Paulo Freire, um semeador

“Um semeador saiu a semear a sua semente...” Assim, com esta epígrafe da Bíblia extraída da parábola do semeador é que me proponho a falar de quem se baseava em uma filosofia de educação inspirada no existencialismo cristão e que doravante tentarei ilustrá-lo, espero eu da melhor forma, com minhas humildes palavras.

Paulo Freire, um homem que hoje é, para nós brasileiros, um símbolo e um exemplo para educar. Como sugerido, ele veio a plantar sua semente. Utilizava material de textos com temas extraídos da vida cotidiana dos seus alfabetizandos. Recorria a essa conscientização política porque via nela uma maneira mais rápida de repassar os conteúdos aos alfabetizandos, já que em certos livros havia abordagens que não faziam parte da realidade a qual se encontravam.

Quando Diretor do Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife aplicou na cidade de Angico um plano de alfabetização. Para deixar sua marca, sua semente, ele, ao invés de investir em salas repletas de recursos, mais colégios, mais instituições de ensino ele desviou sua atenção aos professores. Começou a capacitá-los procurando torná-los preparados a qualquer situação educacional que o estado se encontrasse dali por diante. Incompreendido por todos foi. Ninguém percebia, até então, que construir uma ponte educacional que conduzisse uma nação com pessoas bem formadas e elucidadas até um patamar mais elevado não é como construir uma ponte física que une uma extremidade a outra. É muito mais complexo.

Tratar da educação como um projeto comum é tratá-la com descaso. A educação é um bem muito mais durável que uma ponte qualquer erigida apenas para ligar uma extremidade a outra. A educação não apenas une extremos, ela procura fazer com que eles se entendam, aceitem-se e se respeitem. Tratar da educação como apenas algo de proporções rentáveis e desviar toda e sua origem, posto que a educação não é um bem comerciável (ao menos não era para ser.), mas é algo que se conquista a cada percurso decorrido de nossa fase escolar.

Paulo Freire foi levado a exilar-se no Chile quando o presidente Goulart foi deposto, justamente quando o seu projeto chamado Plano Nacional de Educação, que visava a aplicação do seu método de alfabetização a 16 milhões de adultos, estava sendo viabilizado. Quando no Chile suas idéias e seus projetos educacionais foram contemplados para implantação, entretanto se viram novamente ameaçados ante o duro ataque que o presidente Salvador Allende sofrera do dia 11 de Setembro de 1972. Ali ficou de 1964 a 1973 quando mais uma vez se viu obrigado a deixar o país, nesse caso o que lhe acolhera no exílio, assim como tantos outros brasileiros que tiveram a mesma idéia que ele. Como o atual governador de São Paulo e ex-Ministro da Saúde, José Serra. Deixara ali também a sua semente.

Sementes estas que estendem pelo continente americano, pela Europa e pela África, posto que de 73 a 79, fora convidado por instituições de ensino estadounidenses e pala Unesco a realizar conferências e cursos.

Como exemplo mais nítido de suas sementes que deram bons frutos no exterior podemos mencionar Cuba e Guiné-Bissau.

Algo que é certamente curioso, tratá-se que o atual prefeito da capital paraibana pretende copiar os mesmos moldes educacionais utilizados em cuba e implantá-los pouco-a-pouco nas instituições educacionais do município que administra com aquisições nada comuns aos moldes cujo ao quais estamos acostumados a ver como a presença de um psicólogo educacional, um orientador educacional, mais subsídios aos professores, etc. Todas essas implantações são idealizações de Paulo Freire.

A educação é um processo lento. Suas melhorias na sociedade não se apresentam como a construção ou a ampliação de uma via com a finalidade de desafogar um trânsito. Ela deve percorrer um árduo e sinuoso caminho até que possa dar, por fim, bons frutos.

É como plantar uma árvore que necessita de cuidados e atenção e muita paciência até se colher seus frutos. Dentro das tradições judaicas deve-se esperar até a sétima vez que a árvore der fruto para consumi-lo, pois é quando o fruto passa a ter todo o sabor de um fruto.

Para o contexto Bíblico a semente, como explica Jesús, trata-se da Palavra de D’us. Para Paulo Freire a sua semente é a educação. Uma semente, que se bem cultivada, dará bons frutos. Frutos estes, que se bem colhidos e acondicionados, hão de suprir as necessidades daquele que deles se alimentam. Frutos estes também que tendem a colaborar a adoçar não somente a vida do que a saboreia, mas daqueles que compartilham do mesmo fruto. Uma vez que a educação não pode e nem deve ser privilégio de poucos. Visto como em um país que se diz democrático é um contra-senso que apenas poucos tenham acesso à educação.

Paulo Freire tinha consciência do Inacabado. Para ele o ser humano era muito mais que um “espaço vazio a ser cheio por conteúdos”. Tratar humanos como humanos e não como máquinas ou estatísticas. Descobrir o “ser gente” que compõe cada um de nós para através dele encontrar a forma correta de educar-nos. Jamais se eximiu de aprender somente porque estava ensinando porque para ele não existirá jamais docência sem discência.

Quando se ensina não se deve transferir conhecimentos, como se estes conhecimentos não tivessem uma origem ou como se fossem verdades absolutas. Deve-se proporcionar um caminho que leve o educando à construção do seu próprio saber. O Professor não é um ser incontestável ou o detentor de toda a verdade, posto que também é um ser humano em formação, mas é alguém que conseguiu vencer alguns obstáculos a mais de quem nele confia a condução a um caminho mais seguro aos conhecimentos que formam nossas relações éticas e sociais. Ensinar relaciona-se intrinsecamente com o aprender, pois em seus estudos, observou que os homens aprenderam que era possível ensinar e depois tiveram que aprender maneiras e métodos para ensinar. Então ensinar passava antes pela experiência de aprender.

Paulo Freire percebeu que a problemática que surge com a necessidade da educação iría mais além do que se pode imaginar. A cada geração a educação requisita novas temáticas e abordagens. Por isso não foi compreendido quando procurou proporcionar meios para que os educadores pudessem se aperfeiçoar ao longo de sua experiência docente a fim de se tornarem sempre mais qualificados aos contextos educacionais que se apresentassem por conseguinte.

Orgulhava-se de ser comum. De ser gente. De ser humano a ponto de errar, mentir. De ser falho. De ser inacabado como todos os humanos normais. Orgulhava-se de ter a capacidade de escolher entre o certo e o errado e assumir as conseqüências de seus atos. De ter a oportunidade de fazer o certo sempre se sobrepondo ao errado.

A escolha deve partir do homem. A escolha de estudar, de trabalhar, de aprender ou de ensinar. Qualquer um pode ensinar bem como qualquer um pode aprender. O direito é mútuo a todos (ao menos deveria ser.) e é dever dos órgãos responsáveis proporcionar tais acessos. Devemos sempre estar disposto a melhorar as coisas, a sempre plantar uma semente confiante de que, embora que tarde, porém melhor que nunca, ela comece a germinar oferecendo assim, em sua ascensão, sombra ao que esteja abatido, alimento ao que esteja faminto e orientação ao que busca algo. Mesmo que quem semeie jamais colha o fruto ou a veja crescer, contudo que faça alguma coisa de produtivo para mudar o mundo em que passamos, ainda que não sejamos nós os mais beneficiados e sim os que virão, pois o importante para começar uma caminhada está em der o primeiro passo.

Paulo Freire voltou para o Brasil em 1979, ingressou na Unicamp e permaneceu até 1989, depois exerceu o cargo de Secretário da Educação na prefeitura de São Paulo até 1991. Morreu em 1997 aos 76 anos.

Luis Carlos Wolfgang
Enviado por Luis Carlos Wolfgang em 16/02/2009
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