FICAMOS SEM CARNAVAL?

Quando, em meados da década de 90, o prefeito Amazonino Mendes e o vice Eduardo Braga inauguraram a praça de alimentação do Dom Pedro I havia uma condição explícita: A praça deveria funcionar 24 horas por dia. Os permissionários foram conscientizados que em nenhuma hora do dia ou da noite deveria faltar alimentação para quem procurasse. É claro que, na madrugada não só os trabalhadores em hospitais, farmácias, restaurantes e táxis procuram um lugar para comer. Também os boêmios procuram um lugar onde possam tomar a “saideira”. Assim, a praça foi concebida para ser de alimentação e bebida.

Hoje os tempos mudaram. O vice-prefeito da época, hoje é o governador cuja polícia anda fechando bares a torto e a direito às 23 horas. Chegaram ao cúmulo de interferir nos ensaios de uma escola de samba, no episódio conhecidíssimo que envolveu um juiz de direito. Recentemente quiseram fechar o tradicional Bar do Armando onde ocorria um descontraído ensaio da BICA. Outras casas foram fechadas na noite do dia 4 de fevereiro porque o senhor Secretário de Segurança teria determinando o fechamento das casas noturnas enquanto estivessem em Manaus os membros do Comitê Olímpico Internacional.

Crimes contra a economia popular continuam acontecendo todas as noites, com destaque especial para o final de semana, onde empresários são forçados a mandar os clientes para casa pela pressão da polícia armada. Um dia, no futuro não muito distante, estudantes de direitos vão estudar isso, como hoje estudam os atropelamentos legais do período militar.

O pior de tudo, é que muitos vêem isso e dizem: não é comigo. Começou com a proibição dos ônibus de circularem à noite; Num final de semana fecharam centenas de bar na zona leste; Depois fecharam meia centena no centro; Mais tarde prenderam arbitrariamente um dono de bar; Então desrespeitaram os direitos de um freqüentador importante; Mais adiante vão direcionar o foco para outro setor da economia. E a sociedade fica calada, vendo seus direitos indo pelo ralo.

Uma das condições para que uma cidade seja sede de jogos da copa é que tenha atividades durante as 24 horas do dia. Manaus está investindo num mega projeto para amealhar alguns jogos. Quando a polícia inventa que bares devem ser fechados porque há “fiscalização” do COI, alegando ordens do Secretário de Segurança , nós já temos uma amostra do que se entende por “segurança”.

Como a intenção parece ser fechar a cidade, poderíamos fazer experiência proibindo o carnaval depois das 23 horas. Se o povo está proibido de sair depois das 23 horas, como se pode permitir que o carnaval - fonte de todos os pecados – ainda sobreviva? É um bom começo. Depois se elimina o Boi Manaus, Carnaboi, Revellion etc, assim chegaremos a 2014 mostrando o que pode haver de mais triste numa cidade.

Por fim, nossa recomendação é que proíbam a tv, principalmente a cabo, Internet e instalem o toque de recolher às 23 horas. Que também organizem os ladrões e outros marginais que atuem somente durante o dia, como muitos já vêm fazendo. Assim teremos o progresso às avessas e, quem sabe, podemos bater nosso futebol em velhas bolas de couro, com jogadores não pagos. Voltaremos à Manaus do lampião à óleo de peixe-boi.

Talvez não seja preciso chegar a tanto. Que tal apenas voltar aos princípios que nortearam o vice-prefeito de 1993?

Luiz lauschner – Escritor e empresário

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 14/02/2009
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