VIVENDO DE PASSADO
Isso não é de hoje. Meu antecessor não fez nada!
As duas frases acima são, com freqüência pronunciadas pelos agentes públicos, vulgos políticos, quando, cobrados por seus eleitores a respeito das demandas para a melhoria da sociedade, preferem “jogar a carga em lombo alheio” a assumir a responsabilidade da situação.
É sintomático dos titulares do poder, em todos os níveis administrativos, rememorar as gestões anteriores e alegar que as mudanças que se esperavam de governos anteriores não vieram, dando a entender que o povo não pode se queixar, deve se conformar com situações de inércia que serão passadas aos próximos ocupantes, que com certeza também imitarão seus antecessores não cumprindo promessas de campanha e usando o passado como muleta para amparar suas deficiências enquanto mandantes.
Parece que nossos políticos não se deram conta de que a população cansou-se desse papo de comparação com governos anteriores. Justamente por esperar modalidades novas de governar é que os cidadãos se dirigem às urnas de dois em dois anos. Mesmo quando reelegem determinado candidato, os eleitores desejam que cada gestão apresente novidades em relação a anterior e que, se houve problemas não solucionados, eles sejam resolvidos no mais curto espaço de tempo, pelo novo ocupante do cargo.
Por mais que em certas situações a choradeira da herança maldita se justifique, esses são casos esporádicos, não devendo servir de exemplo para generalizar e demonizar eternamente os governos anteriores. Além disso, o político que se ampara nessa fraca justificativa para explicar o marasmo de seu governo deve lembrar-se de seus compromissos perante quem o elegeu. Aí se faz uma pergunta inevitável: se o governo anterior era tão ruim, por que a disposição em substituí-lo? Se não era para corrigir suas falhas e para fazer o que não havia sido feito, para o que era?
Há que se destacar a importância que o passado tem na história das pessoas. Porém, viver rememorando-o excessivamente não passa de boba nostalgia, além de engessar atitudes que poderiam ser benéficas para a maioria da sociedade. O passado, em todas as áreas da vida, mas, sobretudo na arte política, só irá importar se servir de embasamento para o planejamento de ações presentes e futuras. Lamentar coisas que poderiam ter sido feitas por outros mandantes pode parecer muito cômodo, fácil para explicar problemas de solução difícil, entretanto, o mandante que lança mão desse artifício engana a si próprio se acha que está enrolando o povo com tal discurso. Os eleitores estão cada vez mais atentos e perceberam que a insistência em jogar a culpa nos governos passados é um recurso amplamente utilizado por políticos demagogos, sem planos concretos para buscar o desenvolvimento comum e em nada comprometidos com quem os delegou poder.
Portanto, caros agentes públicos, vamos tratar de arregaçar as mangas e fazer o que precisa ser feito, imprimindo uma marca de dinamismo às gestões e passando uma borracha nos anos que antecederam sua chegada ao poder. Olhemos, pois adiante e esqueçamos o retrovisor.
Aos eleitores cabe, da próxima vez que presenciar um político jogando a culpa de suas falhas nos mandatários anteriores, mandá-lo a algum museu para exercer a função de curador ou sugerir-lhe alguma escola para lecionar História. Que essas sim são profissões que utilizam o passado como matéria-prima.