situadas no Nordeste.
 
A ex-ministra Marina da Silva, a qual tenho enorme admiração, é Senadora pelo Acre, foi ministra do Meio Ambiente e é aliada de Lula e JAMAIS PERCEBEU ESTA CALAMIDADE com as cidades acreanas citadas na reportagem? E o Presidente Lula, que é o “amigo” dos pobres e oprimidos, será que a verba do PAC não deu para começar algum plano em Jordão e Tarauacá? Difícil de dizer; difícil de explicar e mais difícil ainda é resolver esta problemática em curto prazo. O governador do Acre é aliado de Lula e seu Estado, agora tem outra preocupação: tentar persuadir os cartolas da FIFA para destinarem jogos da Copa do Mundo para lá; eles já se intitularam como A SEDE VERDE; no Brasil é assim, tudo vai mal, mas o futebol tem estar bem e o povo brasileiro vai ficando igual à manequim de alfaiate: está com um ferro enfiado atrás, mas mantêm-se sorrindo sempre!
 
Já as duas cidades nordestinas, estas estão no final da lista dentre todas as cidades brasileiras com o menor patamar de desenvolvimento do Brasil; a pernambucana Manari e a alagoana Traipu são as mais miseráveis dentre todas as cidades brasileiras; o povo não tem o que comer, o povo não tem onde trabalhar, o povo não tem água nem para beber, o povo não tem hospitais, o povo não tem escolas e este mesmo povo, quando por ventura conseguem um “bico”, como o de doméstica na cada de algum vereador ou prefeito, ganha menos de 50 Reais por mês. É inacreditável, mas é a pura verdade, as pessoas não conseguem ganhar 30% do salário mínimo e ainda têm que agradecer a Deus por isso, foi o que mostrou a reportagem.
 
Muito embora estejam em estados diferentes, uma dista da outra, apenas 130 km; isso por si só já as classificam como pertencentes da mesma região ou da mesma zona de miséria. Segundo dados da Globo, a maioria deste povo jamais tomou um banho de chuveiro. A água que chega até eles vem através dos carros pipas e fazem parte de doações do Estado, uma espécie de esmola que alicia e dá muitos votos.
 
Um dado curioso revelado pelo Secretário de Saúde de Manari, Osvaldo Pita, é que as mulheres nordestinas engravidam todos os anos para terem acesso a um auxílio maternidade do Governo Federal que é de R$ 1,5 mil. O político afirma ainda, que conhece pessoas que tiveram mais de 20 filhos e que este dinheiro que elas receberam ,são as únicas rendas de toda a vida, ou seja: fazer filho dá lucro para os nordestinos. Um dos pais destas tantas crianças que nascem e são jogadas a própria sorte, afirmou ao repórter que com este dinheiro eles reformam casa, compram antenas parabólicas e compram comida; 20 filhos no Brasil significam R$ 30 mil reais em média e para quem ganha R$ 40,00 por mês, seriam necessários 62 anos de trabalho para se chegar a mesma soma; esta é uma vergonha que faz parte de nossa realidade, a realidade brasileira! Vale lembrar que junto com o pior IDH, Manari e Traipu também receberam os títulos de maiores índices do Brasil em mortalidade infantil.
 
O IDH leva em conta três fatores: expectativa de vida, nível de educação e renda da população; Manari, segundo a reportagem, tem o maior índice brasileiro de mortes entre crianças, tem ainda a maior população (proporcional) de desempregados, maior quantidade de crianças fora da escola, o povo ganha em média R$ 40,00 por mês e para completar o quadro mórbido, não há água para cozinhar e beber, portanto eu chego à conclusão que lá não é uma cidade, é a filial do inferno; campo de concentração é fichinha diante do descrito pelo documentário e o pior de tudo É QUE NINGUÉM FAZ NADA, ninguém quer saber de nada. Manari, Jordão ou qualquer outra cidade citada na reportagem tem prefeito, vereadores, secretários, assessores e outros puxa-sacos que ganham e ganham muito; este é um dos crimes que eu vislumbro.
 
Eu conheço de perto toda esta realidade; sou oriundo de uma cidade grande, mas que possui altos índices de miséria (Feira de Santana – Bahia); pertinho de onde nasci eu já vi com meus próprios olhos a pobreza plena e atroz, já vi famílias que saíram do inferno para tentarem a vida no purgatório e vice-versa; perto de onde nasci há também a miséria igual ou pior do que em Manari e Traipu, mas inexplicavelmente elas não aparecem em índice algum. Eu já presenciei secas intermináveis em setores que durante as chuvas escassas produzem malmente o alimento de sustentação pessoal de seus lavradores; eu conheço a desgraça e a infelicidade de perto!
 
Quando saio do Brasil observo que a pobreza e a miséria de outras nações são diferentes da nossa, e não preciso ir muito longe, posso citar a Argentina e o Paraguai; existem os pedintes de rua e os pobres sem teto, que vivem de esmolas ofertadas nas ruas, mas você não vê gente morrendo de fome. Recente estive no Marrocos, África árabe, e notei muita gente necessitada; gente de vive a margem da sociedade e que sobrevive com o mínimo possível. O Marrocos é um país onde não se produz nada, mas que seu povo se une em torno da manutenção da vida de seus irmãos. Visitei mercados milenares de Tétouan e Rabat e em todos eu vi gente pedindo esmola, casas pobres as margens da rodovia, mas eu também notei muita dignidade nos olhos destas pessoas; de uma forma ou de outra elas não me pareceram tão infelizes como são nossos irmãos mais necessitados.
 
Traipu em Alagoas tem 25 mil habitantes e está à margem do Rio São Francisco; acredite, a reportagem afirma que os moradores desta cidade sentem falta de água porque o rio quando passa por lá, está sujo, imundo. Isso é uma vergonha, não só para o Governo, que repito, não faz nada, mas também para a própria população que despeja tudo quanto é porcaria no rio. O caminhão pipa, aquele da esmola do Governo, percorre vários quilômetros para trazer água, a mesma água que deveria estar na porta deles; isso ocorre uma vez por semana e cada morador tem acesso a menos de 100 litros.
 
Na zona rural o problema ainda é maior e mais tocante; uma moradora, Noêmia de Melo, chora ao lembrar que o marido foi embora para São Paulo, deixando-a com três filhos a mercê da sorte e que jamais deu nenhuma notícia. Um dos momentos mais sensíveis da reportagem foi ouvir desta jovem senhora que quando lhe sobra alguns centavos do “bolsa família”, ela compra CALDO DE GALINHA, para acrescentar ao arroz e feijão que dá de alimento das duas vezes por dia aos filhos e que seu maior sonho é poder dar uma boneca que chora a única filha, pedido insistente da garota.
 
Manari em Pernambuco tem 18,5 mil habitantes; a cidade também não tem água encanada, 96% da população são analfabetos funcionais (isso inclui os políticos), recebe leite gratuito para amenizar a fome (às vezes) e a farinha é a base da cadeia alimentar, as pessoas acreditam em milagres, da mesma forma que 99% dos nordestinos; dona Aurelina da Conceição, de 70 anos, afirma ser um lugar triste e se diz capaz de trabalhar duro, mas que não há a menor possibilidade para tal.
 
Os depoimentos do documentário da Rede Globo me causaram revolta; não que eu acredite na distribuição igualitária de renda ou do milagre político de esquerda que fará o Brasil viver dias de dignidade; sei perfeitamente que haverá sempre os ricos, os pobres e os intermediários e que os pobres serão sempre pobres, mas me causa espanto ainda poder ver que estes miseráveis sejam tão miseráveis ao ponto de não terem comida e água; me causa revolta ver que milhares de seres humanos lutam a vida inteira apenas em busca do pão, não o pão figurado de sobrevivência, mas o pão de trigo, aquele que na padaria custa alguns centavos e que muita gente ainda não tem acesso e pelo visto, não terá jamais!
 
Ver o Brasil miserável e sequer poder compará-lo com a pior miséria marroquina, para mim é desonroso, sem reputação, inglorioso e desumano; ma faz voltar a citar que nosso Governo é tão zeloso com o Haiti e com tantas outras nações que acreditamos dever obrigações, mas que não se lembra que aqui mesmo há locais piores do que aqueles que apadrinhamos e gastamos tanto. Isso tudo me faz perceber que a miséria é um problema grave; que pelo pobre ser analfabeto e não pagar impostos necessita ficar como estão, porque disso, desta miséria, desta desgraça, eles, os políticos colherão milhares de votos que os farão permanecerem mais duas, três décadas, comendo caviar, passeando com motorista e vivendo em mansões do Lago Paranoá.
 
Infelizmente, ficar triste e consternado não resolve nada e não muda a história!

UMA LUZ AO FIM DO TÚNEL
 
Incrivelmente esta crônica chegou a vários olhos e um deles me chamou a atenção; a leitora MARISTELA AGERT BECK BRAGA, de Tubarão – Santa Catarina, funcionária do Tribunal de Justiça daquele estado, me encaminhou vários e-mails onde insistia em ajudar as famílias das cidades de pouca sorte do Brasil; e-mails desta natureza são raros!
 
Também liguei pessoalmente para a SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DO ESTADO DE ALAGOAS, onde figura como Secretária a Dra. Solange Jurema; fui atendido pela Chefe de Gabinete, Sra. Tereza Pires (82) 3315.1030. Deste contato eu busquei maiores informações de como ajudá-los, sobretudo as famílias de Traipu; creio que haverá um contato posterior da própria secretária e que esta viabilizará informações mais sucintas acerca de ajudas concretas de donativos (não dinheiro) para aqueles necessitados.
 
Quem desejar enviar APENAS DONATIVOS MATERIAIS (não dinheiro) acesse a página www.amazonbras.org e obtenham o endereço.

 
 
CARLOS HENRIQUE MASCARENHAS PIRES
www.irregular.com.br

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 02/03/2009
Reeditado em 04/03/2009
Código do texto: T1465146
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