O uso abusivo de medicamentos

Na prática clínica diária deparamos com situações que nos deixam abismados, perplexos e incrédulos. Esta perplexidade se configura devido ao não conhecimento ou mesmo a pouca ou nenhuma importância dada por alguns médicos às reações adversas ao uso indiscriminado e, algumas vezes, sem indicação clínica, de medicamentos, especialmente anti-hipertensivos, antibióticos e antiinflamatórios.

Encontramos com pacientes em retorno ou em novas consultas no posto de saúde, consultório, ou nas urgências e emergências de hospitais portando verdadeiros “jornais” em forma de receitas médicas. Às vezes verifica-se numa mesma receita antibióticos que têm a mesma ação ou anti-hipertensivos que agravam a diabetes, etc. Essas prescrições médicas, em algumas ocasiões, podem ser a causa da persistência ou agravamento do quadro clínico ou aparecimento de outras queixas.

Os medicamentos são substâncias químicas, exaustivamente testadas, usadas para o tratamento das doenças que acometem os seres vivos. Também faz parte dessa situação a noção que todos temos de que essas drogas, todas elas, sem exceção, apresentam duas ações completamente distintas. A primeira e a mais extraordinária é o benefício de curar, debelando as enfermidades para a qual foram avaliadas e posteriormente indicadas. E a segunda, não menos importante, é a capacidade de agravar a doença já existente, e por vezes causar outras enfermidades.

As reações adversas ou efeitos colaterais ou ainda para-efeitos a medicamentos constituem um agravante importantíssimo na prática da área da saúde, e se constitui atualmente num severo problema de saúde pública. Sabe-se que essas reações são causas significativas da insistência do quadro clínico bem como de hospitalização trazendo aumento substancial dos gastos públicos e privados com despesas hospitalares. Bem como pela ampliação do tempo de permanência hospitalar e, até mesmo, de óbito.

Além disso, influenciam na qualidade da confiança do paciente para com o médico, aumentam custos, podendo também atrasar o tratamento, uma vez que suas reações adversas podem assemelhar-se à doença que está sendo tratada.

Vem de longas datas a máxima enraizada na população de que “médico bom é o que tem sua receita uma lista sem fim”, ou seja, com uma boa quantidade de itens medicamentosos. É tanto que se um cliente entrar para se consultar e, após ser examinado, sair apenas com explicações do profissional que o atendeu, já sai dali dizendo que o mesmo não sabe de nada, pois não prescreveu nem um “cibazol”. Os médicos se deparam, muitas vezes, com esta situação. Ou seja, o povo tem um pensamento que médico bom é aquela que receita muitos medicamentos.

Trago este tema para o leitor tomar conhecimento e ficar atento. Em alguns episódios se faz uso de medicamentos prescrito por profissional competente e não se obtêm um bom resultado. Necessário se faz retornar ao profissional que o atendeu e ser reavaliado. O paciente pode estar sendo portador de uma reação adversa aos remédios usados, necessitando urgentemente de ser corrigida a terapêutica instituída. A demora ao retorno não deixa de ser um agravante importante.

Convém salientar que esta entidade pode acometer qualquer idade. Porém deve-se atentar para os extremos. As crianças e os idosos são os mais suscetíveis. Nos serviço médicos de urgência e emergência são contabilizados muitos casos de hemorragias digestivas (sangramento no estômago) pelo uso inadequado (longo tempo) de antiinflamatório em pessoas acima de sessenta anos. Diarréia persistente em pacientes fazendo uso de antibióticos. E inúmeros outros agravos podem ter essa causa. E assim por diante...

As pessoas precisam acreditar e confiar em quem o atendeu. Se o médico ouviu seus reclames e lhe examinou, é evidente que vai lhe prescrever usando o melhor e mais atual de seus conhecimentos científicos. Pelo menos é isso que se espera de um bom profissional.

Se sua receita foi apenas orientações, conselhos, é certo que está tomando a mais perfeita conduta. Se escrever uma lista de alguns medicamentos certamente procurou a decisão mais adequada, mais cientificamente correta. Contudo, se o paciente não obtiver melhora deve apelar ao seu médico, procurando-o.

Não se deve usar medicamento sem ter antes conversado com um profissional médico. Deve-se ter muito cuidado, pois as reações adversas aos medicamentos podem ser a causa da perseverança de algumas doenças inclusive de morte.

É sempre bom lembrar que todos os remédios têm os seus efeitos colaterais, além da chamada reação por antagonismo e ou sinergismo.

José Arimatéia de Macêdo – Médico

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Sítio: www.arimateia.med.br