A corrupção no Serviço Público

Aquela situação que se expôs na telenovela "A Favorita", onde o personagem deputado federal Romildo Rosa, representado magistralmente pelo ator Milton Gonçalves traz à tona mais uma vez a temática da corrupção, nos mostra que estamos diante de um problema de grande envergadura e que certamente, na vida real, se transformou numa praga responsável por quase todos os males que assolam o nosso país.

É histórico. Desde o começo do mundo o homem se envolve em atos ilícitos e imorais, por ganância e pelo poder, prejudicando ao seu próximo. No Brasil, a partir de seu descobrimento há mais de 500 anos, se registram procedimentos ilegais. Capitanias hereditárias, entradas e bandeiras, catequização indígena, enfim, em todos esses momentos pairam o cheiro de desvio de conduta ética e moral.

A situação se complica muito mais quando se vai fazer um levantamento de onde se encontra essa enfermidade. Ela está encravada em todos os poderes. Seja Executivo, Legislativo e Judiciário. No momento que escrevo este texto, assisto num programa noticioso de televisão a divulgação da denúncia de desvio de recurso numa prefeitura baiana e acusação de venda de sentenças no judiciário capixaba.

Para se ter uma idéia da desnecessidade de ser desonesto no Serviço Público tome-se como exemplo os valores gastos com os parlamentares do Congresso Nacional. Cada senador custa para o contribuinte a bagatela de R$ 33 milhões reais/ano em moeda corrente. E cada deputado federal R$ 6.6 milhões reais/ano, segundo estudo foi feito pela Organização Transparência Brasil. É vergonhoso ter desvio de conduta moral em qualquer caso, mas se torna mais agravante quando praticado por quem tem todo este recurso à disposição anualmente.

Hoje, infelizmente, o "normal" é ser corrupto, pervertido, depravado. Nos altos escalões da república onde se percebem os melhores salários, onde se tem as maiores influências e as mordomias incomensuráveis, verifica-se que é onde estão enraizadas as propinas, as vantagens ilegais e a prática inequívoca da lei de Gerson. Nesses setores levar vantagem é a palavra de ordem.

Enquanto os "Romildos Rosas" continuarem enrustidos, não tiverem a coragem e a hombridade, mesmo tarde, de mostrarem suas faces publicamente ou pelo menos se deletarem da vida pública, reconhecendo que os atos ilícitos e irresponsáveis que praticam são os culpados pelas mazelas que assolam nossa nação, o Brasil não resolverá nenhuma de suas dificuldades estruturais como a fome, a falta de saúde e educação, infra-estrutura, e outros afins.

A novela "A Favorita", obviamente, é uma obra de ficção. Porém, sua semelhança irretocável com a realidade brasileira e os fatos que se vivenciam diariamente chega-se a conclusão de que a atitude do deputado federal Romildo Rosa não deveria ser uma exceção, e sim a regra. Assim viver-se-ia melhor, com certeza.

Por derradeiro, continuo otimista e acreditando que nem tudo está perdido. Entendo que a mudança de mentalidade para que se atinja uma vida melhor, alicerçada na fraternidade, na solidariedade e no respeito mútuo, passa necessariamente pela educação. Por isso, nunca foi tão atual aquela célebre frase de Pitágoras que diz: "Para não punir os adultos é preciso educar as crianças".

José Arimatéia de Macêdo e outras mãos...

Novembro de 2008

www.arimateia.com