Laranjal e Monte Dourado: o rio que une també separa (e vice-versa)
Laranjal e Monte Dourado: o rio que une també separa (e vice-versa)
Com os problemas enfrentados pela Fundação Hospital Vale do Jari (FUNVALE), do distrito de Monte Dourado (Almeirim/PA) veio à tona uma inversão de tudo aquilo que nos habituamos a assistir sobre a cidade planejada em função do famoso Projeto Jari e Laranjal, criada de forma desordenada às margens do Rio Jari, no Estado do Amapá.
Durante a sua história, o hospital de Monte Dourado foi referência para a região em razão da infra-estrutura aliado a alta habilidade dos médicos que atendem naquele estabelecimento de saúde pública, resultando em procedimentos altamente positivos. Enquanto isso, no lado amapaense os pacientes eram obrigados a atravessar o rio em busca do atendimento médico, fossem exames laboratoriais, consultas, procedimentos cirúrgicos, emergenciais e outros.
Embora alguns hipócritas de plantão neguem veementemente, essa situação criava um desconforto tanto para pacientes como para atendentes, pois sempre que aquele estabelecimento passava por dificuldades a culpa era do excesso de atendimentos demandados pelas cidades circunvizinhas de Laranjal e Vitória do Jari.
Há tempos são os moradores das cidades circunvizinhas que buscam atendimento médico-hospitalar em Laranjal. Preocupado com o jogo de empurra-empurra, analisei a situação e com os subsídios fornecidos por uma entrevista do atual Secretário Municipal de Saúde de Laranjal do Jari, José Manoel F. Picanço, consegui chegar imediatamente a uma conclusão. Antes de entrar no mérito da questão, é necessário destacar que José Picanço é um dos mais conceituados administradores da saúde pública da nossa região e conhecido pela sua capacidade de organização e habilidade para identificar os problemas da área comprovados nas funções em que ocupou.
De acordo com Picanço, entre os anos de 1996 a 2008, o município de Almeirim, do qual faz parte Monte Dourado, foi o que menos garantiu convênios públicos no Vale do Jari. O total conveniado foi de 960 mil reais. Enquanto isso, Vitória e Laranjal do Jari, firmaram respectivamente R$ 17 e 58 milhões no mesmo período.
Embora os valores conveniados não sejam repassados obrigatoriamente aos municípios, a diferença entre os números de Almeirim e Laranjal do Jari atestam a disparidade administrativa e política entre os dois municípios, pois de um lado existe uma cidade que apesar de sua criação ter sido planejada pelo poder privado, sempre foi esquecida pelos seus governantes e do outro existe uma que recebe rotineiramente a presença dos seus deputados estaduais, federais, senadores, governador e demais autoridades.
Laranjal do Jari é o 3º maior município num pequeno universo de apenas 16 que compõem o Estado Amapaense. Além do mais, a Prefeitura Municipal assumiu completamente a sua parte que é cuidar da saúde preventiva e básica, construindo postos e ampliando significativamente o número de equipes do Programa Saúde da Família (PSF).
A crise da FUNVALE já era esperada, pois há anos os seus equipamentos e estrutura predial vinha se deteriorando sem que houvesse reformas e substituições. Conscientes de seus deveres e da ética profissional, os médicos daquele nosocômio pediram demissão coletiva, pois ali não havia condições para a prática de suas atividades e caso insistissem estariam sendo negligentes e imprudentes com a vida dos seus pacientes. Apesar da medida, a FUNVALE voltou a funcionar de forma modesta, repassando à HELAJA os casos mais complexos e que exigem procedimentos cirúrgicos.
Nesse momento, as autoridades da região são unânimes em assumir que o problema de um município afeta diretamente os outros, por isso, a preocupação de agora em diante será com o Vale do Jari. Historicamente esse é um paradoxo, pois hora o Rio Jari une, hora separa, mas há um fato tangível: todos os habitantes do Vale do Jari querem saúde de qualidade e saber quem lhes garantirá é apenas um pequeno detalhe.