ANALFABETISMO

Muita admiração me causou a manchete do Jornal do Commercio (cf. 14.12.08 p. 27), noticiando que o Presidente Morales anunciou o fim do analfabetismo na Bolívia, ao lado de Cuba e Venezuela. Se é verdade ou não, pouco importa. O certo é que internacionalmente este feito foi reconhecido e comemorado como um enorme esforço, destes governos populares, para superar esta chaga humanitária, que ainda assola grande parte da humanidade no século XXI. Evo Morales agradece a Cuba e Venezuela o apoio recebido e, em gratidão, oferece ao Presidente Lugo do Paraguai a experiência e a metodologia boliviana para que também este país latino-americano tenha sucesso na alfabetização de seu povo. E por que o Brasil, um país com muito mais recursos do que a Bolívia, consta nos índices internacionais como um dos países menos alfabetizados deste continente? Já tivemos o MOBRAL, o DIA D da educação, e tantas outras campanhas para alfabetizar os cidadãos brasileiros. E, apesar de tudo isto, há décadas permanecemos, praticamente, estacionários. Metodologia não nos falta. O método Paulo Freire, por exemplo, se demonstrou eficiente em outros países da América Latina, na África e na Ásia. Entre nós, no entanto, não conseguiu uma ruptura com políticas educacionais arcaicas, que conservam altos índices de nosso povo no obscurantismo. A que se deve esta situação vergonhosa de nossa realidade educacional? No meu entender, embora haja belos discursos, sofísticos e hipócritas, de nossas autoridades políticas, se comprometendo com a erradicação do analfabetismo no Brasil, a ficha ainda não caiu. Ainda falta, por parte de nossas autoridades, uma transparente vontade política, e uma séria opção por uma educação de todos os cidadãos brasileiros. Parece que os nossos políticos não entendem que a dignidade cidadã somente se afirma com a educação do povo. Em primeiro lugar, qual é o status de nossos professores? Será que prometer um teto de novecentos e poucos reais, para 2010, como salário a um cidadão, que “ralou”, quatro a cinco anos em uma Universidade, para conseguir a licenciatura, é algo que um político honesto pode considerar justo e incentivador para um professor? E a situação social de grande parte dos alunos, que vêm de ambientes com moradias em condições sub-humanas, alimentação insuficiente e falta de condições familiares para o estudo? Uma autêntica vontade política para melhorar a educação nacional não pode contentar-se em centralizar a avaliação do nosso ensino por ENEN’s, por ENADE’s, exames gestados nos gabinetes com ar-condicionado do MEC/INEP em Brasília, com altos custos econômicos e distantes da realidade do povo brasileiro. Quando se afirma que todas as crianças brasileiras estão nas escolas, isto é mentira deslavada. Basta viajar pela Amazônia para se constatar que as crianças de metade do Brasil, em sua maioria, não estão nas escolas. E, aquelas que estão, naquela imensa região, muitas vezes, são recolhidas em precários barcos sem segurança. Interessante que no código de trânsito nacional não existe referência ou permissão para tal tipo transporte. E, em muitos outros interiores deste país, os municípios não fiscalizam o transporte escolar, quando existe. Verdade é que já existem exemplos de melhoria do ensino em lugares onde o Ministério Público pressiona prefeitos para cumprirem a constituição, que lhes atribui a obrigação do ensino primário e da alfabetização do povo. Se os prefeitos não tiverem recursos, que apelem ao Estado e à Federação por auxílios. Isto chamará as autoridades à responsabilidade e, talvez, com o tempo ocorra uma inversão no quadro atual no vergonhoso quadro de analfabetismo em nosso país, juntamente com uma vontade política para sairmos das estatísticas educacionais internacionais humilhantes em que o Brasil se encontra.