A violência e a falta de interesse pela escola são apenas reflexos da nossa sociedade
A violência e a falta de interesse pela escola são apenas reflexos da nossa sociedade
Na escola os alunos têm comportamentos machistas, preconceituosos, praticam o bullying escolar (atos de violência intencionais e repetidos contra uma pessoa ou um grupo), demonstram total interesse pelos conselhos e ensinamentos dos professores ou dos demais funcionários mais velhos da instituição. Essa situação é paradoxal, pois estes jovens são os que mais tiveram direito a informações durante toda a história da humanidade, mas em contrapartida, são tidos como desatentos e desinteressados pelos professores. Além dos problemas de aprendizagem, há um outro fato igualmente importante ou até mais relevante que nos tira o sono: a violência na escola.
Sandro Caramaschi, especialista em relacionamento humano do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), fez uma pesquisa com os professores, na qual concluiu que todos os dias, alunos, professores e funcionários das escolas sofrem algum tipo de violência. De acordo com o relatório global feito pela PLAN, uma organização não-governamental, a cada dia, aproximadamente, um milhão de crianças passam por violência nas escolas em todo o mundo.
Tanto o desinteresse pelos estudos quanto os atos violentos praticados nas escolas é apenas o reflexo do caos social a que estamos submetidos. A sociedade enfrenta problemas que, antigamente, eram das famílias. Reflexo das conseqüências da ditadura. Os pais nem sempre colocam limites. Eles não querem ser autoritários, mas acabam empurrando para a escola a função de educar. As escolas, por sua vez, devolvem a responsabilidade para os pais. A expulsão de alunos foi, praticamente, extinta, avalia Caramaschi.
A sensação de impunidade promovida pelas escolas alimenta novas práticas violentas e de indisciplina tal como ocorre com o restante da sociedade. Não há diferença alguma. O fato é que a escola se tornou refém dos alunos. Tem receio de reprová-los, de puni-los, de exigi-los e assim proporciona uma série de medidas brandas visando não provocar mais evasões. Aliás, evasão escolar passou a ser um dos novos tendões de Aquiles dos estabelecimentos de ensino considerando que manter os educandos na escola faz parte das metas dos governantes, especialmente do Ministério da Educação e Governo Federal.
De acordo com Gabriel Chalita, Doutor em Educação, escritor e ex-secretário de Educação de São Paulo, o ato de educar exige habilidades dos professores que vai muito mais além do que transmitir conhecimentos. “Mesmo os países que conseguem obter notas altíssimas nas avaliações do PISA (Programa internacional de Avaliação Comparada), enfrentam problemas no cotidiano escolar como a ausência da prática de valores humanos que culminam com a violência, suicídios e chacinas”, disse o professor em um programa de televisão recentemente.
Se os problemas enfrentados nas escolas são reflexos do que ocorre na sociedade, não haveria como isentar os professores da responsabilidade que tem perante os seus alunos. O que esperar de professores que praticam atitudes antidemocráticas e terroristas dentro das escolas? Que agridem verbalmente os seus alunos? Que praticam o bullying escolar? Que cometem agressões físicas por convergências político-partidárias e que negociam provas com os alunos? Que se orgulham das práticas de pedofilia? Tal como nos limites que cercam os estabelecimentos escolares, professores, alunos e sociedade têm que refletir urgentemente a necessidade de pensar numa forma de educar em que as instituições de ensino e o restante da sociedade estejam intrinsecamente ligados, pois a prática de um reflete no outro, sem exceção.
*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br