VERDADES E MENTIRAS SOBRE A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL.

"O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer." Albert Einstein.

"Se o dinheiro for a sua esperança de independência, você jamais a terá. A única segurança verdadeira consiste numa reserva de sabedoria, de experiência e de competência." (Henry Ford).

BREVE RESUMO.

O presente Trabalho tem por finalidade analisar à luz de um certo grau de lógica e tolerância com os eventos ocorridos recentemente causas e consequencias da crise econômica e financeira que assolou o mundo nos últimos meses, do mesmo modo que procura-se compreender as possíveis soluções e alternativas que se apresentam para o futuro, mesmo que incerto.

I – ESTÍMULO INTRODUTÓRIO.

Surgida repentinamente em mais um setembro negro, agora no ano de 2008, a Crise Econômica Mundial continua repercutindo de forma cada vez mais negativa ao longo de todo o tecido social globalizado, até mesmo porque em uma economia denominada de globalizada um espirro dado em qualquer lugar do planeta representa a ameaça de uma gripe aviária de caráter epidêmico por todos os demais países que dependam direta ou indiretamente daquele país, organização ou instituição bancária que deu o primeiro espirro.

Antes de mais nada, para entermos as dimensões, causas e efeitos desta crise, precisamos compreender os principais fatôres e elementos que contribuíram para o seu surgimento e desenvolvimento, se bem que salientamos que, a partir do nosso ponto de observação inicial dos fatos, acreditamos piamente que a origem da crise está nas pessoas, até mesmo porque nada se move no universo sem que haja a vontade humana ansiando por uma determinada mudança (lembrando que crise pode sempre representar ameaça ou oportunidade).

II – ORIGENS DO SUBPRIME.

Da WIKIPÉDIA (Enciclopédia Livre da Internet), extraímos o primeiro elemento a ser comentado: o subprime.

Em sentido amplo, subprime (do inglês subprime loan ou subprime mortgage) é um crédito de risco, concedido a um tomador que não oferece garantias suficientes para se beneficiar da taxa de juros mais vantajosa (prime rate).

Em sentido mais restrito, o termo é empregado para designar uma forma de crédito hipotecário (mortgage), surgida nos Estados Unidos, destinada a tomadores de empréstimos que representam maior risco, apelidados de clientes ninja(do acrônimo em inglês no income, no job, no assets: sem renda, sem emprego e sem patrimônio). Esse crédito imobiliário tem como garantia a residência do tomador e muitas vezes era acoplado à emissão de cartões de crédito ou a aluguel de carros. Os clientes ninja só poderiam pagar suas prestações com recursos obtidos pelo refinanciamento de suas casas a valores mais elevados, o que foi possível desde o pós-guerra, período em que o valor dos imóveis subiu continuamente.

O termo é derivado de prime lending rate - a taxa de juros contratada com os tomadores mais confiáveis. Assim, prime lending designa o crédito concedido aos tomadores confiáveis e subprime lending se refere ao crédito dado àqueles tomadores que têm maior risco de inadimplência.

A diferença entre as duas taxas - subprime lending rate e prime lending rate - corresponde à remuneração do risco adicional envolvido no empréstimo dado a quem oferece garantias insuficientes.

Por outro lado, numerosos créditos são concedidos a taxas variáveis. No caso dos créditos subprime, a taxa inicial pode ser atraente(teaser rate), ou seja, inferior à taxa fixa de um empréstimo normal.

Para os credores, os empréstimos subprime eram considerados como individualmente arriscados - mas, coletivamente, seguros e rentáveis. A estimativa de rentabilidade baseava-se em uma hipótese de alta regular do preço dos imóveis, o que vinha acontecendo nos Estados Unidos, desde 1945. Assim, se um devedor se tornasse inadimplente, era sempre possível revender a propriedade com lucro.

Entretanto, o aumento da taxa de juros de curto prazo (de 1% para mais de 5%) e a queda dos preços dos imóveis ocasionou a inadimplência em massa dos clientes mais frágeis, ou ninja. A tentativa dos clientes ninja de se desfazer, simultaneamente, de suas casas no mercado, para não perdê-las, pressionou para baixo os preço de todos os imóveis nos Estados Unidos, inclusive aqueles que estavam sendo financiados a taxas prime. Isso acabou por provocar a consequente falência de alguns bancos.

Em 2007, quase três milhões de famílias americanas estavam em situação de inadimplência.

É conveniente ressaltar o papel que tiveram, nesta crise, as agências de classificação de risco (tais como Standard & Poor's, Fitch e Moody's) ao aceitar como dinheiro sonante os dados informados pelos criadores de títulos financeiros derivados de subprimes, e classificando alguns derivativos como AAA (o melhor nível!) quando eram apenas títulos podres.

Muito bem. Aí temos o primeiro elemento causador desta funesta crise que, de lá para cá, tem tomado as noites de sono de governantes, estadistas, políticos, economistas, pensadores, empresários e, principalmente toda a população mundial que, neste cenário assume papel coadjuvante que apenas sofre os efeitos de forma passiva e sofrida.

Todavia, acreditem ou não, este subprime, agora vilão, foi criado no ano de 2001 para salvar o mundo financeiro de outra crise ali surgida: a crise das empresas de alta tecnologia, também denominada de crise da internet, cuja orientação foi voltada para aquecimento do mercado imobiliário, estabelecendo os limites acima descritos, e propiciando aos bancos de investimentos gerarem operações em derivativos, tendo como título garantidor estas hipotecas subprime (!).

Derivativos são operações financeiras sofisticadas pelas quais os bancos securitizam estas hipotecas, assegurando-lhes a capacidade de tornarem-se títulos livremente negociáveis, funcionando como meio de troca em operações financeiras ao longo do sistema financeiro mundial.

Tudo parecia funcionar bem (apenas de forma aparente), até o momento em que o Banco Central Americano (Federal Reserve), no ano de 2005 aumentou a taxa de juros do crédito disponível pelo mercado, onerando de forma insuportável os limites de tolerância deste tênue mercado imobiliário e ocasionando uma enorme onda de inadimplência atingindo primeiramente os pequenos proprietários de imóveis cujas propriedades encontravam-se financiados e cujas oportunidades de safar-se deste círculo vicioso seria impossível. Aliás, estes pequenos pobretões responsáveis pelo financiamento do sistema foram denominados de ninja (do acrônimo em inglês no income, no job, no assets – sem renda, sem emprego e sem patrimônio).

Também extraído da WIKIPÉDIA, temos a seguinte consideração acerca do que se supõe ser a resposta sobre o que deu errado neste sistema, o qual transcrevemos abaixo:

O QUE DEU ERRADO?

Tudo que poderia dar errado, deu errado. O problema que se iniciou com as hipotecas subprime espalhou-se por todas as obrigações com colateral, pôs em perigo as empresas municipais de seguros e resseguros, e ameaçou arrasar o mercado de swaps, multi-trilionário em dólares. As obrigações dos bancos de investimentos em compras alavancadas se tornaram um passivo. Os hedge-funds, criados para ser supostamente neutros em relação aos mercados, se provaram não tão neutros, e tiveram que ser resgatados. O mercado de commercial-papers paralizou-se, e os instrumentos especialmente criados pelos bancos para tirar as hipotecas de seus balanços já não conseguiam mais encontrar fontes externas de financiamento (funding). O golpe final veio quando o mercado de empréstimos interbancário - que é o núcleo do sistema financeiro - paralizou-se. Os Bancos Centrais de todos os países desenvolvidos se viram obrigados a injetar rapidamente no sistema financeiro mundial um volume de recursos jamais injetado antes, e a estender créditos para uma variedade de papéis financeiros, e tipo de instituições, jamais socorridos anteriormente.

Desta forma, descortinou-se para nós, humildes mortais impotentes, o cenário daquela que pode ser delineada como a maior crise econômica dos últimos tempos; a crise que, segundo os mais céticos delineia no horizonte algo parecido com a grande depressão dos anos trinta. E, sem qualquer falsa modéstia, estes mesmos especialistas não foram capazes de predizê-la ou mesmo agora de apresentar soluções de ordem efetiva que possam ser capazes de mudar o rumo da história. Bem, mas isto é uma comentário a ser desenvolvido em momento mais oportuno, posto que aqui iremos nos preocupar com o tema principal deste trabalho.

III – ECOS DA CRISE.

Muito bem. Isto posto, poderíamos supor que a crise ficasse restrita ao ambiente imobiliário e também ao sistema econômico norte-americano, de modo bastante ingênuo, criando a expectativa de que esta fosse passageira.

Mas a dimensão de uma crise ocorrida dentro de um sistema globalizado e interdependente possui tantas facetas que é impossível qualquer coisa ficar no plano da segurança (seja ela absoluta ou relativa). Destaquemos que em um ambiente como este adota-se a regra do “zero absoluto”, pela qual em uma situação de crise negocial ou administrativa, todos retornam ao estado inicial (zero absoluto), onde todas as vantagens competitivas e oportunidades criadas anteriormente, se perdem ou desaparecem e os competidores encontram-se nivelados por baixo, necessitando criar novas oportunidades a serem aproveitadas e gerando estímulos positivos que se farão sentir ao longo de todo o sistema.

Sob este enfoque, percebeu-se muito tardiamente que a crise dos subprime iria repercutir de forma negativa sobre todo o sistema econômico (regra do zero absoluto), atingindo níveis nunca antes percebidos ou mesmo imaginados pelas instituições empresariais de todo o planeta. E assim foi que o sistema bancário internacional começou a sentir os primeiros estertores do início de seu próprio fim.

E, sob esta égide, os bancos de investimentos foram as primeiras vítimas da crise, já que sua principal mercadoria – os título negociáveis – transformaram-se, do dia para a noite, em pó diante de seus incrédulos olhos sem brilho. Desmoronou-se assim um castelo de cartas construído a partir de um pressuposto falso de que um título de crédito lastreado em financiamentos sem qualquer garantia, exceto a sua própria existência, seriam capazes de salvaguardar o mundo da crise anterior gerada pelas mesmas crenças e expectativas: a crença no fundamentalismo do livre-mercado, ou o neo-liberalismo econômico transposto para o século vinte.

Frisemos que este tema – fundamentos do livre-mercado – também será abordado mais a frente e que as considerações acerca dele não poderão ser das melhores, posto que não se pode acreditar em livre-mercado quando sob o manto de uma crise desta proporção, estes mesmos mercados sejam incapazes de lidar com seus efeitos, pleiteando que governos e países assumam a integral responsabilidade por apresentar soluções (principalmente em espécie), que sejam capazes de apagar erros de análise e trajetória, alçando a especulação ao grau de elemento indissociável da necessária liberdade de escolha no repertório de investimentos disponíveis para todos.

Ademais, quando instrumentos financeiros extremamente sofisticados tornaram-se de tal forma complicados não apenas em sua aparência, mas também em sua essência, exigindo dos analistas muito mais que mera percepção de movimentos mais escandalosos para uma observação crítica e detalhada de movimentos sutis e, muitas vezes, quase imperceptíveis encenados por investidores, proprietários e especuladores, estes últimos a nata da sociedade em gerar crises e estimular o chamado “espírito de manada”, que orienta os incautos que, como pequenos enxames de pragas agrícolas voam apenas no sentido do vento e na direção de seus apetites por ganhos fáceis obtidos à custa de trabalho sério.

Até mesmo aquelas instituições criadas com a finalidade de investigar de forma minuciosa e fleumática as atividades desenvolvidas pelo organismos componentes do sistema financeiro, demonstraram sua plena incapacidade de compreensão dos numerosos dados estatísticos, matemáticos e científicos disponíveis, cuaj compreensão não era integralmente absorvida inclusive pelos seus próprios criadores, reproduzindo de forma quase alegórica a imagem do criador que acaba dominado pela criatura.

Assim, estas instituições, com seus diversos estratagemas disponibilizados para autoridades que sequer conseguiam compreendê-los na sua complexidade pouco singela, asseguravam que os riscos eminentes deste mercado imobilário aquecido encontrava-se sob níveis satisfatórios de controle e que, fossem quais fossem os efeitos perniciosos, estes não seriam capazes de ocasionar um deseuqilíbro que pudesse descambar para uma crise das proporções desta que temos agora à nossa frente.

IV – A GRANDE FRAUDE ENGENDRADA.

Outra faceta desta crise, ao que nos parece, encontra-se disseminada na enorme onda de falsificações contábeis engendradas pelas grandes empresas com sede não apenas nos Estados Unidos da América, mas por todo o planeta.

Na verdade e sem qualquer excesso, podemos afirmar que se tratou de um crime orquestrado por banqueiros, financistas e empresários que se viram obrigados a maquiar suas informações financeiras e contábeis, primeiramente para adequar-se à uma política econômica oriunda de autoridades cuja respeitabilidade e capacidade em lidar com o sistema estavam acima de qualquer suspeita, mas cuja credibilidade estava longe de ser uma das melhores estimativas para qualquer momento, exceto, é claro, aquele em que todas as crenças estavam cegas diante da oportunidade de ganho rápido, limpo e fácil.

Em segundo lugar, e não menos grave, temos a própria inescrupulosidade dos gestores empresariais, que, sem qualquer temor de exagêros, mostrou-se completamente amoral, no sentido de que apenas um interesse deveria ser protegido a qualquer custo: o seus próprios. E tais interesses não eram os interesses empresariais, nem mesmo os interesses dos investidores e consumidores; eram apenas interesses escusos e relativizados entre empresários, grandes investidores e governo.

Aliás, sempre foi tarefa árdua do governo – com o auxílio de empresários do porte dos acima mencionados – apresentar um mundo colorido, livre de diferenças, de fraquezas e de miséria. Todavia, isto não atinge os resultados esperados, posto que efeitos colaterais indesejados e inesperados chegam de forma sorrateira e tomam para si as propriedades, os bens e o sossego dos indivíduos.

V – SERÁ O FIM DO LIBERALISMO?

Lembrando a recente expressão cunhada por Joseph Stiglitz (1), pela qual ele afirmava que “não há almoços de graça”; a regra de bem viver no informa que não devemos criar regras para a obtenção de almoços gratuitos, pois trata-se de uma forma de viver em comunidade, posto que estas regras nada tem a ver com a crise, mas sim com a natureza humana.

Muito embora haja uma interpretação errônea de que capitalismo e liberalismo econômico sejam sinônimos, a verdade é que estes são sistemas bastante distintos. O capitalismo é um sistema econômico baseado na livre concorrência, enquanto que o liberalismo tem profunda relação com a vida social de como os seres humanos organizam-se socialmente, de que forma pretendem viver sua vida, exercer suas liberdades políticas, sociais e econômicas, escolhendo aquilo que seja melhor para a coletividade.

Por este prisma, não havia liberalismo na extinta União Soviética, assim como também não se vislumbrava este princípio em países como a China e os integrantes a antiga cortina de ferro, razão pela qual podemos afirmar, mesmo que seja de forma inicial, que o liberalismo tem uma profunda relação existencial com a própria natureza coletiva do ser humano e que o capitalismo, por sua vez, tem uma relação profunda com o modo de se operar esta faculdade social que se encontra à nossa disposição.

Considerando-se os comentários mais recentes sobre o tema, colacionamos alguns dignos de consideração mais que exagerada, na medida em que apresentam para nós não apenas mais um crítica aos erros cometidos por financistas, governantes e grandes investidores, mas também por toda a sociedade chamada a responder pela sua parcela de erros e excessos. Destacamos a seguir um excerto publicado na internet:

O desafio que as sociedades ocidentais enfrentam é muito simples: num período de acelerada distribuição da riqueza global, para manterem o nível de vida a que se habituaram vão ter de trabalhar mais e melhor. E, apesar da distracção de muitos, entretidos a atacar o liberalismo, a crise financeira vai acelerar a necessidade de reformar o ‘modelo social europeu’. As ilusões criadas pelo crédito fácil ajudaram a alimentar outra ilusão generalizada: a possibilidade de se trabalhar menos (o exemplo das famosas “35” horas semanais), e mesmo assim viver-se melhor e ter mais regalias sociais. Involuntária, é certo, mas assistiu-se a uma curiosa aliança entre o ‘modelo social europeu’ e a especulação financeira. Sei que se gosta muito de olhar para a Suécia como inspiração. Vale a pena olhar para o que se passou no início dos anos de 1990. Uma crise financeira semelhante à actual obrigou um governo de centro-direita a “nacionalizar” parcialmente alguns bancos. A seguir, um governo social-democrata fez algumas das mais radicais reformas sociais das últimas duas décadas na Europa. Privatizou, parcialmente, a educação, a saúde e a segurança social. Talvez o que aí venha não seja o “fim” do liberalismo, mas a reforma do “modelo social” que ainda existe em muitos países europeus. Não é o fim do liberalismo. Talvez o que aí venha não seja o “fim” do liberalismo, mas a reforma do “modelo social” que ainda existe em muitos países europeus. João Marques de Almeida. (2)

De outro modo, quando nos referimos ao neoliberalismo, estamos diante de um enorme dilema: o dilema de entendermos como esta figura sócio política foi capaz de modificar o entendimento sobre aquele que lhe deu origem. De uma forma bastante elementar cogitamos que o surgimento do neoliberalismo se deu a partir da crise do petróleo ocorrida no ano de 1973. A partir deste evento, um grupo de pensadores econômicos liderados pelo monetarista norte-americano MILTON FRIEDMAN, concluíram que o Estado não era mais capaz de suportar o enorme volume de investimentos necessários para fomentar o desenvolvimento, cabendo a ele apenas e tão somente administrar o sistema financeiro, excluindo-se da responsabilidade de exercer funções que cabiam exclusivamente à iniciativa privada, tais como empresas petrolíferas, transporte de carga, gerenciamento de portos.

Assim, os governantes da época – em especial a primeira-ministra inglesa Margareth Tatcher e o Presidente Norte Americano Ronald Reagan – procuraram fazer o seu dever de casa, iniciando um longo processo de privatização de empresas estatais e de buscar mecanismos desregulamentadores, permitindo às empresas privadas investirem de maneira que melhor servisse aos seus interesses.

Muito provavelmente este processo de liberalização da economia, excluindo a responsabilidade do Estado e tornando sua influência o mais minimizada possível, serviria de base de sustentação mais que suficiente para estimular e adaptar o pensamento liberal às novas necessidades do capitalismo defendendo o livre mercado, a livre concorrência e a manutenção das liberdades individuais. Em contrapartida o neoliberalismo defende também que os governos não devam ser assistencialistas, a sociedade é que deve ser suficientemente capaz de resolver seus próprios problemas, a eles cabem garantir a lei comum, equilibrar e incentivar iniciativas da sociedade.

Todavia, mais uma vez este mecanismo foi deturpado pelas interpretações duvidosas e ainda inescrupulosas dadas pelos yuppies de Wall Street, que ao revés de uma aplicação mais conscienciosa do capital liberal, preferiram oportunismos baseados em sonhos e expectativas que apenas se concretizavam nos seus próprios bolsos e reinventando a administração de empresas com fusões, aquisições e desmantelamento de grandes estruturas empresariais para vendê-las aos pedaços oportunizando lucros desproporcionais apenas aos poucos iludidos que acreditavam que estavam tomando a maior fatia do bolo, enquanto que o verdadeiro bolo ficava nas mãos dos financistas.

E esta situação repete-se atualmente com capitais voláteis, investidores temerosos e, ao mesmo tempo, oportunistas que migram ao primeiro sopro de incerteza de lucro fácil e desmedido, fazendo desaparecer postos de trabalho, oportunidades de crescimento econômico real e gestão governamental segura e com destinos sociais acertadamente destinados.

Assim, acreditamos que esta não é apenas mais uma crise de capital e investimentos, mas principalmente uma crise conceitual de que caminho deve ser escolhido na presente encruzilhada. O que se pensar a partir de uma crise tão profunda que pessoas, empresas, instituições financeiras, governos e países retornam ao zero absoluto onde as oportunidades não são mais iguais para todos porque simplesmente não existem oportunidades. Ou ainda, a profundidade desta crise não pode ser devidamente mensurada, posto que seus efeitos ainda serão sentidos ao longo do ano.

A bem da verdade o maior temor do momento, acreditamos, não está na possibilidade de que a profundidade da crise seja a recessão e, depois, a depressão. O maior medo é que não haja qualquer modo de reverter-se o processo o que nem mesmo os melhores teóricos de ciência econômica são capazes de imaginar, até porque algum resíduo de otimismo deve restar no fundo das almas desesperadas dos cidadãos aturdidos ainda pelo primeiro baque da crise. Aliás, otimismo não é uma palavra comum nos dicionários especializados em ciência econômica percebido que estes especialistas, por sua própria origem histórica, não crêem em possibilidades de reversão de um processo contínuo de queda na atividade econômica.

Com este cenário, precisamos agora, apenas de forma academicamente correta, apontar aquelas que consideramos verdades e mentiras sobre a crise com a necessária dose de parcimônia e bom-senso e tendo como finalidade principal o desiderato de construir uma visão mais próxima dos cidadãos que até agora, aturdidos pelo choque de informações e de efeitos que tem sentido em suas próprias peles, não são muito aptos a entender o que efetivamente ocorreu. Como bem comentam os jornalistas e articulistas que costumam diuturnamente discorrer livremente sobre o assunto, o cidadão foi pego no olho do furacão, sem emprego, sem casa (hipotecada), sem dinheiro, sem crédito e, evidentemente, sem crédito para poder tentar ensaiar uma reação no sentido inverso da tempestade.

Quanto ao fim do liberalismo, voltaremos ao tema ainda aqui neste ensaio com o fito de demonstrar até que ponto isto pode ser considerado uma assertiva ou um questionamento.

VI – PRIMEIRA VERDADE: TODOS SÃO CULPADOS.

21/12/2008 - 17h56

FMI adverte para possível piora da crise; BC espanhol teme "depressão mundial". com BBC, France Presse e Reuters.

Autoridades econômicas mundiais advertiram neste domingo que a crise econômica pode se tornar ainda pior em 2009, caso os governos das principais economias não tomem as medidas adequadas para animar o consumo, os investimentos e a criação de empregos.

"Estou particularmente preocupado com o fato de que nossa previsão, já muito negativa, vai ser ainda mais negativa se um estímulo fiscal apropriado não for colocado em prática', disse o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, em uma entrevista à rádio BBC.

O titular do Banco da Espanha (o banco central espanhol), Miguel Angel Fernández Ordoñez, reforçou as palavras de Strauss-Kahn, ao dizer que a incerteza sobre a economia mundial é "total" e que é possível uma "depressão maior", em entrevista publicada neste domingo pelo diário local El País.

"A desconfiança é total. O mercado interbancário não funciona e se geram círculos viciosos: os consumidores não consomem, os empresários não contratam, os investidores não investem e os bancos não emprestam. Há uma paralisação quase total, do qual nada escapa", afirmou Ordoñez.

O titular do BC espanhol, no entanto, estima o final da crise entre o final de 2009 e princípios de 2010, mas adverte que a crise "pode se estender devido à falta geral de confiança".

Ainda segundo Ordoñez, uma reativação relativamente rápida é possível graças à queda nos preços do petróleo e ao rebaixamento das taxas de juros, que influenciam os empréstimos bancários.

Alemanha, Canadá e Japão

Ontem, os governos da Alemanha, do Canadá e do Japão anunciaram planos bilionários para estimular o consumo e setor produtivo e enfrentar os desdobramentos da crise financeira que abala a economia mundial. O parlamento japonês aprovou um orçamento da ordem de US$ 54 bilhões, enquanto no Canadá, as montadoras devem receber uma ajuda equivalente a US$ 3,3 bilhões. E na Alemanha, a chanceler Angela Merkel prometeu um novo pacote de estímulo econômico para janeiro.

O pacote japonês de US$ 54 bilhões (R$ 130 bilhões) proposto pelo Executivo prevê cortes de impostos para proprietários de imóveis, bem como empréstimos a pequenas empresas além de benefícios para desempregados.

No Canadá, o primeiro-ministro Stephen Harper anunciou que o governo vai liberar 4 bilhões de dólares canadenses (cerca de US$ 3,3 bilhões) para as montadoras americanas localizadas na província de Ontario, onde se concentra a indústria automobilística local.

E na Alemanha, a chanceler Angela Merkel afirmou que seu país dará um 'passo mais além' em janeiro para estimular a economia. Em seu programa semanal de rádio, a mandatária alemã afirmou que 2009 será 'um ano cheio de desafios' e que seu governo vai preparar com cuidado as próximas medidas de estímulo à economia, principalmente para manter e criar empregos.

A notícia acima demonstra a inequívoca verdade de que todos somos culpados pela crise. Primeiro, porque todos acreditaram que esta onda de crédito fácil e abundante iria perdurar até o fim dos tempos e, deste modo, a gastança tornou-se a palavra de ordem. Gastou-se de forma desmedida, incontrolada, ou melhor afirmando, gastou-se de forma absolutamente insana.

E mais, todos colaboraram para que este processo tornasse-se uma espiral de ordem crescente: empresas, bancos, governos, investidores e cidadãos. O nível de endividamento cresceu assustadoramente eivando de fragilidade as economias disponíveis daqueles que consumiram a todo o vapor. Parece-nos que nenhuma lição foi aprendida das crises anteriores (1970, 1998 e 2002). Tudo parecia fácil demais, simples demais, rápido demais para que alguém tivesse o pensamento comedido de fugir desta espiral e passar a fazer sua lição de casa, aprendendo com os erros anteriores.

É comezinho na ciência macroeconômica que o salário deve ser distribuído entre consumo (C), poupança (P) e investimento (K), de tal modo que as três variáveis sejam respeitadas de forma quase que draconiana, proporcionando um fluxo monetário e econômico cuja fluidez assegure, em tempos de incerteza, uma reserva bastante proporcional ao tamanho do problema que se apresente.

Todavia, também esta lição foi esquecida ou mesmo perdida dentro da enorme euforia que tomou conta dos mercados e das pessoas fazendo com que estes arremetessem todas as suas expectativas na direção do incerto, do inseguro e do temerário. Mesmo países que já haviam enfrentado duas grandes guerras mundiais e, portanto, ciosos da necessidade de precaver-se em relação ao futuro, afundaram-se em um círculo vicioso de crédito fácil, alto nível de endividamento e ausência plena de garantias reais.

Tome-se o exemplo de grandes executivos e técnicos de investimentos dos mercados mundiais que viram suas comissões serem antecipadas antes mesmo da operação a elas ligadas tivesse efetivamente se concretizado e os lucros ou prejuízos apontados de forma final. Ou ainda, de empresas que acreditando na falsa evidência de que se tratava de um novo milagre econômico, incharam suas estruturas e anunciaram a implantação de novas unidades por todos os cantos do planeta.

Sem dúvida, todos somos culpados já que, de uma forma ou de outra, participamos deste processo, contribuindo para que ele frutificasse tal como um monstro de enormes e longos tentáculos, sorrateiramente infiltrando-se em todos os segmentos da economia, até o momento exato em que podia surgir e devastar tudo que estivesse à sua volta.

VII – SEGUNDA VERDADE: GOVERNOS, E NÃO PAÍSES SÃO CULPADOS.

A assertiva acima se deve ao fato de que não cabe culpar países pela crise, até mesmo porque países são estruturas sócio-políticas compartilhadas por cidadãos e geridas por um governo, este sim, responsável pelas ações que toma e pelas decisões que oferece aos seus governados.

A atual crise deixou bem claro que todos os governantes não souberam lidar com o mecanismo explosivo que tinham nas mãos. Governantes e seus administradores nomeados com proventos polpudos e cargos de confiança acreditaram que as possibilidades desta “bolha imobiliária” iria ter uma duração sem fim. Porém, quando as oportunidades se esvaíram entre os dedos, todos ficaram sem ação, pois tudo o que fora projetado era, na verdade, um castelo de cartas tão frágil e tão tênue que o resultado só poderia ser o esperado.

Vejamos a notícia abaixo transcrita:

Manifestantes islandeses festejam renúncia do governo. da France Presse, em Reykjavík.

Cerca de 1.500 pessoas se concentraram em Reikiavik neste sábado para festejar a demissão do governo e a convocação de eleições antecipadas, depois de semanas de protestos em todo o país pela profunda crise financeira vivida nesta ilha.

O primeiro-ministro da Islândia, Geir Haarde, anunciou na segunda-feira passada a renúncia imediata de seu gabinete, em consequência da crise econômica que afeta o país há quatro meses.

O governo islandês se viu submetido a uma forte pressão por parte da opinião pública, que exigia uma prestação de contas por causa da implosão econômica do país.

A Islândia, uma pequena ilha do norte da Europa de 320 mil habitantes, foi uma das primeiras vítimas da crise financeira mundial, por ter assegurado a tranqüilidade financeira no setor bancário.

A expectativa agora é de que uma nova coalizão seja formada para conduzir o governo às eleições gerais. Haarde havia antecipado a data das eleições na semana passada.

O sistema financeiro da Islândia entrou em colapso em outubro, com o peso de uma dívida acumulada durante anos de crescimento econômico rápido: o governo se viu obrigado a negociar empréstimos da ordem de US$ 10 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com vários países europeus.

A moeda islandesa, a coroa, sofreu grande desvalorização, e o desemprego no país aumentou. Segundo as previsões dos técnicos, a economia da Islândia poderá encolher 9,6% em 2009

As novas condições do mercado, a atitude do novo governo norte-americano em estabelecer formas forçadas de crescimento e renda, tentando “vender a américa”, a retomada do discutido em Doha, o protecionismo exagerado das economias em desagregação são apenas efeitos colaterais do mal principal causado pela crise: a absoluta falta de expectativas e de alternativas que possam fornecer uma solução de médio prazo. E afirmamos isso com a certeza de que soluções mirabolantes de curto prazo não existem, ou mesmo se existirem não se aplicam a este evento.

Quando falamos em médio prazo salientamos que isso se refere a um ou dois anos; ou seja, este e o seguinte são anos perdidos, anos em que amargaremos sangue, suor e muitas lágrimas quando os prejuízos ainda estarão sendo contabilizados e as perdas estarão, efetivamente, sendo apuradas.

Governantes são culpados porque não souberam atender ao principal pressuposto da administração pública: o Estado deve estar presente apenas naquilo em que sua atividade é indispensável, ou ainda, naqueles investimentos cujos resultados positivos são tão longos, tão custosos e de pouco retorno que nenhum empreendedor privado ousaria lançar-se. Esqueceram-se das lições pregadas por Keynes de que o Estado deve ser a mão invisível que apenas administra as oportunidades, distribuindo-as de forma equilibrada àqueles que realmente intencionam o bem comum, sem deixar de lado seu ganho suficiente para assegurar a sua própria manutenção. Sim, os governantes são culpados porque não apenas aproveitaram-se da oportunidade como também incentivaram que esta “bolha” ganhasse vida própria.

VII – TERCEIRA VERDADE: INVESTIDORES TAMBÉM SÃO CULPADOS.

Neste tópico, deixemos que as notícias recentes falem por si mesmas:

A escolha é entre os milhões ou os milionários! 17 de Outubro de 2008. (Extraído de: http://www.sr-cio.org/index.php?option=com_content&view=article&id=434:a-escolha-e-entre-os-milhoes-ou-os-milionarios&catid=1:economiamundial&Itemid=80)

Desde o início do ano até a semana anterior foram cerca de 25 trilhões de dólares que simplesmente desapareceram com o colapso das bolsas de valores por todo o planeta. Somente na semana passada foram 4,7 trilhões. Isso dá uma dimensão do caráter parasitário e fictício do grande cassino global em que se transformou o sistema capitalista.

A falência de alguns dos mais importantes bancos de investimentos do mundo e a iminência de centenas de novas quebras levou os governos dos EUA e Europa a intervir para tentar salvar os capitalistas e o sistema. O pacote de 850 bilhões aprovado pelo Congresso dos EUA, mais os cerca de 2,5 trilhões decorrentes das medidas adotadas pelo governo britânico e dos países da zona do Euro, representam um volume inédito de recursos públicos, mobilizados em regime de urgência, para salvar especuladores.

Os especuladores e sanguessugas comemoram. Como foi noticiado pela imprensa, apenas seis dias depois do pacote do governo dos EUA de 85 bilhões de dólares para evitar a quebra da seguradora AIG, seus executivos comemoraram com uma festa que custou 450 mil dólares!

A pergunta que todo trabalhador consciente se faz nesse momento é: por que é tão fácil levantar esses trilhões de dólares para os banqueiros e especuladores que estão em risco e é tão difícil levantar recursos para melhorar a vida dos dois bilhões de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza em todo o mundo?

Segundo a própria ONU, apenas uma parcela (150 bilhões anuais) dos recursos que hoje estão sendo entregues de mão beijada aos especuladores já seria suficiente para atingir as chamadas ‘metas do milênio’ definidas por esse organismo: acabar com a fome, reduzir a pobreza, as mazelas sociais e a degradação ambiental.

Mas, o que nem a ONU, nem muitos filantropos de ONGs reconhecem ou estão dispostos a admitir, é que não há como convencer governos e capitalistas a serem mais bondosos e razoáveis. A lógica do capitalismo é a lógica do lucro acima de tudo, de tudo mesmo, até das nossas próprias vidas e a do planeta. Os recursos de que precisamos para salvar o planeta e oferecer condições dignas de vida para quem vive nele, terão que ser arrancados com a força organizada dos trabalhadores e de todos que sofrem sob o capitalismo.

A manifestação recente da crise se originou no centro do capitalismo mundial, em primeiro lugar nos EUA, mas também a Europa, onde hoje já se pode falar em recessão. Lula cinicamente nos diz que tudo isso é um problema do Bush. Mas, o fato da crise ter começado nos EUA não é um fator que afasta o Brasil do problema. É exatamente o contrário.

A dependência do Brasil do mercado mundial e a interligação inédita das economias de todo o mundo sob a mundialização do capital e a globalização financeira dos últimos anos nos colocam todos no mesmo barco. Isso inclui a China, fator decisivo na economia e política mundial. Mas, também, o conjunto da América Latina que já vem de um ascenso de lutas de massas e a crise deve abrir uma nova situação ainda mais crítica.

Nos EUA e países europeus, já existem milhões sem casa e desempregados. Os serviços públicos vão sofrer grande deterioração, a vida vai piorar.

Vamos extrair os excessos e desconsiderar as expectativas tendenciosas, para afirmar que o fato é que banqueiros, investidores são pessoas oportunistas, movidas essencialmente pelo lucro, o que se justifica já que a sua principal mercadoria é o dinheiro, e como bem sabemos, dinheiro não possui cidadania nem mesmo bandeira. O dinheiro, como também sabemos há muito tempo, é um mal necessário, algo que deve ser tratado da mesma forma que uma mercadoria. Uma mercadoria muito sui generis, é verdade, mas apenas uma mercadoria.

Enquanto investidores e banqueiros valerem-se desta mercadoria como um item em si mesmo, então mais crises ocorrerão e novos desastres acontecerão. É fato que não podemos ignorar o dinheiro, mas devemos colocá-lo no seu devido lugar, observando a fórmula macroeconômica que comentamos acima: destinando-o para consumo (reservado), poupança (para emergências) e investimentos (crescimento organizado de suas próprias possibilidades).

Sim, investidores são tão culpados quanto os demais, apenas com uma diferença: eles estimularam perdas maiores para seus clientes do que para si mesmos. Sua responsabilidade será apurada alongo prazo quando os indivíduos conscientizarem-se de que não há ganhos fáceis e rápidos; que investimentos possuem perfis próprios e devem ser feitos por pessoas que possuam disponibilidades e preparo para tal. Devem atentar que o melhor investimento é aquele mais seguro e, via de regra, exige certo tempo.

Há muito tempo esta lei foi aprendida pelos apostadores de cidades como Las Vegas e Nevada, onde se sabe muito bem que ninguém ganha um milhão de dólares numa simples aposta. A aposta de uma cidade do jogo não difere muito de um investimento de alto risco, exceto, é verdade, pelo resultado como bem observamos no cenário atual. O valor do risco não pode exceder ao valor do investimento, ou ainda, o valor de uma boa noite de sono.

VIII – UMA ÚNICA VERDADE: O LADO POSITIVO DESTA CRISE..

Nesta altura deste texto, fica o questionamento de que, com a análise acima poder-se-ia apreciar um lado positivo para os eventos que deram azo à ocorrência da crise econômica mundial? Um observador mais afobado e ansioso por respostas rápidas e simples seria capaz de, sem qualquer temor, afirmar que esta crise é, em sua totalidade uma catástrofe sem limites e que nenhuma possibilidade positiva seria considerável.

Todavia, precisamos de um mínimo cometimento quando o assunto versa sobre análise de ciências mistas – como é o caso da economia que envolve conhecimentos exatos e de humanidades – posto que tal análise exige a percepção de valores e princípios que não podem, e nem mesmo devem ser considerados de modo isolado, mas sim como um cenário composto por diversos fatores cuja relevância não deve ser despercebida ou mesmo desconsiderada quando pouco valorizada a partir de um juízo crítico e de valor.

Senão vejamos. De início emerge o fato gritante que esta crise exteriorizou a necessidade de uma revisão das bases do capitalismo como hoje ele encontra-se concebido por economistas e tecnocratas, já que este modelo demonstrou de modo bastante selvagem sua absoluta ineficácia em termos práticos. A adoção de políticas financeiras e econômicas nas quais a livre iniciativa é tomada como valor absoluto a ser respeitado, independentemente de nações, países, povos e culturas, deixou à vista de todos suas enormes deformidades e inconsistências.

Investidores e analistas de capitais cuja única e exclusiva preocupação referia-se a importância que a proteção de portfólios e margens de lucro significavam no ambiente externo e interno evidenciaram uma falha quase que estrutural: sempre que estes capitais sentiam-se ameaçados ou em risco de serem perdidos, seus detentores e consultores tomavam uma atitude impensada de evadir-se daquele mercado, sem qualquer preocupação com o curto, médio e (principalmente), longo prazo. Neste momento via-se surgir o chamado “efeito de espírito de manada”, pelo qual pequenos investidores, cujas economias eram fruto de muito trabalho, seguiam a mesma trajetória orquestrando uma sucessiva seqüência de infortúnios, perdas e decepções.

Assim é de se acreditar que este modelo já nascera superado e destituído de senso coletivo, abarcando e corroendo uma das bases da democracia moderna, eivando as oportunidades e os anseios de todos os seres humanos. Considere-se apenas o fato de que não apenas capital foi perdido, mas também oportunidades, pleno emprego e aproveitamento consciente de recursos disponíveis. Investimentos produtivos foram simplesmente abandonados sem qualquer previsão de retomada, deixando à luz meridiana a dolorosa verdade de que a regra do zero absoluto – aquele estágio em que todos retornam à situação original e as vantagens anteriores dissipam-se como vento – além de atingir a todos impossibilitou qualquer manobra evasiva possível.

A ordem econômica e financeira mundial estava definitivamente comprometida e o ponto onde todos se encontravam era exatamente aquele que delineava os limites entre a recessão e a depressão. E isto deixa à mostra a necessidade de uma análise efetiva deste modelo de capitalismo e a busca de um modelo cujas bases possuam uma infra-estrutura social mais apoiada nas necessidades coletivas, nas expectativas de todos, em face do protecionismo de alguns.

Não queremos, nem mesmo podemos, oferecer uma análise puramente econômica (inclusive porque isto não é o objeto deste texto), posto que incorreríamos no enorme despautério de avançar sobre seara alheia e desconhecida. O que pretendemos é apenas propor uma discussão aberta e franca sobre como queremos que o mundo seja nos próximos anos: um ambiente de prosperidade e anseios positivos, ou um amálgama de interesses individuais sendo colocados numa situação de primazia absoluta.

Da mesma forma acreditamos que este evento, independentemente das proporções que ainda venha a atingir seja uma prova irrefutável do fracasso do liberalismo, posto que como comentamos anteriormente, ele demonstra de forma mais que contundente um fracasso na forma como este liberalismo foi tomado por muitos.

Valemo-nos aqui de uma consideração relevante sobre o “Consenso de Washington” (3), examinando suas proposituras e constatando que seus objetivos encontram-se, ainda hoje, plenamente válidas, muito embora sua aplicabilidade tenha se mostrado órfã de objetividade e de ausência de manipulações políticas pessoais, como percebemos do excerto abaixo transcrito (4):

E, conforme o ex-embaixador Paulo Nogueira Batista, "apresentado como fórmula de modernização, o modelo de economia de mercado preconizado no consenso de Washington constitui, na realidade, uma receita de regressão a um padrão econômico pré-industrial caracterizado por empresas de pequeno porte e fornecedoras de produtos mais ou menos homogêneos. O modelo é o proposto por Adam Smith e referendado com ligeiros retoques por David Ricardo faz dois séculos. Algo que a Inglaterra, pioneira da Revolução Industrial, pregaria para uso das demais nações mas que ela mesma não seguiria à risca. No Consenso de Washington prega-se também uma economia de mercado que os próprios Estados Unidos tampouco praticaram ou praticam (...). O modelo ortodoxo de laissez-faire, de redução do Estado à função estrita de manutenção da ‘lei e da ordem’ – da santidade dos contratos e da propriedade privada dos meios de produção – poderia ser válido no mundo de Adam Smith e David Ricardo, em mercados atomizados de pequenas e médias empresas gerenciadas por seus proprietários e operando em condições de competição mais ou menos perfeita; universo em que a mão-de-obra era vista como uma mercadoria, a ser engajada e remunerada exclusivamente segundo as forças da oferta e da demanda; uma receita, portanto, de há muito superada e que pouco tem a ver com os modelos modernos de livre empresa que se praticam, ainda que de formas bem diferenciadas, no Primeiro Mundo"

Gostaríamos ainda de destacar que esta proteção exorbitante da chamada “santidade dos contratos”, estabeleceu uma verdadeira indústria de indenizações, atolando os judiciários de quase todos os países em um cataclísmico mar de processos judiciais cujos resultados práticos foram o empobrecimento dos pequenos empreendedores e o enriquecimento de uns poucos oportunistas (sem qualquer intenção de generalizar), cujas intenções não foram, certamente aquelas mais nobres e de interesse público.

Sabemos também que a colocação relativa ao “Estado Mínimo”, revelou uma cornucópia de fracassos dos governantes no estabelecimento de políticas sociais plenas e integradoras, resumindo-se a projetos ambiciosos e sem qualquer perspectiva de manutenção e de sustentação, apoiadas em gastos controlados, porém sem qualquer estratégia e aumento excessivo da carga fiscal sobre os contribuintes que, de uma forma ou de outra, acabaram (e ainda continuam) pagando a conta.

Salientamos ainda que mesmo sem qualquer comprovação de ordem fática, este modelo da forma como foi aplicado (e não como fora originalmente concebido), criou o ambiente favorável ao crescimento da “indústria do submundo”, fomentando o tráfico de drogas, a pirataria, o uso indiscriminado de recursos públicos de forma desviada, a corrupção e o descaso com os interesses dos cidadãos.

Não se tenha qualquer dúvida que este modelo – além de já ter nascido como o germe de sua própria morte – também colaborou para um incremento na massa de desvalidos, miseráveis e terceiro-mundistas que, ao final das contas dependem de pífios auxílios públicos para um sustento que não o retira da linha de miserabilidade, mas apenas permite que seus narizes fiquem à tona assegurando o oxigênio mínimo para sua sobrevivência.

O fato positivo encontra-se na real necessidade de governantes de todo o mundo voltarem seus olhos não apenas para dentro de suas fronteiras, não apenas preocupando-se como seus nacionais, mas observando o cenário integral, compreendendo que a expressão “inclusão social”, traz em seu interior mais que uma simples expectativa distante.

Incluir o cidadão em uma sociedade equânime exige, antes de tudo, o resgate da dignidade desta sociedade que, pouco a pouco, será capaz de trazer para o seu seio aqueles que foram esquecidos, abandonados ou mesmo extirpados de sua convivência pelo simples fato de não encontrarem-se devidamente moldados para seus interesses.

O que se criou, na verdade, foi um sistema autofágico que apenas alimentava aqueles que o alimentavam, exigindo austeridade fiscal e política monetária rígida para países cuja capacidade de propiciar aos seus cidadãos condições mínimas de sobrevivência era tão impossível quanto supor-se que fornecer um vale-alimentação ou um vale-gás seria por si sós , elementos mais que suficientes para assegurar estabilidade e segurança.

Ademais e sem almejar qualquer pieguice, precisamos destacar que outra qualidade desta crise foi mostrar o quão frágil qualquer sistema econômico possa ser se não for administrado com bom-senso e coerência de posturas.

Acreditamos, de fato, que não se trata do fim do liberalismo como ele foi originalmente concebido, mas sim o fim de uma forma como este liberalismo foi aplicado no mundo real, demonstrando que modelos econômicos podem ser eficazes apenas enquanto modelos, porém, ao serem postos em prática exigem uma análise do ponto de vista tático e estratégico, adotando-se as correções que se fizerem necessárias, nos momentos em que se apresentarem e com a eficiência esperada, sem qualquer possibilidade de isenção a quem quer que seja.

IX – BREVE CONCLUSÃO.

Não vamos nos alongar mais do que o necessário, posto que por razões mais que óbvias, acreditamos já ter ido longe demais. Apenas para efeito de reflexão, ato que julgamos mais que fundamental no momento em que a humanidade se encontra, ficaríamos extremamente satisfeitos em colocar alguns pontos relevantes que, com certeza, estimularão discussões e raciocínios profícuos e proveitosos para toda a humanidade.

A partir das considerações de Francis Furuyama (5) em sua obra “O Fim da História”, e deixando de lado ser este autor um neo-conservador, carecemos colocar à observação de todos os possíveis leitores desta pequena e despretensiosa um pensamento mais que atual. Diz o autor, textualmente que “o fim da história não é a chegada de um sistema perfeito, mas a eliminação de quaisquer alternativas melhores para ele”. (6). Esta frase, que em si não pretende ser apenas uma frase de efeito traz para dentro de nossas mentes o fato de que a história da humanidade trata-se de um processo dialético contínuo (uma função cíclica e sincronizada), cujos efeitos da tese em choque com sua antítese, proporcionam momento de crise, que pode muito bem significar ameaça ou oportunidade.

A visualização da crise depende de como o observador a vê, sente e pensa sobre ela, sendo certo que admitida como ameaça ou como oportunidade, restará ao indivíduo assumi-la e com ela os riscos inerentes de sua escolha. Ou seja, novamente o livre-arbítrio da racionalidade humana torna-se seu juiz e algoz, dependendo de como esta faculdade que nos torna diferentes e especiais seja utilizada, sem qualquer pretensão de ser valorizada a partir de um sistema de bem e mal, até mesmo porque sabedores somos de que ninguém é essencialmente bom ou mau, apenas circunstancialmente estes sentimentos podem vir à tona, escravizando ou libertando o ser humano de sua própria racionalidade impura.

X – NOTAS DE RODAPÉ.

(1) – Joseph E. Stiglitz (Gary, Indiana, 9 de Fevereiro de 1943) é um economista estadunidense. Foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos (Council of Economic Advisers) [1] no governo do Presidente Clinton (1995-1997), Vice-Presidente Sênior Para Políticas de Desenvolvimento do Banco Mundial, onde se tornou seu economista chefe. Recebeu, juntamente com A. Michael Spence and George A. Akerlof, o Prémio de Ciências Económicas, imprecisamente também chamado de "Prêmio Nobel de Economia"[2] em 2001 "por criar os fundamentos da teoria dos mercados com informações assimétricas".

Stiglitz formou-se no Amherst College (B.A., 1964), em Massachusetts, e no Massachusetts Institute of Technology (Ph.D., 1967). O estilo acadêmico característico do MIT - modelos simples e concretos, que objetivam responder questões econômicas relevantes - agradou a Stiglitz e muito contribuiu para o desenvolvimento de seu trabalho posterior. [2] Foi agraciado pela Fullbright Comission com uma bolsa de estudos para Cambridge, onde estudou de 1965 a 1966. Stiglitz lecionou em várias importantes universidades americanas, dentre elas Yale, Harvard e Stanford. Em 2001 Stiglitz tornou-se professor de economia, administração de empresas e negócios internacionais na Columbia University em Nova York.

(2) – Extraído do sítio eletrônico: DiárioEconômico. com, de 29.12.2008.

(3) - John Willianson, economista inglês e diretor do instituto promotor do encontro, foi quem alinhavou os dez pontos tidos como consensuais entre os participantes. E quem cunhou a expressão "Consenso de Washington", através da qual ficaram conhecidas as conclusões daquele encontro, ao final resumidas nas seguintes regras universais:

1. Disciplina fiscal, através da qual o Estado deve limitar seus gastos à arrecadação, eliminando o déficit público;

2. Focalização dos gastos públicos em educação, saúde e infra-estrutura

3. Reforma tributária que amplie a base sobre a qual incide a carga tributário, com maior peso nos impostos indiretos e menor progressividade nos impostos diretos

4. Liberalização financeira, com o fim de restrições que impeçam instituições financeiras internacionais de atuar em igualdade com as nacionais e o afastamento do Estado do setor;

5. Taxa de câmbio competitiva;

6. Liberalização do comércio exterior, com redução de alíquotas de importação e estímulos á exportação, visando a impulsionar a globalização da economia;

7. Eliminação de restrições ao capital externo, permitindo investimento direto estrangeiro;

8. Privatização, com a venda de empresas estatais;

9. Desregulação, com redução da legislação de controle do processo econômico e das relações trabalhistas;

10. Propriedade intelectual.

(4) – Ambos extraídos de CONSENSO DE WASHINGTON (Do livro: Para conhecer o Neoliberalismo, João José Negrão, pág. 41-43, Publisher Brasil, 1998).

In: http://www.cefetsp.br/edu/eso/globalizacao/consenso.html.

(5) - Yoshihiro Francis Fukuyama (Chicago, 27 de outubro de 1952) é um filósofo e economista político nipo-estadunidense. Figura chave e um dos ideólogos do governo Reagan, Fukuyama é uma importante figura do Neoconservadorismo.

Neoconservadorismo (ou neocon) é uma corrente da filosofia política que surgiu nos Estados Unidos a partir da rejeição do liberalismo social, relativismo moral e da contracultura da Nova Esquerda dos anos sessenta. O neoconservadorismo influenciou os governos de Ronald Reagan e George W. Bush, representando um realinhamento da política estadunidense e a conversão de alguns membros da esquerda para a direita no espectro político.

O neoconservadorismo estadunidense enfatiza a política externa como aspecto mais importante nas responsabilidades de um governo, com o fim de manter o papel dos Estados Unidos como única superpotência, condição indispensável para a manutenção da ordem mundial. [2] O primeiro neoconservador declarado foi Irving Kristol, que explicitou sua condição em um artigo de 1979, intitulado "Confessions of a True, Self-Confessed 'Neoconservative.'"

Originalmente os neoconservadores se colocavam em uma perspectiva mais à esquerda. Anti-fascistas, muitos deles foram ligados ao Socialismo, às idéias do New Deal; havia trotskistas, sindicalistas, anarco- sindicalistas.

Assim como nos Estados Unidos, o neoconversadorismo (ou ideologia neocon) vem ganhando adeptos no Brasil, a partir do início dos anos 1990 - tanto no ambiente acadêmico (Olavo de Carvalho), como no meio jornalístico (Diogo Mainardi). Os neocons brasileiros compartilham com os pioneiros estadunidenses das profundas críticas às conduta e proposições de políticos identificados como de esquerda, associando estes últimos a supostos projetos de aniquilação das liberdades civis e de incursões estrangeiras no país. O estilo discursivo neocon também é freqüentemente marcado por uma retórica agressiva, enfática e com fortes traços de ironia.

XI – APÊNDICE.

George Soros, em seu livro The New Paradigm for Financial Markets (2008), diz que "estamos em meio a uma crise financeira não vista desde a crise de 1929" [13] e declara que essa crise poderia, em tese, ter sido evitada:

“... desgraçadamente temos a idéia de fundamentalismo de livre mercado, que hoje é a ideologia dominante, e que pressupõe que os mercados se corrigem; e isso é falso porque geralmente é a intervenção das autoridades que salvam os mercados quando eles se atrapalham. Desde 1980 tivemos cinco ou seis crises: a crise bancária internacional de 1982, a falência do banco Continental Illinois em 1984 e a falência do Long-Term Capital Management em 1998, para citar três. Cada vez são as autoridades que salvam os mercados, ou organizam empresas para fazê-lo. As autoridades têm precedentes para se basear. Mas, de alguma maneira, essa idéia de que os mercados tendem ao equilíbrio e que seus desvios são aleatórios ganhou aceitação geral e todos estes instrumentos sofisticados de investimentos foram baseados nela”.

Ainda sobre Stiglitz:

Crítico severo e contundente dos "fundamentalistas de livre-mercado", Stiglitz tem permanentemente questionado o que chama de "bases ideológicas" que regem a maior parte das decisões econômicas mundiais. Isto torna-se mais evidente na sua polêmica com o Fundo Monetário Internacional - FMI, a quem acusa de "empurrar" os países subdesenvolvidos a abrir seus mercados à competição externa antes que possuam instituições estáveis e democráticas para proteger seus cidadãos. A teoria que desenvolveu, e pela qual recebeu o prêmio Nobel, contesta frontalmente Adam Smith: " O conjunto de idéias que eu vou apresentar aqui solapou as teorias de Smith e a visão de governo que nela se apoiava. Elas sugeriram que a razão pela qual a mão invisível é invisível é por que ela não existe ou, quando existe, está paralítica" [3] Joseph E. Stglits, introdução à sua Aula Magna, por ocasião do recebimento do Prêmio Nobel (Estocolmo, 8/12/2001).

"Para a maior parte do Mundo a globalização, como tem sido conduzida, assemelha-se a um pacto com o demônio. Algumas pessoas nos países ficam mais ricas, as estatísticas do PIB - pelo valor que possam ter - aparentam melhoras, mas o modo de vida e os valores básicos da sociedade ficam ameaçados. Isto não é como deveria ser.

O foco de Stiglitz em desenvolvimento econômico e no uso de déficits para arrancar economias de recessões encontra paralelo em Amartya Sen e Keynes. Sua defesa da criação de uma moeda global de reserva - para evitar os problemas atuais do uso do dólar americano como moeda de reserva - é realmente inovadora e certamente atrairá críticas de outros economistas mais ortodoxos.

Alguns analistas (como o professor de economia política da Universidade Estadual de Washington Gerald Houseman, que está escrevendo um livro sobre Stiglitz) chegaram a sugerir que: "O mito formidável da 'livre-empresa', uma grande muleta para o sistema de crenças dos que acreditam ser a economia de mercado a quinta-essência, está morto desde 1986 [7] e um modesto economista, Joseph E. Stiglitz, juntamente com dois colegas ganhadores do prêmio Nobel de Economia, George Akerlof e Michael Spence deram a lancetada fatal em seu coração durante a 'Aula Magna' [8] de aceitação do prêmio, em Estocolmo (8/12/2001).

Stiglitz é considerado um economista novo-keynesiano, tem-se dedicado a analisar o desenvolvimento econômico no mundo e seus estudos contribuíram para o surgimento de uma corrente de pensamento que se denominou "novos desenvolvimentistas".

“O mercado neoliberal fundamentalista foi sempre uma doutrina política a serviço de certos interesses. Nunca recebeu o apoio da teoria econômica. Nem, agora fica claro, recebeu o endosso da experiência histórica. Aprender essa lição pode ser a nesga de sol nas nuvens que hoje pairam sobre a economia global”. (JOSEPH E. STIGLITZ).