Como as crianças desenvolvem a argumentação infantil
Como as crianças desenvolvem a argumentação infantil
Daniele Pontes Passos
Márcia Rejane Alves Rodrigues
Maria Neuma Freire Araújo
Patrícia Andrade
Este artigo tenta demonstrar aspectos e processos de ocorrências da argumentação infantil, no âmbito da Psicologia do Desenvolvimento e da Psicolingüística, apresentando fatos importantes sobre o histórico de estudos da argumentação na linguagem infantil.
A partir do século XX, começaram os estudos sobre a linguagem infantil e a lingüística ainda não havia adotado métodos e nem um objeto principal de estudo, existindo aí uma mistura de estudos sobre a comunicação lingüística.
Estudiosos como Saussure e Bloomfield, introduzem um olhar científico sobre a lingüística, passando a observar e descrever os fatos lingüísticos com embasamento teórico. E, a partir dos anos 50, com Chomsky, os estudos para a elaboração de uma teoria lingüística ganham novos contornos com a criação da Gramática Gerativa Transformista. Com base nesse aprofundamento dos estudos lingüísticos, surgem novas ciências que ajudariam a desvendar processos lingüísticos, desconhecidos até então, como a psicolingüística encarregada de estudar os processos psicológicos ligados à aquisição da linguagem.
A psicologia trouxe vários questionamentos ao campo lingüístico e foi na junção das duas ciências que se percebe que a linguagem e o pensamento são os criadores das experiências humanas, através do pensar, do ler, do escrever, do ouvir e do observar, do vivenciar e do participar.
Até hoje muitas dúvidas ainda persistem sobre como a aquisição da linguagem é adquirida. Algumas teorias e abordagens tentam explicar tal fato, que é o caso do Empirismo e do o Racionalismo. A proposta empirista, através do behaviorismo e do conexionismo, defendiam que as experiências dos indivíduos eram fatos fundamentais para justificar o processo de aquisição. Já os racionalistas por meio do inatismo admitiam que o indivíduo já nascia com capacidades inatas e que a mente/pensamento era responsável pelo processo de aquisição da linguagem, herdadas geneticamente.
A partir dessas discussões surgem outras correntes aquisicionistas e as pesquisas avançam com as teorias cognitivistas de Piaget e interacionistas de Vygotsky ligadas à vertente construtivista.
Para Piaget a aquisição se dá no interagir da criança com o meio, já Vygotsky foi mais além, pois para ele o processo comunitivo de aquisição se dava do contato da criança com o meio, pela mediação do outro, nas trocas comunicativas entre criança x adulto ou criança x criança.
Existe, nas pesquisas que se tem sobre a argumentação na linguagem infantil, divergências ao se falar das possibilidades argumentativas. Pois há a crença de que a criança se insere no “mundo” da argumentação muito cedo, principalmente na argumentação cotidiana, e por outro lado, também há a crença de que essa argumentação só vem tardiamente.
Para se chegar próximo a uma conclusão dessa incerteza, faz-se necessário o estudo de algumas principais perspectivas, como também de um “histórico” dos estudos acerca da argumentação na linguagem infantil.
O que trata este artigo tem sido de interesse de muitos, há tempos, começando com os sofistas. No entanto, o que marcou a retomada desses estudos de forma intensa foi as publicações de dois livros intitulados de: The Uses of Argument, do filósofo inglês S. E. Toulmin e Traité e l’argumentation, dos autores Perelmam e Olbrecht-Tyteca. O que estes livros abordavam ficou sendo alvo de muitas críticas e avaliações, mesmos assim, continuam servindo de referência para estudos sobre argumentação infantil.
A teoria de Toulmin sobre a argumentação toma destaque em dois aspectos que acabam por causar impacto sobre o que se entende hoje, por argumentação. O mais interessante deles é “o modelo por ele proposto para descrição e análise das funções dos vários elementos (ou “passos”) que constituem a argumentação”. (Leitão, Selma e Banks Leite Luci, in Alessandra Del Ré). O modelo criado por Toulmin é composto por cinco passos que são:
“o primeiro passo ... é a formulação de um ponto de vista ... segundo passo ... apontar os dados de que dispõe... terceiro passo... a produção de uma justificativa... quarto passo... prover novas informações que sirvam de apoio para a mesma... quinto passo crítico para a construção de um argumento é a consideração de exceções.” (Leitão, Selma e Banks Leite Luci, in Alessandra Del Ré).
Quanto ao segundo livro publicado, que também serviu de retomada aos estudos de argumentação, traz de interessante e novo a função do auditório, que é o alvo do argumentador, ou seja, a quem eles querem alcançar através de seu discurso, podendo ser “num sentido particular” ou “num sentido universal”. O argumentador, segundo a nova retórica, preocupa-se com as características psicológicas, sociológicas e ideológicas do auditório, pois depende disso o discurso que ele utilizará para com argumentar com seu auditório.
Desde 1980 tem-se tentado responder através de pesquisas e estudos, a seguinte pergunta: a partir de que idade ou fase a criança demonstra capacidade para se posicionar diante de algum questionamento?
Uma possível resposta a esta indagação está ligada à teoria piagetiana do desenvolvimento que diz que uma criança não consegue se engajar de forma integral a argumentação sem antes ser capaz de entender o pensamento operacional formal, cujo ocorreria de 10 a 11 anos de idade da criança.
Resultados de algumas pesquisas envolvendo a argumentação infantil revela que crianças com dois anos e meio já são capazes de justificar determinadas metas suas, como também de justificar sua escolha mesmo para seu oponente.
Garvey e Eisenberg, estudiosos sobre argumentação infantil comprovam através de seus estudos que a afirmativa de que as crianças são capazes de justificar posições desde muito cedo, é verdadeiras, e ainda diz que as crianças ao fazerem isso esperam que o seu oponente também o faça, e também entendem que estas justificativas são cruciais para se conseguir vencer a batalha da argumentação.
Dentre os vastos estudos sobre argumentação, poucas abordagens foram tratadas neste artigo, mesmo assim, dá para se ter uma noção da importância do entendimento da argumentação na linguagem infantil e como ela está atrelada à aquisição da linguagem, pois, a princípio, só consegue argumentar quem é adquirente da linguagem verbal.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
RÉ, A. D. et al. (2006). Aquisição da Linguagem uma abordagem psicolingüística. Editora contexto. São Paulo.
Daniele Pontes Passos, Márcia Rejane Alves Rodrigues, Maria Neuma Freire Araújo, Patrícia Andrade fazem parte do Grupo de estudos Lingüísticos e Sociais(GELSO), coordenado pelo professor Vicente Martins, da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará.