CAIC CARNAUBAL
Fiquei a pensar, esta semana, qual o papel do professor que labuta arduamente em escola da periferia da cidade. Terá ele a capacidade de ser algo mais, além de educador? Poderá ser segurança, policial, porteiro e apaziguador de distúrbios?
A realidade do CAIC Carnaubal nos permite dizer que sim. Lá nós somos obrigados a conviver com essas experiências extraclasses e, constantemente, fazemos esses papéis, de múltiplas funções, em prol da comunidade que frequenta o estabelecimento de ensino.
Pra começar, nós não temos segurança física, nem humana: a cerca que protege o espaço escolar, da rua, praticamente não existe. A segurança humana que ficou de vir, até hoje, não apareceu: porteiro para dar um pouco de segurança, ao menos, na entrada de acesso às dependências, não há. E assim, os turnos matutino e vespertino estão carentes.
As janelas das salas de aula já levaram, juntamente com o alumínio das mesmas, e a quadra de esportes funciona precariamente, já que também levaram a metade da parte elétrica (cobre). A proteção, que separa a quadra das outras dependências, também está gradativamente sumindo.
Aparelho de som, ventiladores, alumínios das cadeiras dos alunos, portas das salas internas, bebedouros, material de ginástica, vídeo-cassete, receptor de parabólica, geladeira, batedeira, bujão de gás, liquidificador industrial, dentre outras coisas, tanto tenha como levam. Tentar tirar os desocupados do interior da quadra e evitar que eles mantenham um contato direto com nossos alunos é tarefa constante e diária. Muitos adentram às dependências da escola (através da abertura das janelas) e, ousadamente, vão beber água do bebedouro destinado aos alunos, no primeiro andar - muitos deles, totalmente, drogados e agressivos. Ameaças todos nós já recebemos e o mínimo que nos falam é que “a escola é deles e nós devemos ficar calados diante de tudo.”
A ronda policial, quando é chamada, vem e os retira, mas quando os mesmos vão cumprir outras tarefas preventivas, eles voltam e apedrejam as salas de aula. O pior de tudo é que, quando eles decidem por acabar com as aulas, arrombam a caixa de força e desligam a chave geral. Manter a criança e o adolescente aluno nas atividades recreativas, longe dos mesmos, é um exercício desgastante, mas, mesmo assim, a classe estudantil assiste a cenas degradantes de pleno consumo de substâncias proibidas, isto, em plena luz do dia. É revoltante, pois já perdemos alguns bons alunos para os mesmos.
Muitos educadores não resistem às pressões e optam por pedirem remoção e alguns por serem ameaçados individualmente (como foi o caso de uma professora que foi ameaçada com uma faca peixeira – dessa vez por um aluno que continua lá, no turno noturno). Esse mesmo aluno, diante da impunidade adquirida, encostou (pasmem!) um revólver na cabeça de outro professor, na sala de aula e diante dos demais alunos, causando neste professor, até hoje, problemas de origem nervosa.
Portanto, o trabalho desenvolvido pelos educadores no CAIC Carnaubal é de alto risco e, para completar, meia dúzia de alunos insatisfeitos com a atual diretora – eleita pelo voto direto e, consequentemente, pela maioria dos professores, funcionários, parte da comunidade escolar (pais) e alunos – estão tentando promover desordens (chegando, esta semana, a agredir, fisicamente, a própria com um empurrão – pasmem novamente –agressão praticada pelo mesmo aluno da faca peixeira e do revólver) insatisfeitos com a derrota de seu candidato e por terem seus privilégios cortados, tais como: festas noturnas nas dependências da escola, regadas a bebidas alcoólicas e manutenção das regalias adquiridas com a administração (da parte da escola) anterior.
Interessante notar nisso tudo é que, disciplina, organização e intuito de promover o bem estar social dessa comunidade carente, para alguns, é sinônimo de perda e atraso. Porém, os que lá se encontram estão decididos a mudar essa realidade, mesmo sendo ameaçados e servindo em múltiplas funções, com o objetivo único de promover uma mudança para melhor, oferecendo, mesmo diante de toda essa precariedade, além das aulas curriculares, cursos profissionalizantes para a comunidade, dentre eles: tapeçaria, crochê, tricô, ponto de cruz, pintura, violão, cavaquinho, flauta, bijuteria, capoeira, futsal, vôlei, ginástica, danças folclóricas, aulas de reforço, para os filhos dos senhores que estão matriculados nessas atividades, além de preparar os alunos, que estão no ou terminaram o 3º ano do Ensino Médio, para o Vestibular.
Inúmeros ofícios já foram mandados solicitando providências - seja para uma reforma estrutural, colocando um muro ao redor do estabelecimento, grade nas janelas do primeiro andar para impedir a invasão dos vândalos e, consequentemente, a subtração de material e objetos pertencentes ao mesmo; revisão da parte hidráulica (a caixa d’água desperdiça uma boa parte através dos seus canos e tubos) e elétrica (a fiação, interruptores e caixas não funcionam adequadamente, mesmo através de “gambiarras”, que estão expostas, levando até mesmo perigo para o alunado); seja para dar uma maior segurança aos que frequentam, através de policiamento ostensivo e/ou segurança privada, como forma de coibir a entrada de estranhos e marginais.
O Educador é, antes de tudo, um abnegado pelo que desempenha; por isso, ele se desdobra, sacrifica-se e luta pelos ideais de promover o conhecimento e o saber para as futuras gerações e não será um pequeno obstáculo que o fará desanimar ou desistir da caminhada.
Nota do autor: Este artigo foi publicado no Jornal Gazeta do Oeste, no dia 02 de abril de 2006 e, de lá para cá, muita coisa mudou - para pior, claro! A única notícia boa é que, depois de várias tentativas, o aluno que puxou “faca peixeira” e revólver para professores, além de empurrar a diretora contra a grade de proteção do hall de entrada, foi, finalmente, transferido. No restante, de lá para cá, nenhuma reforma foi feita, pelo contrário, os donos do alheio acabaram de levar o restante da fiação das salas de aula e a caixa d’água, que antes ainda armazenava uma quantidade suficiente que dava para se fazer a merenda, não serve mais (a caixa d’água está condenada somente há nove anos!), o que significa escola e creche, também, sem água. E, a quadra de esportes, já está praticamente sem o teto, de tanto eles levarem o alumínio da mesma.
Obs. Imagem retirada do blog de PáduaCampos.com.br
Fiquei a pensar, esta semana, qual o papel do professor que labuta arduamente em escola da periferia da cidade. Terá ele a capacidade de ser algo mais, além de educador? Poderá ser segurança, policial, porteiro e apaziguador de distúrbios?
A realidade do CAIC Carnaubal nos permite dizer que sim. Lá nós somos obrigados a conviver com essas experiências extraclasses e, constantemente, fazemos esses papéis, de múltiplas funções, em prol da comunidade que frequenta o estabelecimento de ensino.
Pra começar, nós não temos segurança física, nem humana: a cerca que protege o espaço escolar, da rua, praticamente não existe. A segurança humana que ficou de vir, até hoje, não apareceu: porteiro para dar um pouco de segurança, ao menos, na entrada de acesso às dependências, não há. E assim, os turnos matutino e vespertino estão carentes.
As janelas das salas de aula já levaram, juntamente com o alumínio das mesmas, e a quadra de esportes funciona precariamente, já que também levaram a metade da parte elétrica (cobre). A proteção, que separa a quadra das outras dependências, também está gradativamente sumindo.
Aparelho de som, ventiladores, alumínios das cadeiras dos alunos, portas das salas internas, bebedouros, material de ginástica, vídeo-cassete, receptor de parabólica, geladeira, batedeira, bujão de gás, liquidificador industrial, dentre outras coisas, tanto tenha como levam. Tentar tirar os desocupados do interior da quadra e evitar que eles mantenham um contato direto com nossos alunos é tarefa constante e diária. Muitos adentram às dependências da escola (através da abertura das janelas) e, ousadamente, vão beber água do bebedouro destinado aos alunos, no primeiro andar - muitos deles, totalmente, drogados e agressivos. Ameaças todos nós já recebemos e o mínimo que nos falam é que “a escola é deles e nós devemos ficar calados diante de tudo.”
A ronda policial, quando é chamada, vem e os retira, mas quando os mesmos vão cumprir outras tarefas preventivas, eles voltam e apedrejam as salas de aula. O pior de tudo é que, quando eles decidem por acabar com as aulas, arrombam a caixa de força e desligam a chave geral. Manter a criança e o adolescente aluno nas atividades recreativas, longe dos mesmos, é um exercício desgastante, mas, mesmo assim, a classe estudantil assiste a cenas degradantes de pleno consumo de substâncias proibidas, isto, em plena luz do dia. É revoltante, pois já perdemos alguns bons alunos para os mesmos.
Muitos educadores não resistem às pressões e optam por pedirem remoção e alguns por serem ameaçados individualmente (como foi o caso de uma professora que foi ameaçada com uma faca peixeira – dessa vez por um aluno que continua lá, no turno noturno). Esse mesmo aluno, diante da impunidade adquirida, encostou (pasmem!) um revólver na cabeça de outro professor, na sala de aula e diante dos demais alunos, causando neste professor, até hoje, problemas de origem nervosa.
Portanto, o trabalho desenvolvido pelos educadores no CAIC Carnaubal é de alto risco e, para completar, meia dúzia de alunos insatisfeitos com a atual diretora – eleita pelo voto direto e, consequentemente, pela maioria dos professores, funcionários, parte da comunidade escolar (pais) e alunos – estão tentando promover desordens (chegando, esta semana, a agredir, fisicamente, a própria com um empurrão – pasmem novamente –agressão praticada pelo mesmo aluno da faca peixeira e do revólver) insatisfeitos com a derrota de seu candidato e por terem seus privilégios cortados, tais como: festas noturnas nas dependências da escola, regadas a bebidas alcoólicas e manutenção das regalias adquiridas com a administração (da parte da escola) anterior.
Interessante notar nisso tudo é que, disciplina, organização e intuito de promover o bem estar social dessa comunidade carente, para alguns, é sinônimo de perda e atraso. Porém, os que lá se encontram estão decididos a mudar essa realidade, mesmo sendo ameaçados e servindo em múltiplas funções, com o objetivo único de promover uma mudança para melhor, oferecendo, mesmo diante de toda essa precariedade, além das aulas curriculares, cursos profissionalizantes para a comunidade, dentre eles: tapeçaria, crochê, tricô, ponto de cruz, pintura, violão, cavaquinho, flauta, bijuteria, capoeira, futsal, vôlei, ginástica, danças folclóricas, aulas de reforço, para os filhos dos senhores que estão matriculados nessas atividades, além de preparar os alunos, que estão no ou terminaram o 3º ano do Ensino Médio, para o Vestibular.
Inúmeros ofícios já foram mandados solicitando providências - seja para uma reforma estrutural, colocando um muro ao redor do estabelecimento, grade nas janelas do primeiro andar para impedir a invasão dos vândalos e, consequentemente, a subtração de material e objetos pertencentes ao mesmo; revisão da parte hidráulica (a caixa d’água desperdiça uma boa parte através dos seus canos e tubos) e elétrica (a fiação, interruptores e caixas não funcionam adequadamente, mesmo através de “gambiarras”, que estão expostas, levando até mesmo perigo para o alunado); seja para dar uma maior segurança aos que frequentam, através de policiamento ostensivo e/ou segurança privada, como forma de coibir a entrada de estranhos e marginais.
O Educador é, antes de tudo, um abnegado pelo que desempenha; por isso, ele se desdobra, sacrifica-se e luta pelos ideais de promover o conhecimento e o saber para as futuras gerações e não será um pequeno obstáculo que o fará desanimar ou desistir da caminhada.
Nota do autor: Este artigo foi publicado no Jornal Gazeta do Oeste, no dia 02 de abril de 2006 e, de lá para cá, muita coisa mudou - para pior, claro! A única notícia boa é que, depois de várias tentativas, o aluno que puxou “faca peixeira” e revólver para professores, além de empurrar a diretora contra a grade de proteção do hall de entrada, foi, finalmente, transferido. No restante, de lá para cá, nenhuma reforma foi feita, pelo contrário, os donos do alheio acabaram de levar o restante da fiação das salas de aula e a caixa d’água, que antes ainda armazenava uma quantidade suficiente que dava para se fazer a merenda, não serve mais (a caixa d’água está condenada somente há nove anos!), o que significa escola e creche, também, sem água. E, a quadra de esportes, já está praticamente sem o teto, de tanto eles levarem o alumínio da mesma.
Obs. Imagem retirada do blog de PáduaCampos.com.br