As hipóteses do inatismo para explicação da linguagem
As hipóteses do inatismo para explicação da linguagem
Márcia Rejane Alves Rodrigues
Maria Neuma Freire Araújo
Este artigo tenta dar um apanhado dos trabalhos sobre Aquisição da linguagem, baseados na teoria Inatista. Assim como também, dar destaque aos trabalhos de Noam Chomsky. Tratando resumidamente, dentre outros, das teorias: Gramática Universal e Princípios e Parâmetros.
Há muito tempo iniciaram estudos para saber como ocorre o processo de obtenção da linguagem no ser humano, sabendo que entendê-lo é muito pertinente. Trata-se de uma capacidade humanística crucial, cuja nos permite realizar inúmeros atos necessários, pois a capacidade que o ser humano tem de se comunicar verbalmente é utilizada infinitas vezes por “todos”, diariamente, seja para pedir ajuda a alguém, seja para fazer declarações amorosas, para pedir perdão por algo errado que se fez, para denunciar uma ação ultrajante contra a sociedade, ou mesmo, para escrever e ler com compreensão, pois estas duas últimas só se realizar através de pessoas que já adquiriram a linguagem verbal (na maioria dos casos).
Enfim, para se compreender a aquisição, assim como também o desenvolvimento da linguagem, foram realizados muitos estudos com o objetivo de explicar esta incógnita. Muitas foram as conclusões que se chegaram, dentre elas, há uma corrente psicológica muito importante, cuja tem conseguido grande repercussão, até porque suas teses são muito reveladoras e interessantes. Estamos falando do Inatismo, baseada na corrente filosófica Racionalismo, cuja surgiu depois do Empirismo.
Segundo os racionalistas, a principal origem do conhecimento humano é a mente, pois, tanto a percepção, como também a compreensão que fazemos do mundo externo surgem do “preenchimento de certas proposições e princípios da interpretação, que são inatos, e não derivados da experiência.” (DUARTE)1. Seguindo o raciocínio dessa proposição, chegam até os indivíduos determinado número de capacidades específicas, incluindo a capacidade da fala, cuja tem como principal objetivo, permitir a aquisição do conhecimento, pois através da linguagem qualquer indivíduo amplia seu conhecimento. A capacidade que ora falamos, não seria determinada por estímulos, como afirmam os empiristas, e sim, “pertencentes a uma herança lingüística genética comum a toda espécie humana”. (DUARTE).
Noam Chomsky realizou um trabalho muito importante referente às origens do processo de Aquisição da linguagem. Ele se contrapôs ao que afirmavam os behavioristas e não acredita que uma criança aprende a falar somente por meio da imitação de outras pessoas, ou mesmo, por meio do processo estímulo-resposta. E sim, na afirmativa que toda criança considerada normal está predestinada a realizar determinadas atividades tais como adquirir estruturas gramaticais muito difíceis, tão rapidamente que, não o faria se tivesse que imitar todas as palavras para que fosse capaz de dizê-las. Para ele, “o fato de que todas as crianças normais adquirem estruturas gramaticais bastante complexas com uma rapidez imensa sugere que os seres humanos são de algum modo predestinados a fazer isto”.
Consoante Chomsky, as crianças nascem predestinadas a desenvolver determinadas capacidades, estas sendo herdadas geneticamente. No entanto, estas capacidades só podem ser desenvolvidas através do contato com outras pessoas falantes. A criança precisa estar inserida em um meio em que haja pessoas falando, para despertar nela o desenvolvimento da competência que ela possui de forma inata, porque se ela não for inserida nesse meio, essa capacidade não poderá ser desenvolvida. Para exemplificar o que está sendo afirmado, tem-se um caso de um rapaz chamado Kaspar Hauser, cujo cresceu, desde muito pequeno, isoladamente, tendo sido privado deste ambiente necessário para adquirir a linguagem. Por esse motivo ele foi incapaz de desenvolver sua capacidade de fala. Somente, com aproximadamente 15 anos, segundo registros que se tem, é que ele conseguiu pronunciar suas primeiras palavras. Isso porque nessa idade ele teve seu primeiro contado com um falante, cujo lhe ensinou também a ler e a escrever. E depois disso conseguiu inseri-lo na vida social; sendo, portanto, a partir dessa época que ele pôde aumentar seu acervo de palavras, expressões verbais e a formar sua gramática de forma abundante, por estar inserido num ambiente que continha inúmeros falantes.
Há uma proposição feita por Chomsky (1965), citado por Alessandra Del Ré et al. (2006), cuja afirma que “cada criança nasceria com uma fechadura, pronta para receber uma chave; cada chave acionaria a aquisição de uma língua diferente, daí todas nascerem com a mesma capacidade e poderem adquirir as mais diferentes línguas”.
Dando continuidade às teorias lingüísticas de Chomsky, buscando explicar curiosidades envolvidas à questão da aquisição da linguagem, tem-se a teoria da Gramática Universal e a teoria de princípios e parâmetros. Chomsky (1965) propõe que:
... a criança tem um disposlïtvo de aquisição da linguagem (DAL) inato que é ativado e trabalha a partir de sentenças (Imput) e gera como resultado a gramática da língua à qual a criança está exposta. Segundo o autor, esse dispositivo é formado por uma série de regras, e a criança, em contato com sentenças de uma língua, seleciona as regras que funcionam naquela língua em particular, desativando as que não têm nenhum papel.
Seguindo essa afirmação, existe na criança uma gramática universal congênita, onde há regras que serão selecionadas por ela, através do critério de quais as que estão ativas em sua língua de origem.
A teoria de princípios e parâmetros de Chomsky, muda o conceito de Gramática Universal, pois a primeira afirma que a segunda é formada de princípios invariantes, cujos se aplicam de igual forma em qualquer língua; o que vai variar e dar origem às diferenças entre as línguas e às mudanças numa mesma língua são os parâmetros. Quem vai decidir qual valor atribuir a cada parâmetro é a própria criança.
Por exemplo, assume-se que as sentenças de todas as línguas devam ter sujeito. No entanto, esse sujeito pode ou não ser omitido - esse é o parâmetro que precisa ser marcado. Caso a criança seja exposta a dados do inglês, ela vai marcar o valor do parâmetro como "o sujeito deve ser sempre preenchido", pois é o que acontece nessa língua ... por outro lado, caso a criança seja exposta ao português, o valor do parâmetro será "o sujeito pode ser omitido".
Ainda há muito o que explorar da teoria Inatista da Aquisição da Linguagem, pois as pesquisas e os trabalhos realizados pelos racionalistas são bem extensos e profundos. Apesar da extensão e profundeza desses trabalhos continua havendo incógnitas, perguntas para serem respondidas. Mesmo assim, a contribuição dada pelos estudos já realizados foi de grande valia, pois contribui significativamente para se entender mais sobre a origem e desenvolvimento dessa capacidade peculiar do ser humano.
NOTA
1- O ano da publicação não foi colocado porque não conseguimos localizá-lo na fonte pesquisada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUGUSTO, M. R. A. (jul./dez. 1995) Teoria gerativa e aquisição da linguagem. Feira de Santana. p. 115-120.
DUARTE, F. B. O mentalismo, o empirismo e o funcionalismo nos estudos da linguagem. http://www.filologia.org.br/soletras/2/07.htm. Acesso em: 05/02/2007.
RÉ, A. D. et al. (2006). Aquisição da Linguagem uma abordagem psicolingüística. Editora contexto. São Paulo.
SOUSA, R. B. et al. (2006). A teoria inatista de aquisição da linguagem. http://www.partes.com.br. Acesso em: 05/02/2007.
Márcia Rejane Alves Rodrigues E Maria Neuma Freire Araújo fazem parte do Grupo de estudos Lingüísticos e Sociais(GELSO), coordenado pelo professor Vicente Martins, da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará. E-mail: vicente.martins@uol.com.br