Cadê os feios?

Estamos vivendo no meio de um “Apartheid estético”, cheguei a esta conclusão depois de observar a gradativa e sorrateira substituição do feio pelo belo, como fizeram a pouco tempo com o homem pela máquina. Já não se vê mais o feio trabalhando no shopping, raras as lojas que se atrevem a desafiar o modelo atual; na televisão ainda é mais descarado, nas primeiras novelas a empregada, o motorista, o jardineiro, o pescador, o jornaleiro, eram desdentados e falavam errado, hoje, são modelos e dominam dois idiomas; nas empresas e Repartições “Públicas” o formoso predomina, porém se justifica pelo processo de privatização que deu autonomia para o neoliberalismo ditar às regras do mercado e contratar sem os méritos do concurso público.

O emprego está escasso, as oportunidades estão diluídas, exige-se formação de todos os tipos, hiperbolizando: dentro de pouco tempo o caixa de supermercado vai precisar ter em seu currículo o curso superior de administração e ainda ser belo, não desmerecendo a profissão, mas sim a funcionalidade que preconiza um simples cálculo matemático. Entendo que precisamos ter excelência no serviço, mas para quê o exagero? Não basta ser bom profissional, e dominar o ofício, agora a beleza é mais um requisito.

Apesar de aparentemente inofensivo e até certo ponto causar admiração e arroubos, este movimento sorrateiro deve ser analisado com seriedade e preocupação, pois apresenta aspectos tão nocivos quanto à discriminação racial causando separações.

Pelo vértice poético a beleza é fundamental, mas para o mercado ela é dispensável, ou será que vai precisar criar a quota para os feios?