O RETORNO DO RELIGIOSO

O retorno do religioso no século XXI é uma questão sempre presente em minhas reflexões. Pensando nisso, qual será a razão maior para este novo advento da religião? Será que vivemos uma “Era dos Extremos” em nosso século XX e tememos um retorno das piores catástrofes que o homem já experimentou?

Em toda nossa historia tivemos ideologias que pretendiam mudar o mundo, como por exemplo, o comunismo, o Estado Liberal, o Estado de Bem Estar Social e a democracia. Invenções que quando surgiram nos prometeram um mundo melhor e mais feliz, mas não é que todos falharam! Então o que sobra ao pobre homem? O religioso. Em última instância, o ser humano apela à religião para que esta preencha os vazios deixados pela falência de todas ideologias mundanas.

Assim, o homem após esgotar suas possibilidades de auto-gestão da vida, após tentar por si controlar todos os aspectos da vivência, rende-se impotente, e retorna ao seu berço metafísico, Deus ressuscita.

Mas como pode um fenômeno desta proporção? Como, se nós haviamos matado Deus já há tanto tempo, como ele pode assim no meio do nada ressurgir? E a pergunta sempre pulando em minha cabeça, qual é o sentido do religioso hoje? Século XXI e religião, o que é isso?

Ora, o homem necessita de sentido para a vida. Não pode ele vagar e vagar depois de tanta decepção com as citadas ideologias sem respostas para suas questões. O niilismo é uma doença insuportável, não conseguimos suportá-lo, pois uma vida carente de sentido é uma existência vã. Então, com a morte das ideologias e com Deus morto já a tanto tempo, resolvemos, pela absoluta falta de sentido para a vida, ressuscitar este último.

Porém este ressurgimento de Deus, do religioso, vêm em novíssima roupagem. Não temos mais um Deus, como se tinha na Antiguidade ou na Idade Média, que seria a base de todos os valores. Não, hoje também a religião institucionalizada perdeu muitíssimo terreno, ficando ao arbítrio de cada um criar o seu próprio relacionamento com o divino. Cada vez mais afastado das práticas tradicionais, o religioso do século XXI, inventa para si um Deus e um culto próprio, ele mesmo cria à sua moda o seu religare. (religação=religião/ religare – latim).

Hoje, Deus é um funcionário à disposição de seu rebanho. Ele deve proteção, saúde, prosperidade, felicidade, amor, etc, àquele que nele credita suas esperanças. O leitor pode observar, se tiver alguma perspicácia, que as religiões que mais crescem são aquelas que se adaptam aos anseios de seus seguidores. Se uma religião não possuir essa capacidade de adaptação social seu destino é cada vez mais ir minguando, até desaparecer. (Igreja Católica Apostólica Romana)

Mas mesmo aqueles que seguem uma religião institucionalizada, possuem suas discordâncias e pontos de atrito. Coisas que deliberadamente não cumprem por acharem não ser necessário o estrito cumprimento dos preceitos pregados por sua religião. Esse tipo de procedimento, há algumas décadas, não era comum. Era assim; ou aceitava-se os dogmas, ou não se participava de religião alguma.

Fora todo aspecto mercantil-capitalista que a religião possui em nossos dias, essa certa independência e criatividade religiosa do século XXI é o que consegui até agora perceber como algo novo na religião. Ou seja, o crente de hoje já não é mais aquele que simplesmente obedece cegamente à sua religião. Este contesta, briga, inventa, muda de denominação e até de fé.

Contudo, o grande tombo de quem adere novamente à religião para responder às questões essenciais da vida, esquece que esta nunca respondeu de maneira satisfatória nossas indagações. E não é agora que responderá. Agora a confusão tende a ser ainda maior, pois com maior liberdade de crença e opinião, mais confusa e cheia de múltiplas respostas nos apresenta a religião.

Vejo a independência e a criatividade religiosa como avanços. Avanços na direção de que o homem, quiçá um dia, abandonará toda a metafísica e caminhará de fato sozinho. Criando valores por ele mesmo, e vivendo a vida como ele mesmo conceber. Afinal, sempre estivemos sozinhos, apenas não conseguimos ainda aceitar esta terrível realidade.

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 15/02/2009
Código do texto: T1441169
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