Vácuo pós-moderno

Dizer sobre um momento que se está vivendo e nesse sentido, que se está percebendo, ao mesmo tempo que submete todos às imposturas: maneira de agir e de se vestir, comer ou qualquer outra coisa que os todos fazemos quando estamos em vida, ou atividade, mais adiante, na frente do computador, estamos envolvidos nessas coisas que ao mesmo tempo nos aproximam e que nos interpõe como que um muro de concreto que nos impede.

O que vem a ser este momento, o que acontece aos corpos submetidos a esse tempo–espaço? E as falas, os diálogos, os tempos, tudo embutido no que se está fazendo. E agora a distancia é outra, o tempo é outro. Podemos nos comunicar com alguém na China em tempo real. Até mesmo os neologismos são um tanto quanto distanciados, cibernéticos, teclados, conectados. Um certo estranhamento.

Um certo incômodo. E se tudo isso for o fim do moderno? Esse momento de substituições por coisas mais novas? Novidades? E se este momento for outro, mais indefinido, como um novo-moderno, neo-moderno que desta vez, mais elaborado e mais cáustico, deformando a figura humana para uma outra figura, muito mais eficiente que a primeira?

Que as maravilhas da modernidade não deixam de nos encantar. Seja pela vertigem na rapidez, das informações que causam prazer, seja pela vertigem outra de parecer o tempo correr mais acelerado, e de estarmos sempre atrasados pra não se sabe exatamente a quê.

Doidos de um lugar inexistente onde a figura lembrada do outro já não mais precisa de sua presença física e que neste momento exato, para sermos mais fiéis à realidade, estamos diante uma breve tela, que nos faz lembrar do outro, com a impressão mesma de se conhecer e de ser tão fácil estar em todo lugar que é tão seguro estar recebendo um mail à uma visita, uma correspondência, e tudo o mais com conhecidos ou desconhecidos, tanto faz. O homem já não está mais em seu lugar. Apenas pela sedução do conforto, trocamos humanidades por trechos de intensa luz. E difusa. Como as relações desse tempo.

Relações esvaziadas, “mas que a família implodiu, isso já sabemos, que dela restaram certa figura de homem, certa figura de mulher, ” e agora seres mais híbridos, com outras tendências sexuais que não apenas reprodutivas (máquinas celibatárias). Disso todo mundo comenta, ou tenta evitar, talvez.

Mas ta tudo ai: você abre a torneira e a tecnologia confortável está lá pra que você não se arrepie com a água gelada que vem direto do encanamento. A água e o calor são sempre mais confortáveis que o úmido e frio. Entretanto gentes (?) vivem nestes locais úmidos e frios. Cheios de pestilências, mas o que nos importa?! Tudo é tão distante, basta que mudemos o site para nos felicitarmos com outras coisas, Arte por exemplo.

A Arte é reflexiva, dialética e transita entre situações no tempo. Mas essa arte produzida, conectada, apresentada, pode distanciar-se e muito do que é vivo, que por Si, é úmido, quente. E isso não acaba, onde acaba.

Queremos que nunca acabe.

O homem sempre vai mais longe, afinal quando achávamos que havia acabado a guerra e as contendas, lá se vai uma bomba no Japão... e dias piores virão! Noites tenebrosas e horripilantes ainda estão por vir. Comandos da Capital sempre estão a seus postos com suas armas, suas miras são certeiras. E essa parte da realidade, que acontece no tempo real, isso não é nada reconfortante. Um caos se instaura no cotidiano, que prima por uma certa ordem e rotina. Aquários vivos são as cabeças humanas. Os pensamentos são carpas que em certo momento são pescadas e jogadas ao leu. Como o que é produzido por apenas não se ter o que fazer. Apatia cibernética.

Sociedade de consumo que se consome. Pós-industrial, sociedade da informação.

Apenas espero que em breve as ovelhinhas Dolly não tenham partes humanas. Espero que em breve, os humanos continuem assim, mais simples. Ou seja, humanos. Porém o homem sempre se supera. Ou descontrói, destrói para recompor, reciclar. Se reconecta.

Trechos inacabados de um tempo que continua. Novo, neo. Mas de uma figura humana que se decompôs, deteriorada, pós.

Fabiano Bueno Sampaio

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GUATTARI, Felix - Da produção da subjetividade. In: PARENTE, André (org.). Imagem-máquina: a era da tecnologia do virtual. 2º ed. Rio de Janeiro : Editora 34, 1996.

¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬___________________________ e ROLNICK, Suely – Micropolíticas. Cartografias do Desejo. São Paulo: Ed Vozes.

LEFREBVRE, Henri – Posição: Contra os Tecnocratas.

GIDDENS, Antony- As conseqüências da Modernidade. São Paulo: Editora Unesp, 1991

MAZORCHI, Samira Feldman – Temáticas, 9 (17/18), 2001 – revista dos pós-graduandos em ciências sociais IFCH UNICAMP in : A técnica e a estética da “conformação” ou para uma teoria da estética.