CENTRO HISTÓRICO DE ARACAJU
A Rua Laranjeiras está ligada à história de Sergipe e aparece citada inúmeras vezes nas crônicas de Epifânio Dória como cenário de eventos significativos. Se o leitor deseja conhecer informações sobre tais acontecimentos, para tanto não faltam historiadores e pesquisadores que dão conta do recado.
O meu caso é diferente. Escrevo na qualidade de amante dessa rua comprida que olha dia e noite, lá na frente, as águas do Rio Sergipe.
A Rua Laranjeiras já foi endereço nobre, entretanto, nela conviviam em harmonia ricos e pobres. Por ela desciam e subiam todos os veículos, de qualquer porte; também carroças, bicicletas e já teve até bonde. Um espaço verdadeiramente democrático.
Nessa rua que, se fosse minha eu mandava ladrilhar com pedrinhas de brilhante, moraram os professores Maria Lima Menezes, José Hermenegildo da Cruz, Valquírio Lima, Uchoa _o da UNIT_; Seu Orlando, da Farmácia Nossa Senhora das Graças; o construtor de casas, Nathanael Seabra; o Padre Pedro; Said Jorge Shoucker; Seu Antônio do leite, Joviniano, da Furna da Onça; a família Donald; Zé das Abelhas e tantos mais.
Aqui por perto moraram os doutores Basílio, Garcia Moreno, Roosevelt Cardoso de Meneses, Costa Pinto, José Maria, Washington. Por perto também tivemos o auge da Rádio Cultura, do jornal A Cruzada. Somos (ou fomos) vizinhos dos hotéis Brasília e Amado; do Cinema Aracaju; dos Correios e Telégrafos; das padarias Minerva, Ceres e União; da Escola Normal; do Hospital Adauto Botelho; do antigo Colégio Tiradentes.
A Rua Laranjeiras era o cartão de visita de Aracaju, linda, cheia de gente, de festas e de jovens trelando pelas calçadas, indo para a Catedral, Praça Fausto Cardoso, Rua João Pessoa, Rodoviária Governador Luís Garcia, sorveterias Iara e Cinelândia, Cacique Chá e Cascatinha. Uma rua perto de tudo que agora virou a rua longe de tudo.
Construíram o primeiro edifício de apartamentos em Aracaju e, como aqui adoramos novidades, não importam as consequências, passamos quase todos a ter certeza de que morar em apartamentos é algo mais chic e bem superior a morar em casas com quintais cheios de mangueiras, coqueiros, sapotizeiros e pés de graviola, carambola, pitanga, etc.
Depois da moda, o bicho pegou e Aracaju está repleta de edifícios residenciais onde as pessoas se acham muito seguras mesmo que passem a maior parte do tempo nas ruas da cidade. Mas é ilusão. A segurança não existe, pelo menos no nível que se imagina. Os causadores de insegurança passam pelas ruas, mas também moram em condomínios fechados. São tantos os casos de quebra de segurança acontecidos no interior desses locais.
Hoje qualquer apartamento, por menor e desconfortável que seja, é supervalorizado e custa o dobro ou mais do que uma casa espaçosa nas ruas do centro da cidade. Imóveis situados em locais que antes eram batizados de “fim de mundo”, ou então de “é lá que o cão perdeu as botas e não voltou para pegar”, ou ainda de “é lá que o vento faz a curva” são agora “biscoito fino”. Como esse mundo velho faz voltas.
Ainda sobre segurança, parece que em Aracaju, só quem a merece é a avenida que vai dar na Praia de Atalaia. Chegou à Atalaia, pronto, acabou o cuidado. A Rua Laranjeiras e outras próximas parecem ruas de filme de assombração. Ninguém nem liga. Pode o mundo se acabar que já não é sem tempo.
O abandono em que se encontram as ruas do tal Centro Histórico de Aracaju é um problema. Onde há um problema surgem as hipóteses. Por que será que estão desvalorizando as ruas do centro de Aracaju? Que intenções há por trás disto? Por que uma casita lá onde jamais um aracajuano queria viver passou a ter o valor de um palacete? Por que será que o argumento de corretores é sempre o de que as casas são antigas, velhas, nada valem e devem ser demolidas? Por que em outros países, quanto mais antigo melhor? Por que não há segurança policial para as ruas do centro da cidade de Aracaju? Por que , quando há essa segurança, só é destinada a bancos e casas comerciais? Os moradores teimosos das ruas do centro da cidade não pagam impostos?
Preciso tirar uma conclusão a respeito de tudo isto e muito mais.