Neste carnaval de 2009, Pará de Minas desfila na Sapucaí

Neste carnaval de 2009, Pará de Minas desfila na Sapucaí

Quem será homenageado pelo carnaval da Escola de Samba São Clemente é o artista Benjamin de Oliveira, natural de Vila do Pará, hoje Pará de Minas _ o primeiro palhaço negro do Brasil.

Com talento e dedicação, Benjamin promoveu a primeira grande inovação do circo brasileiro, quiçá do mundo, quando introduziu no picadeiro o teatro e peças musicais.

Vejam a letra do samba-enredo da São Clemente, que narra sobre a vida e a obra do grande artista Benjamin de Oliveira e, a seguir, um artigo sobre esse filho de escravos que, na adolescência, fugiu com a trupe de um circo que passou pela cidade, indo parar no Rio de Janeiro.

G.R.E.S.São Clemente_Samba-enredo 2009

Rodrigo Índio, Alexandre Araújo, Fábio

Rossi, Rodrigo Telles, Armando Daltro

O menino fugiu pra ser artista

Voou pro mundo como faz um trapezista

Vendia o pão de cada dia pra sonhar

O palco é o seu lugar

Um dia o destino traçou

O céu de lona a brilhar,

A cara pintada de branco

E o coração colorido de amor

Da realidade fez palhaçada

Talento não tem raça nem cor

Encanto e sorrisos por onde passava

Aplausos... O show começou!

"Domo-a-dor" com esperança... Um lutador

Tem magia na cartola... Tem sim senhor!

(bis)

Dou cambalhota, sou um rei no picadeiro

Na corda bamba se equilibra o brasileiro

Segue a caravana pela história

Viu a liberdade de uma raça ser prisão

A Monarquia caiu, o marechal coroou

A obra do palhaço trovador

"Beija-a-mim", circo teatro que "com-graça"

Apoteose te abraça

Tira a máscara e revela

Veja que é preta e amarela

As cores de um grande amor

Lá vem São Clemente, desponta a guerreira

Moleca, faceira, que me faz feliz

(bis)

Eu trago no peito paixão verdadeira

Meu beijo moleque não é brincadeira

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Benjamin, filho da felicidade

Respeitável público, hoje, tenho uma grande história para contar. Como ocorre desde sempre, o circo tem a função de trazer o espetáculo até você. Vou começar.

Era ainda vila do Pará, 1870, quando o menino veio ao mundo. Nasceu forro. Não se sabe se os pais, Malaquias e Leandra, escravos, conheciam-lhe do nome de batismo, o significado. Benjamin: filho da felicidade. Se felicidade rima com liberdade, deve de ter sido por isso........ Rapazinho ainda, Benjamin deixou família e dono de fazenda que ainda o tinha como propriedade e partiu com um circo que fizera temporada no Patafufo, então Pará.

Respeitável público, teria ele se encantado com o riso, com a alegria que o circo trouxera para a cidade. E mais, o povo do circo viajava, estava cada tempo num lugar diferente. E ele, nem tinha medo de trabalho, pois plantava, regava, colhia, tratava e campeava animais, além de ser bom no trato da lenha, do fogo, das panelas de comida. E, devido a seus bons dotes, no circo, Benjamin prestava-se a tudo.

No entanto, respeitável público, aos olhos alheios, ele tinha um defeito. De cor. Sua pele escura destoava da dos outros artistas. E, o dono do circo, ah, esse se aproveitava. O fujão nem tinha consigo a carta de alforria!........ Mas, acho, Não. Creio mesmo. Benjamim entendia que felicidade rima com liberdade. Assim, fugiu com um bando de ciganos que passou por perto do circo.

Coitado. Ciganos não tinham como tarefa agradar e levar alegria por onde andavam........ Em pouco tempo, por causa de seu “defeito de cor”, quase foi dado por um cavalo dos bons de sela a um cigano dos mais velhos, dono de muitos cavalos, de muitas canastras de roupas, de muitos dentes de ouro e de nenhum coração. Não fosse a filha do chefe do bando caída de amores por ele, que na calada, ouvira a conversa do pai com os irmãos!

Respeitável público, Benjamin, que amava felicidade e liberdade, fugiu de novo. Perambulou pelo mato, viveu quase de vento, até que encontrou um novo circo. Na corda bamba, havia andando sempre, mas arriscou-se no trapézio, fez malabarismos, cuidou dos animais, da limpeza, da comida. Até que um dia, sem querer, teve de virar palhaço. Acha que foi fácil? Havia o tal “defeito de cor”! Palhaço negro não tinha graça.

Mas ele venceu. Triunfou. Tornou-se um grande artista. Um fazedor de riso, de lampejos de felicidade. Foi original. Inovou o espetáculo, criando o teatro dentro do circo. Compôs músicas, tocou violão, cantou, escreveu peças de teatro, representou, fez papel de Cristo, do Otelo de Shakespeare e encenou O Guarani, de José de Alencar. Tornou-se amigo dos grandes artistas de sua época e até do presidente Floriano Peixoto.

Todavia, no entanto, contudo, porém, meu respeitável público, Benjamin morreu quase sem nenhum vintém_ não fosse o deputado Jorge Amado_ que lhe conseguiu em plenário, uma pequena pensão. Mas, mas viveu e morreu alegre e livre. Nós, do Grupo NEPAA, do Rio de Janeiro, cidade onde Benjamim viveu até sua morte, em 1954, depois de pesquisarmos sobre sua vida e obra e após ensaiarmos durante muito tempo, viemos até aqui, Patafufo, Pará, hoje Pará de Minas, para contar a seu povo a história de uma de suas mais importantes personalidades, Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil, o rei do palhaços brasileiros, aquele que, durante décadas, só fez espalhar a alegria por onde passou.

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Terezinha Pereira
Enviado por Terezinha Pereira em 21/02/2009
Código do texto: T1450156