Laranjal do Jari à beira do retrocesso
Laranjal do Jari à beira do retrocesso
Alguns dos que publicamente juram amor eterno à cidade de Laranjal do Jari nos bastidores se empenham fervorosamente por uma nova instabilidade política do município. Tal anseio contraria totalmente os laranjalenses de bom senso, pois os que sofreram com os problemas ocasionados pelos afastamentos e retornos de prefeitos em anos passados jamais querem reviver essa novela.
Os interessados em provocar a instabilidade esquecem que no ano passado a população teve o livre direito de escolher seus representantes através das urnas e se não houve grandes mudanças, mesmo assim, a vontade da maioria dos eleitores deve prevalecer e ser respeitada dentro do processo democrático pelos poderes constituídos. Além do mais, os cidadãos conscientes sabem que a aquilo que está ruim sempre pode piorar ainda mais, infelizmente, há pessoas que não se dão conta dessa triste realidade porque não conseguem pensar no coletivo e brincam com o próprio destino e com o dos outros.
As atitudes demagogas de alguns que se prevalecem do poder demonstram claramente a subestimação da capacidade de decisão do povo. Está virando tradição em Laranjal do Jari se contrariar a vontade da população. Querer reverter uma decisão das urnas através dos tribunais é simplesmente colocar em xeque o maior ato democrático que os nossos concidadãos têm direito de executá-lo a cada quatro anos.
Tornou-se evidente o sentimento de vingança de algumas autoridades, fato este que lamento profundamente, primeiro porque sempre nutri grande admiração por parte dos envolvidos e segundo porque o ato de desforra contraria a maioria absoluta da população, sendo compreendida como a concretização extrema de um ímpeto presente em muitas pessoas que detém o poder.
As especulações e todo o contexto que aponta para a regressão de Laranjal do Jari alimentam a imprensa sensacionalista de Estado do Amapá, principalmente da capital, que além dos seus próprios interesses ainda condena o terceiro município a resgatar a sua sina. Há quem veja os índices de prostituição e violência, por exemplo, como algo a se vangloriar.
É impressionante como a vingança é um sentimento que sobrepõe a capacidade de raciocínio de alguns seres humanos, independentemente do grau de instrução, da posição social ou até mesmo da religiosidade. O fato é que todas as épocas históricas são marcadas por uma disputa pelo poder, como o poder da autoridade da tradição ou do poder manifesto, como o poder do conhecimento filosófico, espiritual ou científico, como o poder da criatividade artística, da produtividade mercantil ou tecnológica.
Nesse contexto, surgem pessoas que se consideram autônomas, as quais acreditam não são atingidas pelas decisões dos que controlam a sociedade e que suas vidas são estruturadas apenas pelos seus próprios objetivos e capacidade de trabalho, sendo imunes as decisões políticas.
Segundo Bertolt Brecht, o pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br)