A Taça é Nossa

O artigo “Futebol é coisa de mulher?”, de Regina Madalozzo, publicado no jornal O Dia, mostrado a mim por meu filhote com um lindo recadinho de “Mamãe bate um bolão”, me fez refletir sobre o assunto e aos poucos acabei por perceber inúmeros aspectos coincidentes entre essa modalidade esportiva e a nossa vida feminina.

Nesse esporte, normalmente, o jogador que se destaca em uma determinada posição segue nela durante toda sua carreira, seja goleiro, zagueiro, lateral, meia ou atacante. Com raríssimas exceções, vemos alguns se deslocando da sua função e alcançando êxito em outra. Normalmente, o resultado de tais deslocamentos é desastroso para a equipe. Entretanto, nós mulheres, temos que e somos capazes de ocupar, desenvolver e ter sucesso simultaneamente em todas essas posições no campo da vida.

À frente da profissional, temos de ser atacantes. Lutamos com toda a garra para “correr com a bola” e driblar nossos concorrentes homens, em sua maioria possuidores dos melhores cargos, melhores salários e todo reconhecimento de competência. Necessitamos bravamente guerrear para provar que somos absolutamente eficientes e inteligentes para “balançar a rede”. E mesmo quando lá chegamos, nunca ouvimos o grito de gol da galera. Quando muito um abafado parabéns e um camuflado desejo e pensamento de que “isso não vai dar certo”.

Antigamente se dizia que “atrás de um grande homem sempre está uma grande mulher”. Hoje já se ouve dizer que “ao lado de um grande homem sempre está uma grande mulher”. E é justamente por nossos queridos e amados homens que assumimos a lateral, embora saibamos, cá entre nós, que estamos bem à frente deles. Afinal, possuímos a tal intuição feminina da qual eles não foram agraciados. E é justamente através dessa dádiva divina que muitas vezes os impedimos de cometerem erros ou os aconselhamos sobre o melhor caminho a tomar em momentos de dúvidas. Mas, apesar do conhecimento da nossa real posição, vamos ficando por ali, correndo o tempo todo juntos, recebendo a bola que nos mandam e as boladas que às vezes nos atingem, mas sempre procurando impedir que ela ultrapasse a linha do campo.

Quando somos mães, além da posição de atacante no exercício da profissão e de lateral como esposas, conciliamos também a de meia, de zagueiro e goleiro. Nessas não há homem que nos supere. Como meia, nos dividimos nos onze jogadores do campo, estando atentas a todos os lances, atendendo às necessidades de cada um, distribuindo a “pelota” do carinho e amor igualmente entre todos os que nos são caros.

Na zaga futebolística são utilizados dois zagueiros. Na da “zaga materna” só é necessário um. Conseguimos evitar a todo custo e com todas nossas forças que o adversário entre na área, lutamos como uma leoa na arena e, caso isso aconteça, possivelmente será através do cometimento de falta grave, passível de expulsão. Neste caso, nos restam duas opções: o chute pra córner (o que nos dá a chance de voltarmos para a zaga e nos multiplicarmos na área da defesa) ou cometermos a penalidade máxima!. Aí, temos que assumir a posição em que mais nos destacamos: é em defesa dos nossos filhos, da harmonia e paz do nosso lar e da nossa felicidade, que caminhamos para o gol com toda a calma e segurança. Abrimos nossos braços, olhamos fundo nos olhos do batedor e sabemos, com toda a certeza, de que defenderemos o pênalti!

Assim, respondendo à pergunta de Regina Madalozzo, concluo que futebol não é coisa de macho. Futebol é coisa de mulher e que realmente, nós mulheres, “batemos mesmo um bolão!”.

Liliane Bodstein Cardoso
Enviado por Liliane Bodstein Cardoso em 10/02/2009
Reeditado em 10/02/2009
Código do texto: T1431034
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