Na educação, é a meritocracia partidária que prevalece

Na educação, é a meritocracia partidária que prevalece

O educador brasileiro Paulo Freire é um dos teóricos mais venerados no mundo educacional, principalmente dentro dos cursos de formação de professores. Também compartilho dos ideais daquele pernambucano que revolucionou a educação, principalmente porque delineou a Pedagogia da Libertação, intimamente relacionada com a visão do Terceiro Mundo e das consideradas classes oprimidas na tentativa de elucidá-las e conscientizá-las politicamente. As suas maiores contribuições foram no campo da educação popular para a alfabetização e a conscientização política de jovens e adultos operários.

Freire ultrapassou as fronteiras da sala de aula e atingiu toda a educação. Dentre os seus conceitos há um que defendo piamente: a educação não é neutra, pois educar é um ato político. A política a que se refere Paulo Freire pouco tem a ver com aquela que estamos acostumados a vivenciar dentro das escolas. Mesmo me posicionando favorável as idéias de Freire e utilizando dos seus ensinamentos para enriquecer minha prática pedagógica, na condição de ser humano e de um político (no sentido mais amplo e freireano da palavra) tenho minhas ressalvas contra o grande mestre e principalmente contra aqueles que usam suas frases por pura conveniência ou modismo.

Parece que há um abismo entre os grandes teóricos e os professores de carne-e-osso que dão o sangue no dia-a-dia para tentar oportunizar aos seus alunos uma melhor qualidade de vida que, na visão de todo educador, se inicia pela escolarização. Em todos os lugares desse país existem Freires. Eles são educadores e educadoras que, literalmente, oferecem o melhor de si e tal como Jesus Cristo, dão a própria vida (inconscientemente) através da árdua missão de educar em situações tão adversas. As doenças psicológicas, cardíacas, respiratórias e as deficiências do aparelho fonador diagnosticadas na maioria dos educadores comprovam essa afirmação. Segundo a revista Nova Escola, mais de 60% dos professores do Distrito Federal possui algum tipo de doença adquirida em função das suas atividades profissionais.

Desde os primeiros anos escolares conheci muitos professores que eram exímios “ensinadores”, pois a sua função se limitava apenas a repassar conhecimentos. Esses causam-nos admiração pela competência e organização, mas não fazem tanta diferença em nossas vidas o quanto fazem os educadores. Este último grupo é formado por aqueles que tem uma visão freireana da vida, que extrapolam a barreira do discurso porque acreditam que o exemplo tem uma força propulsora muito maior. Dentre estes companheiros educadores de “carne e osso” da rede estadual de ensino que conheci em Laranjal do Jari/AP, gostaria de destacar a professora Gerdeana Silveira (hoje pedagoga na cidade de Oiapoque), o Josemar Luiz, Arlene Bacelar, Fátima Araújo, Júlia Constantino, dentre tantos outros que pretendo referenciá-los futuramente neste espaço.

É interessante como não existe meritocracia dentro do sistema público de ensino e principalmente dentro da rede estadual de ensino do Amapá. Apesar dos recentes esforços para democratizar as escolas, a SEED ainda caminha a passos lentos na forma de avaliar professores e principalmente nos critérios escolhidos para fazer as nomeações. É eloqüente que a prática dos professores pouco importa para as nossas autoridades, pois elas preferem aqueles que seguem rigorosamente as suas cartilhas partidárias a reconhecerem os verdadeiros freires de carne-e-osso que dão a vida pelo ofício de transformar pessoas em cidadãos.

*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br)

IVAN LOPES
Enviado por IVAN LOPES em 18/02/2009
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