DEUS E O DIABO

Dizem que Deus é brasileiro e mora lá pelas bandas da Bahia, pertinho de Porto Seguro; outros dizem que falam com Deus e que ele manda mensagens cifradas para que estes assessores divinos as decifrem e as utilizem em prol do povo sofrido, mas só se este povo pagar caro por elas; já existem alguns que Deus é o símbolo do BEM, que tem uma barba branca enorme e veste uma túnica branquinha e que mora nas nuvens. Quando falamos do BEM e do MAL estamos sempre relacionando coisas e pessoas de aparências puras para servirem de símbolos, daí a crença eterna que o branco, as flores, as nuvens BRANCAS, os idosos de barbas longas ou as criancinhas meigas podem servir de modelos para tais apresentações.

O bem é a virtude, o benefício, o proveito, a afetuosidade, enfim, tudo que seja contrário ao mal é automaticamente sinônimo do bem, da mesma forma que o bem, na cabeça de alguns burocratas interesseiros ou nas cabeças dos juristas, significa a propriedade, o domínio, o proveito e a utilidade das coisas materiais, então, antes de discutirmos sobre o tema precisamos diferir entre o bem da graça e da bondade e o bem da propriedade; notem que ambos os jargões possuem a mesma característica de lingüística, pelo menos em nosso idioma; mas uma coisa geralmente não tem nada a ver com a outra.

Quando falamos do mal, isso nos lembra a maldade, o horripilante, as atrocidades, os crimes e por conseqüência, lembramos das trevas, do demônio, da escuridão, da cor preta ou ainda dos olhos vermelhos. O satanás é descrito por milhares de ilusionistas escritores como sendo uma figura alta, esguia, com chifres pontiagudos na cabeça, que solta fogo pela boca, cheira a enxofre e veste uma capa preta com detalhes em vermelho sangue. Seus dentes são grandes e pontudos e ele ainda tem um enorme rabo nas costas, além de é claro, estar sempre segurando um tridente nas mãos.

O diabo, que também é conhecido como O CÃO, O LÚCIFER, O SATANÁS OU O DEMÔNIO (sai de retro coisa ruim) é visto sempre com estas mesmas características; o “cara” só serve para matar, roubar almas e maldizer a palavra do bem. O satanás, da maneira que é descrito ao longo de milhares de anos, sobreviveu a todas as rezas, todos os presságios divinos e será assim até que ele consiga vencer ou ser vencido pelo bem, ou seja, enquanto houver um humano vivo na face da terra, haverá a crença de que o bem é Deus e o mal é o Satanás; que alguns pigmentos simbolizam o bem, enquanto outros simbolizam o mal ou ainda, que alguns objetos são destinados à prática do bem, enquanto outros, para se fazer o mal.

A verdade é que ninguém para pra pensar claramente que, caso existisse mesmo esta figura do mal, simbolizada pelo demônio, jamais ele se apresentaria desta forma; dizem que o tal diabo foi anjo de Deus e que se desviou de sua missão primordial e neste caso, fundou seu próprio reinado em algum lugar abaixo de nós para fazer concorrência com Deus. Se este “cara” sobreviveu há tanto tempo e trouxe consigo tanta alma impura é porque ele no mínimo é inteligente, afinal de contas, ninguém sobreviveria a tanto poder exercido por Deus, o Deus supremo, aquele que alguns acreditam ser o Pai de Jesus. O Deus que a história bíblica acredita existir e que tem por nome Jeová é o que há de mais poderoso da Terra e do infinito do Universo; nada nem ninguém chegam sequer aos pés de seu Poder, portanto, se o diabo sobreviveu, com certeza é porque ele é inteligente e possui um poder paralelo tão grande que não se deixou sucumbir.

Quando falamos da moradia destas duas forças, falamos que Deus está no céu, lá no alto, acima de tudo e de todos; já quando citamos a moradia do mal, apontamos como direção do inferno o solo. O inferno está abaixo da terra e não pode ser do outro lado, porque o outro lado da terra se estiver no Brasil, é o Japão, portanto, o tal Reino das Trevas deve estar no meio, ou será que o demo tem olhos puxados?

O bem e o mal travaram uma desarmonia ambígua e longínqua; tal batalha nos fez, os seres humanos, participar de um ato de arte cênica, não como expectadores e sim como signatários de um pacto onde os dois concorrentes são subjetivos, mas que todos acreditam existir; mas a grande dúvida é quando ambos se misturam; eu não falo de Deus querendo fazer amizade com o Diabo ou vice versa, mas quando o mal se revela em forma do bem e quando o bem é interpretado como o mal, isso sim me dá arrepios.

Diz o ditado popular que “de boas intenções o inferno está abarrotado” e indiferente do aforismo do povo, quantos anjos, no sentido figurado da palavra, descem a terra em trajes de demônios e são mortos, estuprados e aniquilados? Milhares talvez, todos os dias! Milhares de seres humanos cheios de boas intenções em seus corações (não falo na poesia do termo) estão rondando terras, estradas e templos, mas não se apresentam da forma que todos gostariam de vê-los, ou seja, lindos, bem vestidos e cheirosos. Estas pessoas de bom coração acabam numa vala dos comuns em algum cemitério, mortos de fome ou de pancadas; outros estão lindos, cheirosos e bem vestidos, normalmente de branco, dizem fazer o bem, alguns até dizem ter passe livre com Deus, mas ao terminar de suas pregações encomendam almas para suas orgias particulares; quem é o bem e quem é o mal nesta história?

Meus amigos da clerezia católica ou dos exorados protestantes, se lerem meu artigo dirão que sou a encarnação do demônio, ou que meu texto só serve para confundir os puros e tementes, mas com certeza não é isso. Falar sobre o bem e o mal é como tentar saber se as mesmas quantidades de água, uma do mais puro rio doce e a outra do Mar Morto, quando misturadas, qual porção pertence a quem (comparação esdrúxula porque toda a água ficaria salgada); o bem se revela por meios de atos e muitos destes atos são enganosos, da mesma forma que o mal se revela por meio dos mesmos atos.

Nos tribunais que tive a oportunidade de freqüentar, eu já observei dezenas de pessoas chorando e jurando inocência, mas na verdade matavam, roubavam e mentiam; da mesma forma que já pude observar dezenas de outras pessoas sérias e sisudas perante o juiz, que diziam a verdade nua e crua, sem comoção facial ou poética. Muitas destas que choraram perante o juízo terreno, foram absolvidas e riram a seguir, como se seus sorrisos traduzissem algo do tipo: - Enganei os bobocas! Muitos dos sisudos que diziam a verdade foram condenados, alguns a penas duras e longas; e assim se faz a vida, o bem se vestindo de mal e o mal se revelando pela imagem do bem.

Falar da eterna batalha entre Deus e o Diabo sem lembrar a SANTA INQUISIÇÃO, meu texto seria anódino e improfícuo, até para mim mesmo; nada em toda a história presenciada e escrita chega aos pés dos barbarismos patrocinados EM NOME DE DEUS pelos que se diziam “apóstolos de Cristo”. No filme espanhol “Sombras de Goya” o preclaro pintor da Espanha, Francisco Goya, se vê diante das várias faces do mal incorporadas, todas elas, pelas vestes do bem. O Tribunal da Inquisição prende uma de suas musas e a condena a morte, mas antes disso, seu pai paga uma alta soma em moedas de ouro a igreja para que ela atenue a condenação. Diante de tanto dinheiro, um Cardeal resolve prendê-la para sempre ao invés de matá-la e na prisão ela engravida de um Bispo, que depois é preso e morto, mas não pela igreja.

Em Sombras de Goya fica claro que o mal intermédia sempre em favor do bem e o bem está sempre de braços dados com o mal; eles andam lado a lado e ninguém sabe ao certo quem é quem; uma loucura lúdica onde as pessoas são obrigadas a acender uma vela para Deus e outra para o Diabo, pois se não fosse assim, morriam mesmo sendo tementes a Deus.

Se observarmos esmiuçando as minudências históricas de cada época, inclusive a atual, pouca coisa mudou e a dúvida persiste até hoje, nem sempre os olhos azuis demonstram pureza ou nem sempre o que reluz é ouro. Nada disso tem a ver com crença em um Deus ou num Messias; crer numa força suprema que criou e mantém o universo é outra questão completamente diferente.

Governos que se elegem e se mantêm a custa do sangue do povo costumam se apresentar como anjos do bem e em seguida apresentam suas armas de enviados do inferno; tal conceito está presente em todos os continentes, principalmente na África e Ásia; são nestes dois continentes que Deus e o Diabo, ou o bem e o mal, andam mais juntos do que em qualquer outra região do globo; a miséria imperando nas cidades e nos campos e os líderes agrupados em palácios se dizendo serem “os Libertadores”.

O próprio Jesus Cristo dizia que o joio deveria crescer junto com o trigo. Contudo, no momento aprazado separaria um do outro. O trigo representa o bem; o joio, o mal. Os dois devem crescer juntos, ou seja, não há dualismo entre um e outro, pois o mal é sempre visualizado como a ausência do bem. Ele só surge quando o bem não se fez presente. É como o ladrão que rouba. Ele só rouba porque não houve antes uma prevenção. Resistir ao mal significa suportar pacientemente a sua presença, mas sem perder de vista o bem. Haverá tentações, desânimos, mal-entendidos e incompreensões alheias. Nada disso deve tirar o ensejo de continuarmos firmes em nossa jornada evolutiva, pois "há seu tempo ceifaremos se não houvermos desfalecido".

Investigar como o problema do bem e do mal aparece de modos distintos na filosofia, na literatura e na teologia. Seria o mundo cruel e sem significado? Podemos confiar na vida ou ela não passa de um acidente da matéria? O drama do bem e do mal não é um jogo de palavras, ele nos afeta no corpo e na alma. O curso pretende mergulhar nesse abismo da dúvida última, do cotidiano ao último suspiro de cada um de nós.

Ainda muito distante de atrelarmos o tema a questão moral, resta-nos investigar a princípio o que a moral tem a ver com aquilo que acreditamos ser bom e o que temos certeza de ser ruim; muitas vezes, o “ser bom” pode parecer razoável ou concreto para mim, mas poderá não haver este conceito para o meu vizinho; então, estaremos sempre diante da dúvida do que é bom e do que é ruim, do que é Deus e o que é o Diabo.

Na questão teológica ou bíblica, quem mata origina o mal e Deus matou para purificar; Deus matou em nome da honra de seu mundo em Sodoma e Gomorra, matou na travessia do Mar Vermelho, no dilúvio de Noé e em tantos outros capítulos dos livros que muitos acham sagrados; Deus matou porque foi preciso e para que todos soubessem de sua existência e isso não o fez, para os crentes e tementes, uma espécie maléfica ou demoníaca. Está escrito de forma irrefragável QUE FOI DEUS QUEM MANDOU SUA IRA PARA PUNIR todas estas pessoas, mas não poderia ser também o DIABO? Afinal de contas, somente o Diabo é quem demonstra este tipo de ira e isso é a face do mal.

Para a justiça não há bem ou mal descrito como regra absoluta; existem as leis (duvidosas, discrepantes e muitas vezes sem nenhum sentido) e quem as cumpre rigorosamente está livre da condenação, isso pode ser traduzido como ser “uma pessoa de bem”; já que as descumprem, estes restarão o rótulo oposto. Para algumas nações, os que praticam o contrário das leis, uma pena restritiva ou não de liberdade o faz pagar e reingressar na sociedade dos justos; em outras nações, somente a morte faz o marginal de a lei pagar pelos seus crimes; nestes casos nem a própria lei é considerada boa ou ruim, ela é simplesmente justa e necessária para a ordem e a manutenção da sociedade.

Distante de ser um conto de fadas, o bem e o mal ou Deus e o Diabo tornou-se uma questão filosófica moderna, mas moldados todos em uma tábua de ritos e atos dos antepassados; o medo da prática da coisa errada é quem determina os limites entre ser do bem e ser do mal; o canto fúnebre da ética e da moral pode determinar a face de Deus e a do Diabo e por mais que tenhamos de afastar a poesia, haverá sempre a dúvida para os estudiosos de quem é quem nesta história.

Fazer caridade, atravessar um velhinho na rua, auxiliar um cego ou dar comida aos pobres, com certeza é um gesto nobre, é uma obrigação para todos os seres humanos; o respeito mútuo e a harmonia dos atos de afabilidade poderiam fazer das pessoas um grupo menos desumano; fazer o bem pode estar rotulado e traduzido em questões humanitárias e de ajuda aos mais necessitados, mas antes de qualquer coisa, necessita-se possuir nobreza de pensamentos; pensar no bem faz com que pratiquemos o bem; ter pureza de coração eleva o corpo a caminhar por espinhos sem sentir dor alguma e isso é o mais difícil e quase impossível nos dias atuais.

Bem ou mal, temos uma parcela dos humanos que praticam aquilo que acham certo; outra parte pratica aquilo que a primeira acredita ser demoníaca; uns se dizem do bem e outros se dizem estarem fazendo o bem; ninguém se auto-rotula do mal; ninguém se diz assecla do diabo para que não haja o pré-julgamento ou o preconceito; ao final, estamos nós, os que vivem no purgatório desta história, aguardando um veredicto, uma revelação clara para tomarmos partido, se somos do bem ou se declaramos sermos contrario a ele.

Ser do bem ou do mal depende apenas de qual lado do muro você ou eu estamos; a presumir pelos fatos, confesso: ainda não sei quem é do bem e quem é do mal! É preciso fazer aquilo que não contriste o mundo e que resgate a dignidade do consangüíneo ser humano; isso para mim é fazer o bem e se tornar membro do clube seleto dos que promovem a virtude e todos os que não pensam assim são membros do outro lado; se de um lado há Deus ou o Demônio, isso também é outra história e outro capitulo desta batalha interminável pela busca do certo e do errado; você e eu temos um Deus dentro de nós e é este Deus quem determina ora o que é correto, ora o que é tempestivo.

Se você acredita, seja no que for, aparelhe sua crença de acordo com o bem estar do coletivo, desta forma você estará causando o bem e pouco importa o restante; o restante será o mal; não importa se está bebendo um Bordeaux ou um coco d’água de cacimba, o importante é o que pensa a respeito do “efeito” do liquido; fazer o bem é muito mais prazeroso e benéfico do que fazer o mal; é nisso que acredito e em nada mais...!


CARLOS HENRIQUE MASCARENHAS PIRES
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Enviado por CHaMP Brasil em 01/02/2009
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