Em qualquer nação que se rotule desenvolvida ou em desenvolvimento dois itens são fundamentais para o seu crescimento de modo geral, de um lado a força motriz das energias, presente em quase tudo que consumimos todos os dias e alvo de batalhas intermináveis, o petróleo; do outro lado, o item que consegue alavancar desde a extração, refino, distribuição e crescimento de mercado de tudo que envolve o petróleo e quase todos os outros itens da cadeia produtiva, o aço; um não vive sem o outro e ambos movimentavam bilhares e bilhares de dólares pelo mundo todos os dias.
 
Antes desta que já é uma das maiores crises econômicas de todos os tempos, havia os magnatas do petróleo que consumiam milhares de toneladas de aço para os trabalhos do “ouro negro”, da mesma forma que os imperadores do aço consumiam milhares de produtos oriundos dos bilhares de barris de petróleo extraídos de poucas e arrogantes nações, inclusive o Brasil. A alavancagem mercadológica do petróleo estava ligada diretamente ao consumo exacerbado de aço puro e a extração do minério e produção das ligas de aço também não ficou a cargo de todos no mundo, poucos países possuem esta capacidade e mais uma vez o Brasil é um dos líderes.
 
O aço é uma liga metálica essencialmente por ferro e carbono e distingue-se completamente da composição do ferro fundido; hoje é praticamente impossível se sonhar com o aumento de unidades industriais, construções de pontes, prédios públicos, automóveis, navios, dentre outros, sem a utilização em larga escala deste metal que já era explorado pelos chineses cerca de 200 a.c e que, aliás, a China continua sendo um dos líderes mundiais na extração e produção dos componentes que derivam o aço. Na era antiga os Romanos eram os ditadores dos parâmetros deste mercado, mas somente após a 2ª Grande Guerra é que o metal tornou-se de valor incomensurável, chegando a competir com metais considerados como nobres, como o cobre.
 
Nas décadas seguintes a 2ª Guerra Mundial o planeta sofreu uma de suas maiores transformações; as nações queriam se militarizar ainda mais, construindo navios, armas, veículos e bombas e em tudo isso há grande parte de aço; de outro lado, o planeta viu nascer as mega indústrias, os mega edifícios, os mega projetos automobilísticos e mais uma vez, sem o aço não havia como sustentar tais proezas.
 
Foi então que quase todo mundo passou a explorar comercialmente o minério de ferro; grandes porções de terras, como muitas em Minas Gerais, tiveram seus valores acrescidos mil vezes o que valiam antes e muita gente que se pensava cultivar pedras virou milionário; as empresas como a “Vale do Rio Doce” precisavam de terras para a exploração do minério e quem tinha terras próximas a grandes jazidas virou magnata; começava também outra corrida, a da energia para as fundições e neste caso não se pode atribuir valor ao petróleo, as empresas mineradoras e de fundição precisam de carvão, por ser barato e comum.
 
O mundo se via num dilema absurdo; empresas desmatando para transformar florestas em carvão, que por sua vez alimentavam os fornos que derretiam o minério de ferro, que por sua vez era encaminhado para os fabricantes de aço; todos ganham muitos, alguns inescrupulosamente faziam fortunas com florestas e outros contribuíam em nome do progresso.
 
Do outro lado do planeta, lá pela Ásia (maior produtor), o petróleo jorrava feito água de gêiser, para onde se olhava havia um poço; onde se pisava, havia petróleo embaixo dos pés; a sede por petróleo foi tão grande que muita gente morreu em nome dele; o Kuwait foi invadido pelo Iraque; o Iraque foi invadido pelos EUA; todos queriam o controle do óleo preto que é transformado em combustível e milhares de subprodutos fundamentais para os devaneios do homem. Acredita-se que mais de 5 trilhões de dólares ou algo em torno de 15 trilhões de reais foram investidos nos últimos 2 anos na exploração e comercialização do óleo.
 
Ninguém se preocupou em estudar modos alternativos de energia; ninguém se preocupou com as possíveis conseqüências que a exploração acelerada do petróleo e do aço poderia causar na economia mundial; milhares e milhares de trabalhadores foram contratados para desempenharem esta ou aquela função neste círculo atordoante que tem como “atores principais” o aço e o petróleo, estes trabalhadores estavam direta ou indiretamente ligados ao mercado produtivo, seus padrões de vida subiram vertiginosamente com o crescimento do emprego e com o crescimento do crédito; se tem emprego, tem como pagar; se tem como pagar, por que não comprar mais e ficar ainda melhor na foto?
 
Entrava então no círculo vicioso os bancos; todos queriam mudar de casa, mudar de carro, mudar de marido, enfim, foi uma loucura entre as décadas de 90 e aos anos 2000; quem tinha um Gol (popular) queria um Corolla (intermediário) e por sua vez, quem vendia o Corolla, comprou um Accord (top de linha), mas nenhum deles teve dinheiro avista para bancar as trocas e os bancos eram os grandes facilitadores dos sonhos. Nunca em nenhuma etapa da história do Brasil se vendeu tantos imóveis residenciais, eu vi gente que passou de debaixo da ponte para cobertura de bairro nobre, vi gente que tinha bicicleta Monark e já pretendia comprar uma Ferrari e só não o fizeram porque os bancos não liberaram o tão esperado juros zero. Como em Deus alguém pretendeu que esta armadilha medonha desse certo?
 
O mercado automobilístico, que utiliza aço em 99% de seus fomentos, já estava produzindo tantos carros que a população brasileira já não dava conta de absorvê-los; antigamente o povo mais abastado gabava-se de poder trocar seus veículos de ano em ano, o sujeito exibia-se todo orgulhoso dizendo aos amigos: - Eu troco de carro todo ano! Mas depois de 2004, as pessoas estavam trocando carro de 4 em 4 meses, era fácil vender e era mais fácil ainda comprar um novo; eu mesmo comprei um carro em 24 parcelas com taxa de juros 0% ao mês (com entrada de 50%) em junho do ano passado e por pouco não o troquei no final do ano; era um negócio da China esta história de comprar e vender carros, comprar e vender imóveis, estava fácil demais. Muita gente sabia que isso ia explodir em breve, mas ao invés de botar a boca no mundo, quem sabia da crise, preferiu ganhar mais dinheiro com ela.
 
O barri do petróleo, que custa cerca de U$ 60,00 na exploração, chegou a U$ 160,00, recorde histórico. Tiveram Sheiks árabes que comprou três Boeing, outros contrataram as mega estrelas da música apenas para uma apresentação; ninguém mais media o quanto valia seu dinheiro, a ordem mundial era gastar e gastar; mas quanto ao PAGAR? Pagar era coisa pro futuro, o importante era que eles tinham aço, petróleo e os pobres miseráveis tinham emprego. Salvo algumas nações africanas e outras miseráveis da América Central, todos os Governos do mundo lucraram com tudo isso; bilhares e bilhares de dólares em impostos foram pagos em dias e muitos, como o Brasil, bateram todos os recordes de arrecadação.
 
Eu que estou no mercado executivo do aço desde 2008 numa empresa de Minas Gerais, vi quando a Vale do Rio Doce ditou as regras dos preços em meados de maio ultimo; o preço do aço havia triplicado e ninguém disse nada, ninguém retrucou ou enfrentou a poderosa Vale, sabem por quê? Porque estavam ganhando absurdos de dólares através dela; quando a Vale disse: “o meu aço vai custar mais caro”, todos riram e disseram “vivas a Vale”; empresas automobilísticas encheram os bolsos de dinheiro público e privado e hoje choram as mágoas, elas choram as águas do rio que já passou e que dificilmente voltará através de chuvas num breve espaço de tempo.
 
A Senhora chamada PETROBRAS desafiou o mundo com o Pré-sal (camada hiper produtiva que ainda é imaginária) e chegou a se especular o destronamento do Oriente Médio pelo Brasil; hoje se vê diante de produzir petróleo a U$ 60,00 o barril e vender a U$ 40,00 ou ainda, parar de produzir para comprar barato e frear os altíssimos investimentos do setor e ter que encarar os milhares de demissões ocasionadas por este ou aquele fator; a Petrobras está diante do ditado chulo: se correr o bicho pega e se ficar o bicho come!
 
Nossa empresa saiu de lucros para amargar uma dívida superior a 20 milhões no final de 2008 somente porque acreditou no crescimento; reinvestimos tudo que tínhamos e sonhávamos com mais uma unidade fabril que admitiria mais 500 trabalhadores, mas o resultado pessoal foi: contratos rompidos, projeções de orçamentos ignorados e obras que estavam em andamento desmoronaram. Estávamos atuando no epicentro das construções megalômanas do etanol e quando sonhávamos o melhor dos sonhos, fomos acordados com baldes de água gelada; para completar a história, recebemos inúmeros calotes de gente tida como idônea; no final da história: um não paga a outro, que não paga a outro, que não paga ao banco, que não paga ao governo e muita gente boa se vê diante do “pé do caboclo”, rezando para não morrer.
 
Quem trabalhou, lucrou e juntou dinheiro neste período inteiro, hoje pode se orgulhar de ser mais feliz do que a maioria, alguns podem se rotular como “ricos” e muitos dos “ricos” de antes, hoje escondem a pobreza azarenta que eles mesmos a trouxeram para si.
 
Inventaram certa “bolha imobiliária” dos EUA para porem a culpa de todas as desgraças que ocorreram nos últimos meses; mas será mesmo que o mercado imobiliário estadunidense foi o único vilão? Os bancos de lá, acostumados a maquiar balanços para roubar acionistas, podem até terem contribuído com este balde enorme de dejetos em avançado estado de putrefação, mas a culpa maior, com certeza, foi dos governos mundiais que não investiram na política de prevenção da desgraça; é aquela velha história: em time que se ganha, não se mexe. Todos os governos estavam abarrotando seus cofres de dinheiro dos impostos; ninguém queria ser o mensageiro da desgraça, indo as TVs para dizer: - Tenham calma gente; não comprem o supérfluo porque dias piores poderão vir em breve! O próprio Lula, que rotulou a tal crise de “marolinha” (onda pequena), foi a TV para dizer o contrário!
 
A Vale foi a primeira grande a dizer que estava passando mal; demitiu milhares, cortou contratos de investimento na produção, ameaça fecha unidades e promete que a curto e médio prazo não tem muito que fazer; se ela, a Vale, tão poderosa e beneficente, a mesma que fez muita gente ganhar fortunas nas rodas da Bovespa (também fez milhares de vítimas) e declarou ano pós ano que era a melhor e a mais sólida, se ela está desta forma, quem somos nós para duvidar e dizer o contrário?
 
Durante o ultimo evento chamado de “Quarta Nobre” em Goiânia, que tenho o prazer de participar a mais de um ano, estive com alguns dos ases da cadeia produtiva daquele estado, além de políticos e profissionais liberais; por razões pessoais eu não posso revelar nomes, mas posso garantir que boa parte do PIB goiano passa nas Quartas Nobres da AR e a queixa foi geral; nenhum dos presentes citou probabilidade de melhorias em curto prazo e todos crêem que se não houver algum milagre, milhares de postos de trabalho serão extintos. Eu posso garantir-lhes que esta turma é “Peso Pesado” na economia de Goiás e todos pertencem a modalidades diferentes do setor econômico, apenas um deles está ligado diretamente ao setor do aço e este é o que mais está sofrendo.
 
Entre 2007 e meados de 2008 a onda mais alta do mercado eram as apostas nas bolsas de valores; todo mundo queria investir neste mundo cercado por névoas. Alguns ganharam muita grana em detrimento da falta de perícia de muitos apostadores de primeira viagem, gente levada pela ganância de dobrar suas economias. Numa das visitas esporádicas que faço a um dos bancos que sou correntista, o Santander, ouvi de um gerente: - Se ganha muito dinheiro quando os mercados estão abalados. Os ricos investem quando a desgraça está instalada no mundo dos negócios, eles compram papeis supostamente podres e somente esperam a crise passar; se ganha dinheiro apenas quem tem muito dinheiro. Resumindo, o gerente quis dizer que cada um no seu quadrado. O mundo dos negócios ficou para quem tem intimidade com ele e jamais para os que se aventuram apostando economias de anos; os ricos se perderem ficam menos ricos, já os pobres, quando eles perdem, eles arruínam e morrem!
 
Com tudo que está ocorrendo, ou a chuva ácida passa em no máximo 12 meses ou o mundo entrará em colapso geral e se isso ocorrer, significa que o aço poderá retornar ao seu patamar normal de consumo e preço, que o petróleo poderá voltar à casa dos 160 dólares o barril, significa que os bancos poderão dar todo crédito do mundo, mas que o mundo inteiro passará por algo similar a Alemanha pós Hitler onde o dinheiro servia apenas para ser utilizado como papel de parede.
 
Os Estados Unidos já gastaram mais de 1 trilhão de dólares de suas reservas; a Europa já gastou quase outro trilhão de dólares; o mundo inteiro diz estar mobilizado para conter este tsunami gigantesco e o que fica parecendo é que nenhum país consegue entender a intenção do outro e que mais dinheiro está sendo jogado pelo ralo infinito que alimenta a convulsão econômica. A esta altura do campeonato já foram gastos mais dinheiro do que o suficiente para matar a fome de toda a população mundial por mais de um ano inteiro; já foram gastos mais dinheiro do que o necessário para retirar das ruas todos os miseráveis do planeta e a crise demonstra mais força do que antes.
 
Eu poderia passar meses escrevendo este texto, que de previsão não tem nada; eu poderia escrever mais mil páginas que o final seria o mesmo. Cada um de nós; tentamos buscar a solução para nossos problemas pessoais; cada setor economicamente dependente dos índices do mercado mundial busca uma solução intrínseca e todos esqueceram que tais soluções passam por políticas de conjunto. Para se ter uma idéia, até a imprensa, que revela os fatos como um raio, já desfaz os efeitos deste pré-colapso e isso tem uma justificativa; se a imprensa insistir em anunciar o caos ela própria se vitimará ainda mais com a fuga de anunciantes em potencial, então, a ordem mundial é sentir dor e gemer de prazer; somente assim é que eles poderão continuar o jogo de ilusão e quem sabe, chegar tardiamente, uma espécie de alívio imediato; efêmero, mas contíguo.
 
Isso que está ocorrendo teria mesmo que sobrevir agora; o mundo precisava saber que enquanto alguns que estudaram e investiram na carreira ganham muito pouco, oportunistas ligados ao mundo do nada conseguem ganhar fortunas; o mundo precisou saber que aquela obra de arte rara, que custou mais de U$ 200 milhões (uma tela emoldurada) hoje não vale nada porque os ricos não investem neste tipo de mercado ou aquela Ferrari de mais de 1 milhão de dólares, que tanta gente sonhou, ficará mais tempo no pátio até que seu preço sofra redução e para isso ocorrer, basta que os altos executivos abdiquem das torneiras de ouro, afinal de contas, aquela torneira de plástico faz jorrar a mesma água.
 
Não se desespere, mas também não esbanje; não se deixe influenciar com o crédito fácil ou rotulado de “barato”; hoje quando abri meu extrato do American Express, havia um comunicado de EMPRÉSTIMO PESSOAL A 3,5% a.m. de juros, para alguns, esta é a oportunidade de ter dinheiro nas mãos, para mim, uma oportunidade rara de me enforcar com uma colher de cal nas mãos para ajudar no enterro. Tenho tudo que preciso e com isso, não farei dívidas e esperarei o resultado; se for um sonho: acordarei livre, mas se for um pesadelo real: estarei menos deprimido do que muitos de meus companheiros!
 
 
CARLOS HENRIQUE MASCARENHAS PIRES
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Enviado por CHaMP Brasil em 10/02/2009
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