Escola libertadora

ESCOLA LIBERTADORA

No meio do tiroteio entre a intelligentzia oficial e o MST, os filhos de acampados, usuários das “escolas itinerantes” vão inaugurar nova categoria de excluídos: os “sem-escola”.

Há tempos, li uma matéria criticando o Ministério Público que, nas fráguas do deslumbramento do poder, excede suas funções, assumindo, em alguns casos, atitudes policialescas e até julgadoras. Para esta avaliação, é salutar lembrar que vivemos em um país que promove o direito antes da justiça.

Em um dos jornais da capital li uma matéria onde um integrante do Ministério Público, promotor ou procurador, não recordo, usa velhos e anacrônicos clichês, como “lavagens cerebrais”, “sociedade socialista”. Só faltou falar em “comerem criancinhas” e "cubanização". O artigo aludido é sofista e tendencioso, na medida em que rejeita o uso do dinheiro público para educar aquelas crianças, mas deixa de falar na inércia oficial de promover, com o mesmo direito, uma reforma agrária justa. Como promotor zeloso pela infância e adolscência (filhos de acampados) onde estão seus cuidados com os meninos de rua, sem escola e sem casa na zora urbana?

Dom Xavier Giles, Secretário Geral da CPT (Comissão Pastoral da Terra), que é um bispo da Igreja Católica, e não um “padreco” como foi chamado desrespeitosamente pelo promotor aludido, tachou a intenção de fechar as “escolas itinerantes” de terrorismo, escândalo e desrespeito.

Já imaginaram se o prelado classificasse o bacharel de forma igualmente desrespeitosa? Seria preso e processado. O funcionário público não está acima da lei e da ética para desrespeitar as pessoas. Esses destemperos verbais revelam a insegurança no trato da questão.

Fechar uma fonte de ensino, sem que se ofereçam alternativas, fere os princípios democráticos. Talvez seja melhor um “ensino a Fidel Castro” (que não é o caso) como foi falado, do que o estilo gaúcho de governar, onde historicamente a SEC, dando mau exemplo, não se acerta com seus professores e presta um ensino deficiente.

O promotor em debate parece defasado politicamente, quando fala em marxismo, conteúdo há muito superado. Alienante é a forma de ensino praticado pelos meios oficiais, onde a insistência sobre o “politicamente correto” cria gerações sem iniciativa, sem senso crítico, individualistas, onde ninguém pensa no coletivo.

Fechar as escolas será mais um golpe, aplicado à sorrelfa contra os movimentos populares. As crianças que sempre estudaram em acampamentos terão duas opções: ou deixam de estudar (o poder adora analfabetos, pois são manipuláveis) ou vão ter que caminhar quilômetros (a pé ou em ônibus sucateados) até as escolas

“regulares”. Isto é autoritarismo! O poder não quer jovens que pensem, mas que estejam embretados nos trilhos do “saber oficial” para reproduzir clichês alienantes e alienados.

Paulo Freire disse que “a educação deve ser libertadora ou não é educação”. Só liberta o sistema que ensina a pensar, a buscar o senso crítico e a julgar. Os governos de trato neoliberal adoram servir “pratos feitos”.

Por conta do patrulhamento da mídia neoliberal, do recuo da Teologia da Libertação e da imposição de uma ideologia que demoniza os movimentos populares, é que o Brasil não tem consciência social, sendo refém do status quo que valida políticas desastradas.

Filósofo e escritor

Ex-Professor universitário e

Doutor em Teologia Moral.