Morte Certa.

A morte é algo que abala, que feri, que causa dores infindáveis, que as vezes parece solução, mas que todos temem.

Todos nós, como seres humanos que somos, tememos morrer, e àqueles que falam não temê-la tem um relacionamento com ela ainda mais sofrível, pois não se permitem sequer refletir a cerca.

Frágeis em nosso essência, utilizamos de subterfúgios de nada temer para que possamos lidar melhor com a idéia de que o dia chegará e nada poderemos fazer.

Termos como única certeza na vida o fato de sermos findos, remete-nos a reflexão diária de que tipo de vida levamos, há o que vive como se fosse o ultimo dia, e pior, há o que espera sentado o próprio fim.

Agarramos-nos as religiões, a dogmas e toda a sorte de fugas possíveis para aliviar esse temor inerente ao querer, inato, consciente e latente em todos nós.

A morte remete a perda eterna e nos faz muitas vezes sofrermos antecipadamente a inexatidão do dia, hora, circunstancia. Sofremos de dores psíquicas, de angústia, depressão e inconstância de humor pelo simples fato de que isso tudo há de acabar um dia.

Quem teme a morte demasiadamente, teme a vida, evita, foge, oculta-se num submundo afetivo abalado, tolhido, reprimido, cauteloso e paralisante.

Refletir se vale a pena o que vives é maneira simples de seguir o caminho, não o mais fácil, mas o mais certo. Não há necessidade da paranóia de a cada segundo se perguntar se deve ou não fazer coisas simples, basta uma certa cautela, responsabilidade, ousadia e confiança, e o mais dará certo.

A morte é iminente e aos que somente aguardam, cabe não tentar barganhar com Deus, a vida não é troca de promessas, nem juramentos, tampouco prêmio de consolação, autopiedar-se é acelerar o processo.

Acredito que não haja quem a encare de forma natural quando está com os dias contados, pois este passará por vários estágios, como a negação, o isolamento, a raiva, a barganha, a depressão e a aceitação. Isso ocorre em casos de pessoas terminais.

Porém a grande maioria, a encara de assalto...um acidente, uma doença fulminante, as peças que a vida nos prega. Ela nos pega desprevenidos, despreparados...e na soberba maior de sermos invencíveis temos as pernas e por vezes o corpo todo quebrado pelo rompimento repentino dos laços.

Preparamos-nos para a morte da mãe, do pai...porém quando vem, não sabemos lidar com ela, sobretudo quando não nos permitimos refletir que o corpo e a alma descansam em algum momento.

E se a morte de quem nos trouxe ao mundo é dolorosa, imagine de quem colocamos no mundo. A morte de um filho é anti-natural, queremos morrer antes deles, queremos ver nossos frutos dar-nos mais frutos, na lógica natural da vida, porem sabemos que por mais que queiramos isso, perdemos pedaços de nós pelo caminho e não cabe aqui questionamentos; pois por mais que questionemos, não encontraremos explicação, mas o conforto vem.

Agarrar-se a Deus não é subterfúgio, não é fraqueza...é a maneira mais sensata, cabível e inteligente a se fazer. Pois Dele viemos e pra Ele voltaremos, ainda que haja quem não acredite.

No momento final, ate o ateu roga aos céus que seja breve o sofrimento. No mundo em que vivemos hoje é insensato e incabível não pensarmos no fim.

Pensemos, mas não com a neurose de quem acredita que ela está a cada esquina, porém com a serenidade de quem sabe que a única certeza da vida é a morte.