Seria o conhecimento, proibido?
A questão do acesso e conquista do conhecimento em relação à qualidade de vida do ser humano, e da problemática que parece ser acionada por esta questão, leva-nos a reflexões bem interessantes.
O Homem é um ser do desejo. Seu impulso é abarcar o que lhe traga satisfação em alguma medida. Possui a capacidade de entender e transformar o mundo, mas talvez não tenha plena consciência de que ninguém limita ou se impõe à sua capacidade, a não ser ele mesmo.
Impossível não levantar indagações sobre até que ponto a sede do conhecimento é benéfica e até que ponto transforma-se numa prisão, enclausurando o Homem, vítima de sua própria tirania.
O que é proibido, o homem deseja. Da mesma forma busca incessantemente o Sagrado, a transcendência, que sugere o sobrenatural, porque acredita que lhe é possível esta reconciliação, e que dela resultará a imortalidade, em seu sentido subjetivo, porém de fato, expressão da realidade.
Assim, o alerta sobre os perigos resultantes do saber abre espaço para uma tomada de consciência, que propõe um certo zelo ao refletirmos sobre o conhecimento e seu efeito na dimensão do cotidiano.
O tema nos convida ainda a tratar algumas questões delicadas. Há que se considerar toda a conjuntura que contextualiza o cenário onde o homem quase brinca de Deus, interferindo em seu destino de maneira às vezes negligente, outras com um autoritarismo que a si mesmo oprime, e por outras destruindo ao invés de construir.
Há implicações práticas e morais do conhecimento e sua importância na trajetória do ser humano. Sua história vai sendo tecida através da rotina, imprimindo as matizes dos sentimentos que lhe são próprios e que vão, de certa forma, transformando-se, ao diluir-se no produto que resulta de sua experiência.
Necessário é, atentar-se sobre o papel da inteligência; sua utilização e as conseqüências que provoca na dinâmica do dia a dia do ser humano.
Quando falamos do conhecimento, que pode tornar-se algo negativo na vida do Homem, estamos considerando sua ânsia em desvendar a mística que vela o cotidiano, angustiando-o e, naturalmente induzindo-o a excessos.
Talvez não seja o conhecimento proibido, se considerarmos que a capacidade inventiva, e a perspicácia do Homem foram atributos dados pelo Criador. Quem sabe o que devemos ponderar seja a relação que se estabelece com o saber. Que lugar ocupa o conhecimento em sua vida. Que vantagens ou desvantagens retira dele e a que preço, e em que circunstâncias.
Parece-me que o fato do Homem buscar o conhecimento como forma de adquirir poder e com isso produzir uma qualidade de vida melhor é algo sadio e desejável. Um processo natural e progressivo.
No entanto quando se utiliza o poder para centrar-se no ego e a ele alimentar; quando o poder conquistado torna-se instrumento para subjugar algo, alguém ou alguma circunstancia, de maneira a favorecer apenas o ego, então os problemas começam a surgir, e de tal sorte que terão as dimensões proporcionais à pressão e opressão que provocam.
Disto se pode inferir que a possibilidade do saber, a descoberta que caracteriza o conhecimento autêntico, habita o interior do ser humano e, portanto, não traz em si a semente da discórdia e tão pouco da separação e conflito.
Toda a questão parece repousar na maneira e intenção com que se usa o conhecimento adquirido.
A intenção, portanto, surge como a direção que o indivíduo estabelece para explorar sua jornada neste planeta. Donde fica patente, que o homem, de maneira consciente ou inconsciente, é quem determina seu destino.
Assim, o conhecimento é benção enquanto utilizado para aprimorar toda e qualquer manifestação da vida. Os benefícios que dele extrair devem ser partilhados uma vez que quanto mais dividimos o saber, mais ele se multiplica, diminuindo distâncias e somando evolução.
Priscila de Loureiro Coelho
Consultora de Desenvolvimento de Pessoas