Quando teremos “Cidades Verdes”?

O discurso do desenvolvimento é responsável pelo sacrifício das árvores que ainda resistem no centro e nas periferias das cidades. A cada dia, a falta de planejamento urbano nos deixa com menos verde na paisagem e ajuda a aumentar o número de espécies de animais ameaçados de extinção. Atualmente, tão grave quanto a violência, o desemprego e o desvio de dinheiro público, é o desmatamento.

O crescimento urbano é um dos fatores que contribui para a destruição do verde, para aumentar a produção de lixo e elevar a temperatura do planeta. Não poderia ser diferente: hoje, mais da metade dos cerca de 6,5 bilhões de habitantes da Terra e 38% das pessoas entre 15 e 29 anos vivem em áreas urbanas. Em 2050, serão mais de 4,5 bilhões das pessoas (65% do total), segundo cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU).

Nessas terras abaixo da Linha do Equador, a situação é semelhante: nos últimos 60 anos, a população urbana foi acrescida de 106 milhões de pessoas e o IBGE estima que atualmente mais de 80% da população residem em áreas urbanas – enfrentando problemas de uma infra-estrutura precária, aterros criminosos de rios e mangues, falta de redes de esgotos, lixões a céu aberto e a inexistência de aterros industriais para receber o lixo tóxico.

É evidente a necessidade de se colocar as questões sócio-ambientais no centro das discussões e, sempre, no início de todos os planejamentos públicos. Assim será possível se ter uma visão clara dos principais problemas e dos (possíveis) caminhos para enfrentá-los. Como esperam os governantes alcançarem as oito “Metas do Milênio”, estabelecidas pela ONU, se o planejamento ambiental nas cidades não for adotado?

Durante as comemorações da Semana do Meio Ambiente, do ano passado, a ONU lançou a proposta “Cidades Verdes: Planos para o Futuro”. “Construir” cidades verdes passa por um conjunto de acordos ambientais urbanos, que prevê ações voltadas a uma vida urbana sustentável. Mas quantos prefeitos estão preparados para tornar isso realidade?

Criar esses novos espaços exigirá uma política arrojada de preservação de áreas verdes, a garantia da qualidade da água, a ocupação racional do solo, a redução da produção de lixo, o uso eficiente de energia e um transporte público adequado, movido por fontes não poluentes.

No Brasil, isso (ainda) é uma utopia, porque poucos prefeitos têm a disposição de colocar a proteção ao meio ambiente entre as suas prioridades e a coragem de adotar medidas para mudar parâmetros de preservação ambiental. Poucos disseminam práticas corretas para a redução de dejetos e o consumo racional de energia e água, assim como poucos são os que contribuíram para a elaboração da Agenda 21 dos seus municípios, que sequer foram discutidas ou planejadas. Se nem isso ocorreu, como pensar em cidades verdes?

Alexandre Acioli é jornalista - alexandreacioli@yahoo.com.br