DESFAVELIZAÇÃO
Inácio Strieder
Há há algum tempo uma técnica da Secretaria de Educação visitou uma escola na favela do Coque/Recife. Primeiramente, para chegar a esta favela a técnica teve grande dificuldade de encontrar um taxista que se dispusesse a levá-la até a escola. Quando, finalmente, encontrou um com suficiente “coragem” de fazer esta corrida, o taxista, com as mãos tremendo, lhe explicou que a levaria até lá, mas não cobraria pelo taxímetro. Quando chegassem lá, ela lhe deveria deixar, rapidamente, R$ 10,00 (dez reais), pois imediatamente abandonaria o local. E assim aconteceu.
A técnica educacional chegando à escola, entrou. De imediato, não encontrou as professoras. Mas, numa sala estavam reunida algumas pessoas vestidas de alunas. Perguntou pelas professoras. As meninas responderam: “nós somos as professoras. Estamos vestidas de alunas, porque, ao sair daqui, não queremos chamar atenção, para que não nos assaltem. Inclusive, somos estagiárias. A maioria das professoras titulares nem vem à escola, pois tem medo da violência”.
Após este banho de realidade, a técnica começou a cumprir sua incumbência: aplicar um questionário às professoras e aos alunos. Claro, junto às professoras (estagiárias) cumpriu a sua função. Depois entrou em sala de aula para aplicar o teste/questionário. Encontrou resistência por parte de alguns alunos, que lhe perguntaram pelo que estava querendo no Coque, se queria “comer formiga” ... A técnica ficou deveras apavorada. O máximo que ainda conseguiu gaguejar foi dizer que assinalassem com “X” os quesitos perguntados. Grande parte, no entanto, dos alunos, mesmo de 4as. e 6as.-séries fizeram como se não soubessem ler e encheram os questionários desordenadamente com “X’s”. Será verdade? Sim! Diversas pessoas, que tentam fazer trabalhos sociais nas favelas do Coque, dos Coelhos e Joana Bezerra já relataram que os alunos das escolas deste lugares permanecem analfabetos mesmo nas 6as.-séries. Será que as Secretarias de Educação do Município do Recife e do Estado de Pernambuco sabem isto? Certamente sabem. Quem talvez não saiba é a sociedade em geral. As Secretarias, certamente, sabem. Mas sabem também que não existe solução neste ambiente de favelas. Nestas favelas não há possibilidade de uma vida digna. E onde não há dignidade humana, é impossível a educação onde se aprende valores de respeito, de dignidade. Por isto, estou absolutamente convencido que, sem a desfavelização radical no Brasil, não existe solução para os problemas da violência, do crime, dos homicídios, dos assaltos e para o respeito à nossa cidadania. Se os governos não enfrentarem a desfavelização, isto é, não derem prioridade absoluta à urbanização, muito dinheiro para a educação, para o fome zero, e para muitos outros programas sociais irá para o ralo. Reflitamos sobre isto, e não nos queixemos dos problemas decorrentes da falta de políticas sociais, quando equívocas ou deficientes.