Políticos podem encontrar na crise do Jari a solução para si mesmos

Políticos podem encontrar na crise do Jari a solução para si mesmos

Dizendo-se preocupados com a crise econômica da região do Vale do Jari, cuja ponta do iceberg é a demissão em massa provocada pelas empresas Jari Celulose e CADAM, algumas lideranças políticas dos Estados do Pará e Amapá têm se deslocado ao epicentro dos problemas com o objetivo de provocar as discussões e sugerir alternativas para a solução dos mesmos. Apesar da retórica afinada dos políticos, será difícil acreditar que a pouco menos de dois anos do próximo pleito eleitoral, tais lideranças estejam preocupadas apenas com os problemas que afligem os moradores do entorno do tão famoso projeto Jari.

O tom do discurso pouco amistoso e acusador contra uns e tão parcimonioso com outros, já demonstra, inclusive, a intenção de se demarcar áreas e formar conjunturas, alianças e rompimentos políticos em 2010. Apesar de ainda faltar bastante tempo para as próximas eleições, pelas evidências dos discursos até eu me arriscaria em traçar um panorama do pleito para deputados, senadores e governadores.

Quando se aproxima das eleições não faltam “salvadores da pátria” prometendo a pavimentação da BR 156 – Trecho Sul, implantação do linhão elétrico, construção da hidrelétrica de Santo Antônio e da ponte sobre o Rio Jari. Mesmo que as promessas supracitadas sejam verdadeiras - e não temos a menor dúvida de que um dia elas serão concretizadas -, já não fazem tanta diferença, pois estão desgastadas pelo uso contínuo nos pleitos eleitorais. Elas só fariam sentido se realmente os eleitores tivessem a memória muito curta.

Há líderes que dizem pensarem vinte e quatro horas na região do Jari, mas as ações não ultrapassam a barreira da discussão. A palavra de ordem é discutir, discutir e discutir. Esquecem que a população está cansada das discussões, das promessas, da retórica afinada. Os cidadãos querem soluções imediatas para os seus problemas. Os desempregados querem empregos, os doentes buscam saúde, os que vivem nas trevas querem luz, os que não tem água tratada, pedem o abastecimento do líquido, etc. Tudo parece muito simples. Os que vivem mil e uma necessidades estão cansados dos discursos, das falácias, das acusações e das promessas. Eles querem apenas o mínimo: saúde, segurança, emprego, água encanada e energia elétrica. Alguns nem estão preocupados com questões básicas como educação, cultura e lazer.

Além do desemprego, a região passou a conviver com saúde pública precária, exceto Laranjal do Jari, que tem um hospital e Unidades de Saúde de referência. Para os pacientes da região não interessam os motivos que levaram a Fundação Hospital do Vale do Jari – FUNVALE, de Monte Dourado (PA), a limitar seus serviços em razão da precária situação do prédio e dos equipamentos hospitalares, assim como não interessa explicar aos pais de famílias desempregados que a causa das demissões foram conseqüências da crise econômica mundial desencadeada nos Estados Unidos. Todas essas questões são didáticas e desnecessárias demais para quem apenas quer uma solução imediata para os seus problemas.

*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br)